desejem conhecer e habilitar-se a discuti-lo com mais propriedade.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Meus senhores: Sou por definição um homem pacífico e apologista de soluções pacíficas e conciliatórias. Não faço, pois, a apologia da guerra. E acho que se devei fazer tudo para se lhe pôr cobro o mais rápido possível e com o menor dispêndio. Entendo ainda que a maior defesa da guerra é .exactamente o fomento. Mas, se há quem nos imponha a luta, não sou eu que aconselhe ou aceite que se lhe volte a cara.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Nogueira Rodrigues: - Sr. Presidente: Havia proposto a mim mesmo não efectuar qualquer intervenção antes que a habituação, que me falta, das lides parlamentares tivesse produzido em mim o efeito que só a experiência, aliada à reflexão, dá, com o conhecimento exacto das coisas, das situações.
Circunstância extremamente particular, surgida do meu entendimento, tirado de argumentos usados em últimas intervenções, não consente que mantenha o meu propósito, e só por isso solicitei a V. Ex.ª que me fosse concedida a palavra.
Cumprindo gostosamente um dever, que está muito no jeito da minha maneira de ser, cumprimento, por mim próprio e por todos quantos em Angola me confiaram o mandato de os representar nesta Assembleia, cumprimento, dizia, muito respeitosamente V. Ex.ª, Sr. Presidente. Do mesmo modo o faço dirigindo-me a VV. Ex.ªs, Srs. Deputados.
Prometo-lhes a mais leal e franca colaboração. Torna-se por de mais desnecessário, pois que é dever que a todos obriga na contrapartida do crédito que os outros nos concedem.
Sr. Presidente: Ficaria de mal com a minha consciência se lhe não manifestasse também o meu muito apreço pela vigorosa personalidade de V. Ex.ª, que tem transmitido a esta Assembleia a ordem por que todos ansiamos. Único ambiente capaz de produzir trabalhe válido que a Nação, de olhos postos nesta Casa, espera e necessita seja realizado.
Conhecendo a urgência que V. Ex.ª tem em entrar na ordem do dia, sem prejuízo de, em futuro próximo voltar a intervir, prometo a V. Ex.ª que serei breve.
Srs. Deputados: Estão VV. Ex.ªs bem lembrados de que, ainda há não muito tempo, em pleno debate eleitoral, certas afirmações produzidas acerca das províncias ultramarinas criaram perturbações tão graves que nós, em Angola, nos interrogávamos se as opiniões então expandidas traduziam o pensamento das populações da metrópole ou eram ditadas apenas pela preocupação de quem as proferia de agradar aos que, de fora, nos in vejam e aguardam o momento de nos encontrarem divididos para lançarem mão de tão cobiçada presa.
Será tamanha a ingenuidade de uns quantos, que disso se não tenham apercebido?
Talvez não! O que julgo é que existe ainda, e dado que o que atrás refiro se passou há tão bem pouco tempo, uma grande perturbação em certos espíritos.
Respeitosa e atentamente ouvi durante os últimos dias as opiniões de VV. Ex.ªs justificando a concordância ou discordância acerca da proposta de lei de meios para 1970, que vem sendo apreciada dentro da ordem do dia.
Confesso a VV. Ex.ªs que em alguns dos casos o meu espírito não deixou de ficar perturbado, sobretudo quando os dispêndios com a guerra do ultramar de uma ou de outra forma eram referidos.
Desculpem VV. Ex.ªs a minha franqueza, dizendo-lhes que quando é referido que estamos fazendo a guerra no ultramar estamos cometendo um erro tremendamente grosseiro.
Nós não estamos fazendo a guerra a quem quer que seja! Estamos promovendo a defesa - a nossa defesa -, a defesa de valores, dos mais sagrados que temos, a defesa da integridade da Pátria.
Não estamos fazendo guerra no ultramar, mas exclusivamente defendendo populações de todas as etnias, que, não tendo sempre o meu tom de pele, não deixam de ser filhos da mesma Pátria, pois que nasceram sob a mesma bandeira sagrada.
Não estamos fazendo a guerra, repito, há aqui um erro tremendamente grosseiro!
Estamos, sim, fazendo um esforço enorme, procurando a paz que todos ardentemente desejamos, para que seja depois feito um esforço ainda maior, desde o social ao económico. E neste importantíssimo aspecto que estamos todos empenhados, está o nosso país inteiramente empenhado.
Gastos com essa defesa? Mas como não? Pelo artigo 53.º da Constituição Política portuguesa, «o Estado assegura a existência e o prestígio das instituições militares de terra, mar e ar exigidas pelas supremas necessidades de defesa da integridade nacional e da manutenção da ordem e da paz pública».
Ninguém mais do que aqueles que como eu nasceram no ultramar, como acontece já com meus filhos, deploram o esforço enorme que se vem fazendo no sentido humano, no aspecto material.
Compreendemos e admiramos o esforço enorme desses moços que deixaram a sua casa e as suas famílias em terra distante para, com o desconforto que o viver em campanha lhes traz, se prestarem galhardamente a correr riscos tremendos na defesa de parte do seu próprio país. Essa mocidade valorosa, a quem todos nós, portugueses do ultramar, tanto devemos já e a quem tanto desejaremos ter a nosso lado, cumpridas as suas obrigações militares, no desenvolvimento de ricos territórios que a todos os portugueses pertencem. São até os filhos de alguns de VV. Ex.ªs, de outros até já os netos. Em breve os meus próprios filhos e não será certamente menor orgulho o meu que o de VV. Ex.ªs em saber que eles. tão abnegadamente cumprem o seu dever para com a Pátria!
Não, Srs. Deputados, nós, os do ultramar, não vemos fantasmas!
Se alguém menos esclarecido acerca de toda a problemática ultramarina, embora de forma não mal intencionada, se lança no jogo dos números e das palavras, no desenvolvimento de teoremas que o seu «teorismo» engendra, compete aos mais esclarecidos na matéria orientá-los para resultados mais exactos.
Nenhum de nós deseja usar de processos violentos - fazer a guerra, como alguns usam de dizer - para se defender, a não ser quando quem nos ataca os usa também.
Ninguém de entre nós fará certamente a apologia da guerra.
O que eu entendi da intervenção de um Sr. Deputado é o que qualquer indivíduo, que bem conheça o problema, pode, sem receio de desmentido, afirmar: é que «da guerra» não resultam sòmente aspectos negativos, aspec-