levou a escolher e, depois, a sustentar a acção desenvolvida por esse extraordinário obreiro da regeneração portuguesa do nosso tempo não é, com certeza, o menor dos títulos que o torna credor da gratidão do Pais.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Os povos não vencem os seus momentos de crise se não vencem primeiro o torvelinho das suas discórdias internas. Todo o trabalho será improfícuo se se deixar de ver a necessidade de regimes estáveis que, além de assegurarem e garantirem o progresso económico e social, permitam que se estudem e equacionem os grandes problemas nacionais em clima de perfeita ordem e de absoluta tranquilidade.
Foi esse objectivo que sempre prosseguiu o marechal Carmona, tentando, e conseguindo, harmonizar os imperativos da ordem com a liberdade de cada um - os dois eternos termos da equação política-, sendo da concorrência de ambos que resultam as nações fortes e felizes e os governos vitoriosos das crises e dificuldades.
A clarividência, a prudência, o excelente tacto político e a alta nobreza moral do marechal tornaram possível a continuidade da acção governativa e, com ela, o aparecimento das infra-estruturas indispensáveis ao desenvolvimento do País.
Já em 1934, ao falar ao distinto jornalista e homem de letras que é Leopoldo Nunes, o marechal Carmona lhe podia dizer:
Não lhe escondo, por exemplo, o orgulho que senti, há dias, na inauguração do porto de Setúbal, documento admirável do que vale a continuidade governativa [. . .]; é belo, consolador, empolgante, poder assistir, em quatro anos, ao lançamento da primeira e da última pedra de uma obra tão grandiosa.
E era o começo apenas.
Recordando a memória- do marechal Carmona, não posso deixar de referir aqui a muita gratidão que lhe ficou devendo o distrito de Setúbal, que nesta Assembleia tenho a honra de representar. Foi ele quem, em 22 de Dezembro de 1926, assinou, como Presidente do Conselho, o Decreto n.° 12 870, que criou aquele distrito. Ali foi muitas vezes, e dessas visitas todos guardamos a melhor e a mais grata das recordações.
Estas breves palavras de justiça e gratidão, que imperativos de consciência me impuseram proferir, envolvem também a afirmação de um exemplo:, o de ele ter sabido manter, através dos tempos, intacta a substância, a natureza e o espírito da comunidade nacional, em toda a sua extensão material e moral.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Será sempre com natural emoção que se hão-de recordar as palavras que proferiu ao pisar pela primeira vez a terra portuguesa de Angola, quando, em 1938, ali se deslocou como Chefe do Estado:
Com a certeza de que fala, pela minha voz Portugal inteira - a passado e o presente, os vivos e os mortos -, evoco todos os obreiros da grandeza da Pátria, marinheiros, militares, missionários, fazendeiros, mercadores, e, permite Deus e os homens, declaro que Portugal seguirá nos caminhos imortais da sua vocação apostólica de povo civilizador, e proclamo, neste lugar sagrado da Pátria a unidade indestrutível e eterna de Portugal de aquém e de além-mar.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Estas palavras, proferidas em tão solene momento, não ditadas por passageiros ventos da História, mas pêlos eternos e irreversíveis sentimento da Nação, valem como um testemunho, que ainda hoje parece ecoar em toda a sua grandeza e em todo o seu significado.
Assim via o marechal Carmona a Nação Portuguesa, na sua unidade e na sua perenidade.
E corto já aqui as minhas considerações.
A Pátria não é bandeira de partido nem privilégio de casta, pertence a todos. Que todos a saibam servir com desinteresse absoluto e devoção total em cada momento da sua história, como a serviu o homem que neste momento recordamos.
Esta, creio, foi a lição que ele nos legou, com a sua vida exemplar.
Lembremo-lo.
Vozes: - Muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Almeida Coita: - Sr. Presidente: Antes de findar a primeira sessão desta legislatura, sinto o dever aliado ao prazer, de manifestar a V. Ex.ª, Sr. Presidentes o testemunho do nosso elevado apreço pelo aprumo, dignidade e cordialidade com que tem conduzido os trabalhos desta Assembleia.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Igualmente nos é extremamente agradável referir a desejável convivência que se tem estabelecido entre os membros de uma casa como esta - lar da grande família portuguesa, onde a vivacidade, uma ou outra nota de humor, de nervosismo ou de exaltação, se explicam pelo calor e entusiasmo postos na ponderação dos temas que aqui se têm debatido ou suscitado, onde a hostilidade não tem abrigo, mas somente a reflexão, o pensamento sincero, debruçado sobre os superiores interesses nacionais. Nem amigos, nem inimigos, apenas, enquanto Deputados, fieis intérpretes desses interesses e colaboradores leais de quem tenha de os defender.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E é realmente estimulante verificar que esta Assembleia se haja mostrado tão profundamente interessada no exame de alguns dos muitos, variados e complexos problemas da administração pública, sinal de vida, de dinamismo, de zelo, de preocupação pelo bem comum, sintoma do salutar desejo de bem interpretar e compreender as necessidades gerais, as realizações necessárias, a confiança nas virtualidades da doutrina e da acção em que todos comungamos e estamos empenhados.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Estes esforços serão admiráveis e estes Anseios constituem certamente poderosa força impulsionadora se não for esquecida a ordem que terá de presidir n qualquer actividade criadora, uma disciplina mental capaz de sacrificar o particular no geral, o secundário ao essencial, capaz de manter e cultivar orgulhosamente o respeito pêlos valores autênticos, simbólicos; ou reais, materiais ou espirituais, sejam eles herança do passado, conquista do presente, promessa do futuro, porque os povos sem memória, e até as pessoas, podem errar pelo Mundo sem se darem contas dos caminhos percorridos.