imagem do sofrimento totalitário e apresenta-lo, em cores carregadas, como exemplo eterno do mal.

Talvez que em nenhuma outra matéria resulte tão evidente a asserção de ser a política a «arte do possível». Não se ausenta o Governo, expressamente o diz, dia linha de liberalização dia vadiai pública portuguesa. Progredindo nela mia medida do possível, não pode, porém, deixar-se desarmar na luta sem quartel que, por formas novas e insidiosas, em todos os campos e com violência antes

insuspeitada, é movida contra a sociedade civilizada e os alicerces em que necessàriamente ela assenta.

Não podemos virar costas às fronteiras do possível em nome de aspirações utópicas. Li algures que uma das razões por que os movimentos utópicos, sobretudo os esquerdistas, adquirem reputação de dinamismo é a facilidade com que, exclusivamente quando estão fora do Poder, ultrapassam as fronteiras do possível e ignoram as limitações que são inerentes a toda a situação concreta.

Pa ra um certo «gauchismo» utópico o estado presente é sempre obliquamente olhado como imperfeito e a realidade que se vive sempre incompleta. E por todas as vias, sobretudo as revolucionárias, se procura completá-la, em busca da impossível coincidência absoluta entre o que é e o que devia ser. E- assim o espírito crítico, à partida construtivo e gerador de progressos sociais desejáveis, descamba, por incurável exagero, em espírito de negação das realidades, logo utópico e revolucionário, de que o Maio de 1968 foi, em França, a natural consequência.

Deixemos, porém, a filosofia ... O que parece que seria natural, perante o sentido das inovações propostas e dos progressos manifestos, que já referi, no domínio da liberalização - o que seria natural, dizia, era, pelo menos, um movimento de agrado. Ao verificar-se o contrario, ser-se-á levado a identificar tal atitude com a dos utopistas puros, que recusam mesmo as modificações favoráveis à sua causa, desde que não sejam integr ais e absolutas.

Não entrarei análise do que mesta matéria é divergente na proposta e nos projectos que nos estão submetidos. O sentido da liberalização que fica bem frisado ser o desta proposta e a prudência e segurança com que se trilham os caminhos em que a liberalização se desenvolve, garantindo que, sem prejuízo desta, a ordem e tranquilidade da vida portuguesa serão asseguradas, permitem-me concluir sem hesitação ou dúvida pelo apodo que devem merecer à Câmara as sugestões do Governo.

7. Sendo o anafe importante e delicado aspecto da proposta o que respeita ao Estatuto das Províncias Ultramarinas, o sentido claro do debate até aqui decorrido dispensa-me de a ele me referir muito desenvolvidamente, mas

dedicar-lhe-ei, mesmo assim, algumas palavras.

Quisera eu, oeste momento tão delicado da vida nacional, fadar a tal respeito uma linguagem que traduzisse, na sua cristalina transparência, a singeleza com que, tal como as vejo, se desenham no horizonte do nosso presente e do nosso futuro, as ideias e as intenções do Governo, consubstanciadas ma proposta d