O Orador: - A discussão na generalidade foi concentrada e abundante; fatigante portanto.

Não há agora que fazer um balanço geral, mas apenas que deixar um ou outro apontamento, expressado na perspectiva do projecto que assino.

É-nos grato reconhecer a justiça que quase unanimemente foi feita aos nossos propósitos; as divergências e as oposições frontais não impediram que quase todos os nossos «adversários dia discussão reconhecessem com lealdade que, tal como sucedia com eles, a nossa única finalidade e constante preocupação foi, e é, a de bem desempenhar o cargo para o qual fomos eleitos, servindo a Nação na revisão dai Constituição como em tudo o maus.

O Sr. Barreto de Lara: - Muito bem!

O Orador: - Não vale a pena pender tempo com quaisquer suposições insidiosas, mate ou miemos expressas; repudiam-se e deploram-se.

E não se cuida de perguntas apressadas, com pretensões de ironia, pois os respostas já foram dadas.

Importa apenas esclarecer um ou outro ponto.

alou-se muito em eleições, na manifestação dia vontade do eleitorado, em mandatos conferidos; mão só a propósito da defesa do ultramar mais também a respeito do nosso projecto.

E campo em que estamos totalmente à vontade.

As eleições são escolha, simples modo de designação dais pessoas o eleger.

Mas nem por isso o seu resultado deixa de ter vaiar de conclusões, de expressar a adesão a um programa.

Ora a campanha eleitoral da União Nacional foi o desenvolvimento das duas opções postas pelo Presidente do Conselho: reformas resolutas na ordem da defesa do além-mar com incremento da sua autonomia e do seu desenvolvimento.

Depois de Outubro a tónica foi posta mo segundo ponto. Mas é bom não esquecer o primeiro.

Raro foi o comunicado eleitoral dos candidatos da União Nacional em que com maior ou menor desenvolvimento, se não versasse a necessidade de assegurar o exercício das liberdades fundamentais, como aqui já foi recordado.

Esse ponto foi uma constante de todos os programas distritais, um dos traços mais vincados com que nos apresentámos ao eleitorado.

Os signatários do projecto n.º 6/X procuraram ser-lhe fiéis em coerência com as afirmações que fizeram como candidatos e em correspondência com o resultado das eleições.

O Sr. Mota Amaral: - Muito bem!

O Orador: - Admitem que haja quem as interprete de modo diferente, e seja levado a tomar por isso uma posição de exclusivo apoio à proposta do Governo.

Mas não consentem que se procure monopolizar o sentido das eleições para o pôr ao serviço de uma proposta ou de uma «acção».

A defesa do ultramar era a certeza oferecida ao eleitorado.

A restauração das liberdades públicas e o efectivo exercício dos direitos cívicos foi a grande esperança que quase todos nós lhe demos.

Esta é a melhor altura de começar a realizar as intenções expressas.

Não pomos em causa o sentido da escolha eleitoral de quem pensa de modo diverso, mas exigimos igual respeito.

Ao propor as alterações que entendemos ser necessário introduzir na Constituição limitamo-nos a concretizar o que havia sido prometido aos eleitores. Prometido e afirmado claramente; não apenas pensado em silencie.

Promessas de liberalização em que os eleitores acreditaram e que nós queremos cumprir.

O Sr. Júlio Evangelista: E que o Governo está cumprindo.

O Orador: - V. Ex.ª disse alguma coisa? Desculpe, é que anão o ouvi pedir licença, como é costume.

O Sr. Júlio Evangelista: - E que o Governo está cumprindo. Promessas de liberalização que o Governo está cumprindo.

O Orador: - Não contesto, Sr. Deputado, a intenção dó Governo. Não oculto o movimento de agrado, para usar a palavra do orador que me antecedeu. ao verificar a coincidência das intenções. Mas isso não me dispensa de completar, ainda que implique trabalho árduo, as realizações que reputo insuficientes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Júlio Evangelista: - Não ponho em dúvida, de maneira nenhuma, não ponho em dúvida, nem quero minimizar essa insatisfação.

O Orador: - Não falei em insatisfação.

O Sr. Júlio Evangelista: - No sentido de mais amplas, mais profundas e mais velozes reformas. Só quero efectivamente acrescentar que o Governo tem caminhado no sentido dia liberalização prometida diante a campanha deitaral. Que o Governo tem sitio honesto, saneara e até ousado nesse propósito. Mais que todos nós, os que não temos as responsabilidades do Executivo, os que temos as responsabilidades perante a opinião pública, temos de compreender os travões com que o Governo tem de lidar, e tudo isso constitui, efectivamente, forças que há que ter em conta, porque o Governo lida com a realidade e não com doutrinas, não com teorias.

O Orador: - Folgo muito com a interrupção de V. Ex.ª.

O Sr. Júlio Evangelista: - Desculpe V. Ex.ª interrompê-lo, porque V. Ex.ª ia tudo bem ...

O Orador: - Eu só não desculpo, porque não tenho nada a desculpar.

Folgo muito, ia a dizer, com a interrupção de V. Ex.ª, até porque estando eu no uso do direito regimental, ao usar da palavra da terceira vez para encerrar o debate, é esta a altura, realmente, de dar qualquer achega, não depois do debate encerrado. V. Ex.ª falou em insatisfação. Eu não. Estará V. Ex.ª insatisfeito?

O Sr. Júlio Evangelista: - Tanto quanto possível satisfeito com a obra do Governo, digo-lhe francamente, e estou convencido que a maioria desta Câmara.

O Orador: - Vejo que a sua satisfação vai faltando quando é possível. Ainda bem. Isso é mais um estímulo para trabalhar.