leis; independência administrativa; liberdade moral ou intelectual»; quanto a mim, certas definições jamais poderão sofrer actualização. Elas são aquilo que são e ai de nós quando as pretendemos ajustar a conveniências ou compromissos!

Ora, se o termo já existia na nossa Constituição, para quê alterar o sentido em que estava expresso, quanto ao ultramar, juntando-lhe palavras que podem um dia, talvez próximo, e como muito bem diz o Digno Procurador Antunes Varela no seu voto de vencido, «constituir uma força emotiva extraordinária, principalmente nas sociedades massificadas dos tempos modernos». «Aqueles círculos internacionais - prossegue o Digno Procurador - que hoje peçam palavras, à troca da sua simpatia, serão os primeiros a reclamar amanhã que, por um princípio de coerência, ponhamos a realidade de acordo com as palavras ao serviço de desígnios que fácil será adivinhar quais sejam.»

Há, realmente, que (ter «bodo o cuidado com as palavras», sobretudo com aquel as cuja interpretação possa dividir, criar ilusões ou falsas ideias, principalmente a gerações lançadas para a vida sem nenhum contacto na sua formação intelectual com o território da Mãe-Pátria, como sucede com os jovens formados nas jovens Universidades de Angola e Moçambique.

Ninguém tem a vida na mão e ela não é eterna. Há que deixar, aos que vierem e cujas intenções podem não ser nem tão claras nem tão puras, todas as portas fechadas no trinco, para que não haja gazua que as abra; e há palavras, quanto a mim, que podem transformar-se em autênticas gazuas!

Realmente, «o que mais nos deve preocupar é o reforço dos laços de solidariedade existentes entre as várias parcelas da Nação e a multiplicação dos serviços nacionais que, fortalecendo a consciência da nossa unidade moral, melhor facultem o aproveitamento dos valores humanos e dos nossos escassos recursos materiais em todo o espaço económico português». Com a devida vénia aqui reproduzo o trecho final do notável parecer do Digno Procurador Antunes Varela, parecer que, com a maior humildade, inteiramente subscrevo.

Não pretendo dar conselhos nem formular avisos; nem ser ave agoirenta, nem acreditar em fantasmas! Tenho a certeza que não há intenções - nem podia haver por parte de quem tão limpidamente põe as suas ideias - de que possa vir a alterar-se, mercê de modificações introduzidas ou que se pretendem introduzir na Constituição, a unidade da Pátria portuguesa, tão combatida, tão vilipendiada, tão odiosamente renegada por alguns, poucos, dos seus próprios filhos.

Creio e continuarei a crer nos homens que têm sobre os seus ombros o pesado encargo de governar o País e de o conduzir à grandeza que todos nós desejamos dentro das suas actuais fronteiras e dos seus tradicionais princípios e estruturas.

O Sr. Ribeiro Veloso: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Eu nisto sou muito liberal. Às vezes não o são para comigo, mas eu tenho muito prazer que V. Ex.ª me interrompa.

O Sr. Ribeiro Veloso: - Tenho estado a ouvir V. Ex.ª com imenso prazer, aliás como sempre, aprecio e sei que as afirmações de V. Ex.ª têm tanto valor ou mais do que aquelas que eu possa fazer.

Concordaria inteiramente com o que V. Ex.ª diz se não tivesse começado por um princípio que não me parece perfeitamente feliz: o Sr. Deputado Casal-Ribeiro disse, não sei se por acaso, que tem dedicado a este assunto do ultramar, estudo de há longos meses. Parece-me que a deficiência vem daí, a nossa disparidade de opiniões, se é que ela existe de facto na essência, resulta exactamente de V. Ex.ª só estudar este assunto há longos meses, enquanto nós, os que vivemos no ultramar, o estudamos há longos anos.

O Sr. Barreto de Lara: - Sofremos há longos anos ...

O Orador: - Eu também sofri alguma coisa, Sr. Deputado.

O Sr. Barreto de Lara: - Nem um décimo do que sofri eu.

O Orador: - É possível.

O Sr. Barreto de Lara: - Em 1961, estava eu de armas à cabeceira e possivelmente V. Ex.ª não estaria.

O Orador: - É possível. Eu sofri na carne da minha carne.

O Sr. Barreto de Lara: - Eu sei, Sr. Deputado.

O Orador: - Então já vê, sofri muito mais que V. Ex.ª

O Sr. Barreto de Lara: - O grau de sofrimento é avaliado consoante cada um de nós próprios.