em conta que a experiência a fazer com a transformação do Hospital da Rainha D. Leonor e seu centro termal pudesse servir como ponto de partida e estimulo para a transformação da rede das estâncias termais portuguesas. Do conjunto das vistas e contactos realizados em hospitais e estâncias termais estrangeiros pôde então concluir-se: Que estamos parados, enquanto os outros correm; Que as águas das principais estâncias visitadas na Europa não suo melhores nem têm mais virtualidades do que as nossas e que procuram potencializá-las, associando à acção puramente hidroterápica métodos de reabilitação e recuperação e que, com o sentido de as valorizar e as adaptar à evolução do tempo presente, fazem também investigação; Que, paralelamente com a elevação técnica das estâncias, há, como problema inerente, A sua elevação turística. E que o doente que procura uma estância termal beneficia não só da acção terapêutica das águas, mas também do ambiente local.

O Hospital da Rainha D. Leonor, das Caldas da Rainha, pode e deve ombrear com os melhores centros, se não em luxo e movimento, pois que os referidos se localizam em países grandes e populosos ou beneficiam de situação geográfica que lhes permite a frequência de povos vizinhos, ao menos em eficiência, em trabalho probo e em resultados.

Tem, para tal, água com notáveis propriedades e caudal bastante (2 000 000 l diários). Beneficia, por outro Lado. de excelente localização, no Centro do País, a 80 km de Lisboa, e numa região de apreciáveis belezas naturais. A este propósito, Ramalho Ortigão escreveu:

A circunstância que dá às Caldas da Bainha a sua grande superioridade sobre todos os lugares de vilegiatura, ainda os mais afamados em Portugal, como Sintra, como o Buçaco, como o Bom Jesus de Braga, é que esta terra é o centro da mais artística, da mais histórica, da mais pitoresca região de todo o País.

Em nenhum outro lugar se proporcionam aos turistas mais rápidas e mais fáceis excursões encantadoras de arte e arqueologia. Assim é, na verdade, "partindo da cidade, é possível apreciar o rendilhado das rochas dos Remédios, em Peniche, usufruir o prazer desse passeio as Berlengas, conhecer Santa Cruz e Areia Branca, admirar a paisagem do Castelo de Óbidos, viver nesta vila nobilíssima o recolhimento espiritual e a religiosidade dos seus templos, espraiar a vista dos píncaros da Nazaré, colher a surpresa do irreal, que é u perfeita concha de S. Martinho e Foz do Arelho, entrar no pó dos tempos mais arredados evocando D. João I, na Batalha, D. Dinis, nas muralhas de Leiria, rezar no Santuário de Fátima, meditar no silêncio do Convento de Cristo, em Tomar".

Caldas da Rainha é centro de irradiação de uma região de enormes recursos, onde tudo cabe: termas famosas, praias de mar, indústrias características, frondosas matas, tranquilas lagoas, tudo, enfim, quanto é necessário para proporcionar um turismo rodeado de circunstâncias aliciantes, a justificar a estada demorada que preencha um grande período de férias.

Vozes: - Muito bem!

U Orador: - Caldas da Rainha, cidade acolhedora e de [ilegível] turísticos admiráveis deve a sua existência ao Hospital Termal, e ligado a ele tem estado o seu desenvolvimento. Não admira, pois, que a gente desta cidade; viva as suas glórias e sinta na sua própria carne os seus atrasos e os seus males.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente e Srs. Deputados: Sinto que não tenho o direito de me alongar mais, e até porque: era meu modesto propósito apenas chamar a atenção do Governo para a situação de quase abandono a que tem sido votado o Hospital Termal da Rainha D. Leonor, que bem podia e merecia ser, na sua qualidade, modelo em todo o País, como centro de cura, de recuperação, de repouso, de investigação e exemplo da prática do termalismo social.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Podemos afirmar, em verdade, que o termalismo social tem sido desde a sua fundação um atributo tradicional e exclusivo daquele Hospital. A sua ilustre fundadora imprimiu-lhe nessa época uma característica inconfundível, destinando-o, sobretudo, aos pobres e, economicamente débeis. Cremos, pois, que legítima e orgulhosamente pode reivindicar a primazia nesta modalidade de assistência termal.

A Sr.ª D. Raquel Ribeiro: - Muito bem!

O Orador: - Parece ser mais do que tempo para que as nossas estâncias deixem de ser apanágio dos abastados e dos ricos. Se a terapêutica termal representa um valor económico pela recuperação para um trabalho mais produtivo de indivíduos deficientes, então procure-se que o Estado fomente esse valor, permitindo a sua utilização por aqueles a quem se tem chamado economicamente débeis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta medida parece-nos de capital interesse para o progresso das nossas estâncias termais nesta hora do social.

Já que o Governo, através do Ministério da Saúde e Assistência, em 15 de Março de 1962, determinou que o Hospital Termal da Rainha D. Leonor passasse a funcionar como unidade hospitalar termal em actividade permanente e ainda porque no mesmo ano o elevou a categoria de Hospital Central da Zona Sul, na qualidade de termal, importa que encare muito a sério e imediatamente a sua total elevação.

Assim, aqui sugerimos ao Governo que nomeie uma comissão que integre elementos dos Ministérios da Saúde e Assistência, das Corporações, dos Obras Públicas e da Economia, da Secretaria de Estado da Informação e Turismo e da própria direcção do Hospital e ainda outros elementos que se venha a julgar necessário para o estudo da planificação das modificações a introduzir, a fim de se obter a elevação técnica da estância em moldes actualizados, sem prejuízo das suas características tradicionais e nacionais; o estudo de adaptação do actual edifício hospitalar e, ainda, a construção de um novo edifício destinado apenas n balneário da estância termal, e por fim, o estudo da sua elevação turística, que deverá caminhar paralelamente com a sua reorganização técnica.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.