de um todo, embora haja, sim, que estudar as fórmulas pelas quais se deve processar a sua integração ou os métodos económicos e políticos que regem a sua administração.

Está tudo certo, Sr. Deputado.

A profunda marca ultramarina da nossa política não deixará nunca de influir nas resoluções desta digna Assembleia.

Na verdade, e no prosseguimento de um programa de verdadeira opção traçado pelo Presidente do Conselho e aprovado pelo eleitorado, estou certo de que esta Câmara nem por um momento deixará de ter presente a sua razão primeira de existir - a integridade nacional.

As várias posições tomadas até agora são disso salutar exemplo.

Habituado às lides universitárias, venho agora entrar neste hemiciclo onde se debatem os problemas cimeiros da política e da administração nacionais.

Para começar, permita-me, Sr. Presidente, salientar que a maior parte da população portuguesa só muito longínqua e resumidamente está presente nesta Assembleia.

Como D eputado pela gigantesca província de Moçambique, não posso deixar de lamentar a nossa reduzida representação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em política, como na vida, temos de ser coerentes.

Espero que se venham a corrigir certas anomalias que, com grande surpresa nossa, nem nesta época de renovação foram sequer apontadas.

Tomo a liberdade de salientar que cerca de 13 milhões do nosso povo estão ameaçados de liquidação total, e as empresas que a tentam processar podem ter aqui na metrópole as suas sucursais.

Estive atento durante a campanha eleitoral, e, perante a imensidão moçambicana, que cerca de 8 milhões de almas povoam, faz muita impressão a curteza de vistas e a pequenez de alma de muitos dos que na metrópole levantaram a sua voz. Ainda não deram conta de que Portugal é grande.

Não estranhareis certamente que, como novato, aproveite este período antes da ordem do dia para vincar a minha conduta, sumarizar o meu pensamento.

Estou aqui com a mesma noção de um dever a cumprir, como fazem os nossos camaradas que se batem na frente. Actuarei sempre com os olhos postos nos seus sacrifícios, de forma a honrá-los.

É dentro deste espírito e dos direitos que o Regimento nos confere que me permito chamar a atenção do Governo para o nível do vencimento e dos salários dos que labutam no ultramar.

Na verdade, o quase nivelamento que actualmente se verifica leva a que a metrópole se junte aos territórios que em África nos são vizinhos na concorrência que nos movem, roubando-nos os melhores técnicos.

Sem técnicos não há desenvolvimento, sem desenvolvimento não há povoamento e sem este não haverá segurança duradoura, nem paga para o sacrifício que a Nação está a fazer no ultramar.

Ultramar e juventude são duas realidades inseparáveis, direi mesmo, se me permitem, são as duas únicas razões da nossa existência livre.

Quanto ao primeiro, temos obrigações históricas a cumprir, realidades objectivas a defender e um brilhante futuro a construir.

Quanto à juventude, é preciso que lhe ofereçamos algo de muito nobre para que nos acredite. É indispensável aprender com ela a dar generosamente, evitando o habitual espírito de profundo egoísmo que caracteriza o adulto.

A juventude é a nossa maior riqueza.

Não se admirem, portanto, que tenha muitas vezes de levantar a minha voz em sua defesa.

É para mim um problema de família, e, como universitário, um problema da família universitária.

Os agregados humanos evoluem criando e elevando os seus órgãos comunitários.

Os homens emprestam a sua formação às instituições e estas garantem às sociedades humanas a sua continuidade.

É por isso que entendo que desprestigiar as instituições, sejam elas quais forem, não dignifica um governo, nem contribui para a felicidade do povo.

A título de exemplo, estou neste momento a lamentar o conteúdo do Decreto n.º 48 879, que tão duramente atingiu as Faculdades de Medicina na sua dignidade, especialmente com os seus dois primeiros artigos.

Como professor de uma Faculdade de Medicina, solidarizo-me com todos aqueles que, de uma forma ou de outra, exteriorizaram o seu protesto.

Este assunto não constitui tema de um aviso prévio, é antes uma tomada de posição, é uma definição de princípios para uma discussão que, estou certo, não deixará de ser levantada nesta Câmara.

A Universidade está em crise e com ela o País em perigo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Perdoe-me V. Ex.ª o tom das minhas palavras, mas habituei-me desde longa data a imprimir-lhes a vivacidade, a realidade de quem julga seguir os rectos caminhos da verdade e imagina estar inibido de um espírito de missão.

Ao exprimir assim as minhas opiniões não me julgo depositário da verdade, move-

-me antes o sincero, desejo de contribuir para o estudo dos caminhos que a ela conduzem.

A este propósito, assistimos no mundo de hoje a movimentos que pretendem tudo destruir para reconstruir sobre os escombros.

Fala-se muito de revolução, pois já não se acredita na evolução.

Contudo, quer queiramos, quer não, não somos uma mutação biopsicológica do homem, mas representamos uma espécie em evolução, forçosamente apoiada na experiência das gerações antecedentes e, portanto, seguindo um processo evolutivo que, do ponto de vista biológico ou psicológico, só pode considerar a revolução como um mero incidente sem significado representativo.

Como preconizou um dos nossos maiores, de quem aprendi a lição, procurarei usar a linguagem simples da verdade, no prosseguimento de uma política de verdade, contra outra de segredo e de mentira.

Durante estes últimos anos, em que, por imperativo de consciência, vivi para a saúde e segurança dos que combatem em África, vi muitos doentes, alguns mutilados, mas todos tendo marcas na carne e na alma da dureza da batalha.

Alguns podiam ser vossos filhos, e Deus permita que se os meus ou os vossos tiverem a honra de se bater pela Pátria regressem imunes.

Numa terra onde tudo cumpre o dever, julgo que a Universidade em Moçambique tem sabido integrar-se no