nunca teria acorrido se organização drástica, que talvez fosse muito de discutir, não tivesse reservado para os dinheiro s públicos tão grande quinhão.

Neste sentido, e já que de outra forma parece ser tão difícil ou mesmo impossível, virmos a ter, nos prazos que nos são imperativos, genuínas sociedades anónimas em que todos possamos confiar, vejo com muita esperança a ideia da promoção de sociedades mistas expressa no artigo 17.º

Já a expressão «elevada rentabilidade» que consta do artigo 18.º me mereceria alguns reparos. Em primeiro lugar, porque aparece derivada de estudos técnico-económicos a que o texto parece dar um carácter de absoluto, quando é certo que, no mundo de hoje e sobretudo no pouco controlável espaço económico que se nos prepara, um estudo que é absolutamente certo hoje poderá ser absolutamente errado amanhã. Já vivi tempo suficiente para repetidamente o verificar.

Por outro lado, que o Estado não reserve para si, como alguma vez poderá ter acontecido, os campos onde essa elevada rentabilidade é possível e o risco controlável, deixando para o público só os maus negócios, que o podem fazer descrer ainda mais, se é possível, no investimento industrial.

Que fique bem expresso que só seremos ricos quando a poupança privada procurar de bom grado o investimento reprodutivo. Numa região, por exemplo, como o distrito do Porto, em que, apesar das montanhas e das pedras, o povo vive a bem mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado, não haverá certamente economista nenhum, por mais arrojado, que se atreva a prometer abundância sem industrialização. A única alternativa conhecemo-la nós muito bem: emigrar... E que a industrialização hoje não é campo para sonho e poesia, demonstram-no à saciedade, e infelizmente, exemplos bem frisantes e bem recentes. Não são os sem-camisa que podem fazer indústria nos tempos para que vamos. É uma das verdades em que tem de assentar qualquer política de desenvolvimento.

É preciso muito dinheiro, e só a sociedade anónima, privada ou mista - não o quero discutir aqui, mas verdadeira sociedade anónima, aberta e séria - poderá no nosso sistema económico resolver o problema da capitalização do investimento de que necessitamos. Dignificando-a e regulamentando-a, defendendo até às últimas consequências a pequena poupança, que é sangue, o Governo cumprirá o seu dever e bem merecerá da Nação. Acima de tudo, é o que desejamos e do que precisamos!

Mais difícil será ainda, penso, porque tenho vivido, a reorganização de empresas em que nos falam a alínea c) do n.º 2 do artigo 13.º e alínea b) do artigo 20.º A estrutura de onde se parte não é boa, nem é fácil. Mais do que com interesses - que esses, infelizmente, na maioria dos casos, nem são grandes - mexe muito com homens.

Que se faça um esforço, sim, para melhorar o que está mal é mais do que louvável, mas que não seja esquecido nunca que os homens são homens e que, como homens, devem ser tratados. No entanto, difícil ou fácil, é bem mais do que necessário melhorar o que está mal!

Mal está também, em nosso entender, se é que alguma coisa se p no Ocidente a todo o transe. Como também - e suponho isto muito importante - as chancelarias comerciais das nossas representações diplomáticas por certo terão alguma coisa que aprender com as suas rivais dos mesmos países.

Hoje, se produzir em boas condições económicas nem sempre é fácil, vender é o ainda muito menos. Teremos de voltar a ser os comerciantes que um dia fomos se quisermos libertar o nosso trabalho do ónus de interesses que não podemos comandar. E o papel do Estado Português, como, pela frente ou por trás da «cortina» o de todos os Estados modernos, tem de ser do mais poderoso auxílio neste campo. Aqui fica a minha importante solicitação.

Vou mais longe do que quis, e não me atreveria a dizer mais nada se não fosse para exprimir o meu maior agrado por, finalmente, ver expressa, de forma bem vinculante e bem imediata, já que a lei vige apenas em 1970, uma política de desenvolvimento regional.

Sempre pensei que o fosso dualista em que temos vivido é a causa mais profunda da insuficiência económica de um povo que, conheço-o bem, merece muito mais. Nisto manifesto o meu desacordo do que se diz a p. 14 do parecer dos Dignos Procuradores.

Acreditando no valor da meditação, penso que nos falta um pouco, e, por isso, no único escopo de ajudar a ver até onde uma política regional equilibrada nos levaria ou teria levado, deixo aqui à consideração de VV. Ex.ªs, quase como se de exame de consciência se tratasse, apenas duas perguntas muito simples.

A primeira é se VV. Ex.ªs já pensaram bem que, dos sete ou oito países da E. F. T. A., em população, somos de longe o segundo, mesmo sem necessidade de adicionarmos aos portugueses da Europa os de além-mar.

A segunda é se já pensaram no mercado que teriam as nossas pobres indústrias se o nível de vida de todos os portugueses, vivam eles em Bragança ou Beja, fosse igual, não me atrevo a dizer já ao de outros países da Europa, mas apenas ao dos habitantes de Lisboa.

generalidade à lei de autorização de receitas