opções postas para a localização geográfica deste empreendimento e formular algumas das razões da decisão.

Não parece que na realidade existisse na nossa costa a sul do Tejo muitas outras zonas indicadas para a instalação de um grande porto mineraleiro e instalação de indústrias petroquímicas, sem prejuízo de riquezas naturais e turísticas de mais significativo valor e em fase mais adiantada do processo de valorização: caso da serra da Arrábida e suas praias, ou do litoral algarvio, cartaz de primeiro plano do turismo nacional.

Razões geográficas, económicas e histórico-demográficas efectivamente militam a favor do litoral baixo-alentejano, e particularmente de Sines.

Como escreveu algures o engenheiro Amaro da Gosta, em artigo de fundo subordinado ao título «Recursos naturais»:

A vizinhança das grandes linhas de navegação atlântica; o abrigo natural do cabo de Sines; a facilidade de acesso marítimo; as águas profundas junto a terra; a ausência de movimentos aluvionares; as áreas terrestres extensas e livres, e as comunicações ferroviária e rodoviária [...] oferecem um tal conjunto propiciatório para a instalação de um grande porto mineraleiro, que não deve encontrar paralelo em toda a costa da Penísula Ibérica.

Trata-se da zona compreendida entre as praias de Sines e S. Torpes [...],

que bem pudemos testemunhar ao tempo em que andámos trabalhando para uma monografia das terras do Baixo Alentejo:

[...] o aproveitamento adequado das excepcionais condições naturais dessa zona de eleição, traduz-se pela criação de um grande porto, sem quaisquer problemas de conservação de fundos ou de limitações de tonelagem para servir simultaneamente aos maiores cargueiros e petroleiros actuais e dos que venham a sulcar os mares do futuro.

Mas não é apenas em termos de proximidade das rotas dos grandes fluxos de tráfego marítimo petroleiro que procuram a Europa, e praticabilidade de fundos, que razões geográficas assistem a tal localização:

[...] das cinco matérias-primas consideradas por certos especialistas como pilares de indústria química em que se apoia a civilização material do nosso tempo - sal-gema, enxofre, calcário, carvão e petróleo -, possuímos enormes quantidades das três primeiras, e quiçá relevantes da última, no ultramar.

Detenhamo-nos, porém, no enxofre, que o mesmo é dizer sobre pirites alentejanas.

Há poucos anos calculavam-se os respectivos jazigos em 100 milhões de toneladas; actualmente já duplicou aquele cômputo, e ainda estamos longe do final da prospecção.

O teor de cobre das pirites, chegando a ser de 2 por cento, bastaria para tornar rendosa a exploração mineira, sem falar nos valiosos produtos dela resultantes.

Mas a nobreza das pirites melhor se pode ajuizar através da indicação do que é corrente referir como podendo obter-se de 1 milhão de toneladas de minério: 1 250 000 t de ácido sulfúrico, 700 000 t de ferro, 21 000 t de zinco, 10 000 t de cobre, 4000 t de chumbo, 140 t de cobalto, 20 t de prata, 5 t de selénio e 200 kg de ouro.

Se multiplicarmos estes valores pelos 200 milhões de toneladas das reservas já conhecidas, e tendo em conta o teor real de cobre, completa-se a noção do gigantesco potencial que, por ironia, jaz quase inerte sob as terras alentejanas, cada vez mais despovoadas.

Mas o facto tem explicação simples. Está no tipo e na índole que presidiram durante muitos anos à exploração das pirites do Baixo Alentejo.

O caso das minas de S. Domingos (explorado no concelho de Mértola, por empresa estrangeira) é, a este título, esclarecedor. No decorrer de cerca de um século daí saíram vinte e tal milhões de toneladas de pirites em exploração do tipo praticamente colonial. As diversas gerações de mineiros receberam o magro salário, e nada mais; a exportação e a indústria (nacionais) retiraram poucos benefícios. Fora disso e de uma plantação florestal, envolvendo uma povoação pobre e sem atractivo, ficaram-nos as cavernas das minas e uns largos centos de famílias desprovidas de recursos, com muitos dos seus chefes em idade avançada e doentes.

A silicose, efectivamente, Mo perdoa. Foi-se o minério, vão-se os homens, levados pela morte ou atingidos pela emigração, que despovoa de gentes as terras baixo-alentejanas. No Sudeste, o concelho de Mértola assistiu, no passado intercenso, à redução de 44 por cento da sua população; a freguesia de Corte do Pinto, onde se situava tal mina, quebrou de gentes 66 por cento - de cada três pessoas em 1960, ficou uma em 1970.

Começa a fazer menor falta, em termos do número de assistidos, essa alma grande de médico dos pobres: os seus mineiros, que dava pelo nome de António Fernandes Covas Lima. Mas a sua memória persiste na recordação das gentes.

Nas outras minas piritosas em pouco deferirá ou pouco terá evoluído o tipo de exploração referido. E a manter-se a marcha da exploração actual teríamos tarefa para mais de trezentos anos, até se esgotarem os 200 milhões de toneladas adormecidas debaixo da terra.

Mas depois ficaríamos todos nós mais pobres se continuássemo apenas a exportar matérias-primas ao preço do seu desmonte ou pouco mais, em vez de tentarmos valorizar os recursos naturais por incorporação de mão-de-obra, que em tão grande número igualmente exportamos para as sete partidas da Terra.

Daí que se torne importante rever e actualizar os sistemas de extracção em vigor, tendo em conta, precisamente, e em primeiro lugar - mas não só -, a dimensão correspondente à grandeza das reservas.

Daí também que o interesse da economia nacional e dos próprios concessioniários torne necessário o estabelecimento de um plano de exploração com prazo aceitável.

Considerando o de quarenta anos, as reservas já reconhecidas permitiram levar a extracção anual para 5 milhões de toneladas de pirites. Com este volume de minério poder-se-ia criar uma metalurgia dos metais base, que são o cobre, é zinco e o chumbo, deixando de os importar e de estarmos na situação de sermos

exportadores de matérias-primas de produtos que depois vamos comprar ao estrangeiro. A produção de fertilizantes e dos ácidos utilizados por muitas indústrias poderia ser intensificada em larga escala.

A exportação das pirites (poderia aumentar consideravelmente e servir de moeda de troca para a aqui-