Na verdade, como componentes interdependentes e insoláveis da comunidade mundial em geral, e ocidental em particular, não podemos alhear-nos da imperatividade dos fenómenos político-sociais gerados mo seio da civilização a que pertencemos e denodadamente defendemos.

A cada época e a cada latitude a sua política. Se as realidades se transformam, deve a política adaptar-se-lhes, apenas com o limite de que se confinem dentro das traves mestras dos Principios inegociáveis.

Por isso se nos afigura que as chamadas «aberturas» do Governo - agora as que ao ultramar se referem - conciliam a prudência e a coragem necessárias.

Insatisfeitos e «velhos do Restelo» sempre os houve e sempre os haverá. Entre o imobilismo e a temeridade, o optimismo fácil e o pessimismo estéril, há que ser-se realista.

O Sr. Barreto de Lara: - Muito bem!

determinação de espíritos receosos, contemplativos ou escravos de tentadoras rotinas.

É por isso que nesta Assembleia, neste momento, repousa uma responsabilidade incomensurável, mas também uma oportunidade de contribuir para um Portugal maior no Mundo.

O homem é como a água: só repousa nivelado.

Entre poucos muito ricos e muitos muito pobres, entre privilegiados e desprotegidos, não será fácil encontrar, nos tempos que correm, uma trégua duradoura. A tarefa que se nos impõe, e que está na linha da nossa clássica visão personalista do mundo e da vida, é a de, sem demora, procurar nivelar abismas que separam etnias, grupos económicos e culturais, por forma que, sem se cair em abstracções irrealistas, cada região ou cidadão portugueses se não sinta o parente pobre de uma só família.

O Sr. Pinto Machado: - Muito bem!

O Orador: - Esta a realidade insofismável a que não vale a pena pregar o anátema de rótulos envelhecidos.

Bem recentemente, o ilustre governador da província da Guiné, general (António de Spinola, preveniu que «será utópico pensar que a mera definição de esquemas políticos com textos legais bastará para o fim em vista». Acrescentou que «também não deve esperar-se que as afirmações produzidas em actos públicos pelos chefes responsáveis cheguem para preencher tal lacuna». «É necessário», concluiu, «para além disso, definir claramente o rumo a seguir, através de uma orientação concreta e objectiva que todos apreendam e em que todos sintam a sua quota-parte de participação responsável.»

Palavras justas. Palavras que iluminam.

Não bastará, pois, alterar a própria Constituição se não empreendermos, logo de seguida, toda uma série de medidas, de reformas, diríamos mesmo, até de revoluções administrativas, para que de facto haja evolução e para que ela se processe com naturalidade, com coerência lógica, sem precipitações, mas também sem demoras desnecessárias.

Consciencializar a Nação e dirigi-la, impulsionando-a ao encontro do seu próprio desígnio histórico, proceder, enfim, à modernização e dinamização de orgânicas e sistemas ultrapassados pela fenomenologia da era planetária - eis o objectivo inadiável e indeclinável que tem de merecer as honras da nossa mais atenta preocupação.

Ao apoiarmos, conscientemente e sem hesitações, os propósitos do Governo, sentimos ser nosso dever justificar a nossa tomada de posição, e tecer algumas considerações que, embora possam ser talvez ajustáveis a todo o ultramar, queremos referir especialmente a Moçambique - terra em que nascermos e nos nasceram filhos, onde vivemos e que, por isso, melhor conhecemos.

Poderão elas, à primeira vista, parecerem demasiadamente particularizadas ou irrevelantes na apreciação da revisão constitucional, mas entendemos enumerar em detalhe e evid enciar alguns problemas, precisamente por se tratar de dificuldades e de falhas que, no fundo, militam a favor das renovadoras atitudes do Governo, sem as quais não julgamos possível uma solução permanente.

Embora aquela província ofereça já um admirável complexo unificado geoumano, racial e religioso, que constitui exemplo nos dias de hoje, podemos afirmar que, apesar de consideráveis progressos, ela está apenas a acertar os primeiros passos para o grande futuro que seguramente a espera.

Tenha-se presente, antes de mais, a premissa por vezes esquecida, de que ela se situa a muitos milhares de quilómetros da metrópole, em confronto com a qual se deve considerar uma região com substrato étnico, geográfico, religioso e social diferenciados.

Infelizmente é uma parcela pouco conhecida do mundo em geral, da maioria dos portugueses em particular, e até de grande partia dos Srs. Deputados que ilustram festa Câmara - o que torna algo anais difícil a compreensão, em termos classificada por não dispor de porta-vozes próprios, ou por viver num alheamento de que é preciso arrancá-la.