tenha dito que «Angola é uma criação portuguesa - não existe sem Portugal». Foi então que recordou esse asserto de Sarmento Rodrigues: «Moçambique só é Moçambique porque é Portugal.»

E neste espírito haveria ainda de sublinhar que «constituir uma Nação de expressão civilizada e projecção mundial vale mais do que fechar-se no acanhado regionalismo sem estímulos de desenvolvimento, sem meios de defesa e sem apoio para o progresso». E também:

A unidade nacional não exige metrópole e territórios, que podem considerar-se uma dualidade aberrante, nuas exige uma capital, um governo, uma política ..., o que é perfeitamente compatível com a máxima descentralização administrativa na constituição dos órgãos locais e na definição da sua competência.

A mesma clareza de pensamento transparece ainda no discurso de 30 de Junho de 1961, sendo particularmente esclarecedoras estas palavras, com as quais pretendeu responder àqueles que «ouço às vezes falar de soluções políticas diferentes da nossa solução constitucional»:

Isto vem a dizer que a estrutura actual da Nação Portuguesa é apta a salvar de um irredentismo suicida as parcelas que a constituem e que outra qualquer as poria em risco de perder-se não só para nós, mas para a civilização.

Pois o homem que, em 13 de Abril de 1966, falava na «integração política e social que sempre advogara ...», três anos antes, reconhecia que «à medida que os territórios progridem [...], que as elites locais são mais numerosas e capazes, podem aparecer forças centrífugas que aspiram à plenitude do poder e ao monopólio das situações e isso representa um risco para a unidade da Nação», pelo que, «se essas forças existem, representam interesses egoístas de minorias que agem contra si próprias e contra a colectividade e o interesse geral ...».

Referia-se ele, nessa altura, à reforma da Lei Orgânica do Ultramar, que assentava, «confiante, nas qualidades dos povos que hão-de servi-la e nas possibilidades dos territórios a que se aplicam». E rematava com este dilema definitivo:

E se uns e outros acaso reclamassem mais ou coisa diferente, é que de facto pretenderiam também coisa diversa da que se contém, no nosso ponto de partida - a unidade da Nação Portuguesa.

Eis por que não compreendo a Câmara Corporativa quando se apoia em frases isoladas de Salazar, nem sempre cuidadosamente interpretadas.

Vozes: - Muito bem!

Unida» à realidade dia Pátria Portuguesa na vasta dimensão espiritual e cultural, jurídica e social dos territórios de aquém e de além-mar.

Essas, positivamente, não reputam legítimos os sacrifícios, em vidas e em fazenda, que estamos a suportar nas frentes dia Guiné, Angola e Moçambique.

O erro em que laboram consiste em. esquecer que somos uma «nação compósita - euro-africana e euro-asiática», uma ponte entre a Europa e os mundos do Sul e do Oriente, uma vocação em mancha ao serviço da aglutinação de raças e de almas.

Demonstrámos que uma sociedade multirracial é possível e, mais do que isso, é necessária ao equilíbrio, à paz e ao progresso harmónico dois povos. Aí está o Brasil a proclamar esta verdade. Em África, há séculos, com uma obra civilizadora incomparável, o que faz acrescer as nossas responsabilidades, porque haveríamos de nos voltar agora apenas para a Europa? E digo apenas, porque não podemos, até para garantir a continuidade da nossa prese nça ultramarina, deixar de manter as melhores relações políticas, culturais e económicas com os países do Ocidente.

Mas sacrificar toda aquela obra e a nossa vocação histórica, comprometendo o presente e o futuro, para nos virarmos exclusivamente para a Europa, equivaleria a resignarmo-nos a constituir nela mera e inexpressiva posição geográfica e a ver aproveitado o nosso esforço pelas grandes comunidades político-económicas do velho continente.

Fica, assim, evidenciado que os partidários da integração, a todo o custo, de Portugal na Europa preconizam, como método de acção para alcançar o seu escopo principal, soluções semelhantes às que são defendidas por uma outra escassa minoria inclinada a visionar uma ampla e sempre crescente autonomia, já não tanto administrativa, mas sobretudo política, das nossas províncias ultramarinas.

As duas atitudes, a despeito da diversidade de expressão, aparecem animadas por espírito idêntico que, a vingar, levaria a resultados praticamente idênticos: afastamento do Portugal da Europa do Portugal de além-mar ou afastamento do Portugal de além-mar do Portugal da Europa.

Parece não haver dúvida de que as duas minorias se nutrem de matrizes igualmente espúrias: uma proclama que devemos abandonar a nossa África porque, como europeus de origem, nos convém apenas a integração na Europa; a outra diz, com maior ou menor clareza, que a autonomia das províncias ultramarinas deve tender para uma progressiva separação, mesmo que isso implique o domínio exclusivo ou preponderante de poucos, à custa do princípio do convívio e da participação polirracial. Uns e outros são, pois, pela mutilação da Pátria: os primeiros, por sonharem com a fusão da metrópole na Europa., que passaria a ser uma única nação aglutinando tendencialmente todos os seus povos; os segundos, por aspirarem à formação de novas nações em África, mas estritamente europeias, porque de raiz branca e de predomínio político e económico branco.

Aqueles negam a Pátria Portuguesa em favor da criação de uma pátria nova: a Europa. Estes repudiariam a Pátria Portuguesa para tentarem erguer nos trópicos diversas pequenas pátrias europeias.