Ele, se ainda se integra num grupo, tem tarefa bem determinada a executar e não pode, por isso, esbater-se no meio dos outros, retardar o passo para ficar sempre protegido pelo companheiro da frente; não pode fingir-se de soldado, tem de ser mesmo combatente activo e, como todos, sujeito a acção directa do inimigo. O cara-a-cara foi substituído pela surpresa do encontro; a boca escancarada dos canhões, pela mina escondida em terreno inocente; a espingarda, pelo punhal silencioso. O que se anunciava dantes pelo toque de clarim tem de descobrir-se hoje por indícios dos caminhos; o que o silvo das granadas dantes proclamava tem de descobrir-se hoje no cotejo das informações.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Ex.ª dá-me licença.

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Roboredo e Silva: -O meu curto aparte tem apenas como objectivo felicitar V. Ex.ª peio seu conhecimento, aliás profundo para um civil, das questões militares que estou tão pouco habituado a ouvir em Portugal.

Infelizmente, neste nosso país, as ciasses civis-mesmo as de mais alto nível -, em regra, não têm por hábito debruçar-se sobre os problemas da defesa nacional. Por isso sinto-me duplamente satisfeito e felicito V. Ex.ª por ter abordado esse tema.

Afigura-se-me, também, que as preocupações de V. Ex.ª, aliás muito justas e que, outrora, no tempo da I Republica, eram resolvidas através da instrução militar preparatória, poderiam actualmente ser, efectivamente, resolvidas pela Mocidade Portuguesa ...

O Sr. Albino dos Reis: - Muito bem!

O Sr. Roboredo e Silva: - ... se essa Mocidade Portuguesa for devida e convenientemente organizada para ser na realidade uma organização verdadeiramente útil ao País.

Muito obrigado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Agradeço a V. Ex.ª a intervenção que teve e, como adiante verá, é a esse ponto que quero chegar. Continuando ... O impacte conseguido dantes pelo fragor das batalhas consegue-o hoje, com o mesmo efeito paralisante, a instalação capciosa da dúvida. Por tudo isto e o mais que calo, para ser breve, eu disse que não basta preparar a guerra, é preciso educar para a guerra. Agora e sempre: Se queres a paz, prepara-te para a guerra! Só o que é forte sustém em respeito o ímpeto do seu adversário. Uma nação que não cuide de fortalecer física e moralmente a sua juventude, de a exercitar e adaptar às exigências do meio em que ela terá de viver, torna-se, mais dia menos dia, a presa fácil das outras nações. Ora nós estamos a descurar tragicamente a preparação básica da nossa juventude até à entrada nos quartéis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, eu que sou um homem ingénuo que procura viver a vida simplesmente, dei por mim a perguntar-me se nisso mão haverá mais do que o cansaço natural das pessoas, do que o envelhecimento natural das instituições, do que a concordância natural com pedagogias novas. E foram essas interrogações que mataram dentro de mim «o Sr. Parece-Mal» e hoje me trouxeram aqui, hoje exactamente e adiante direi porquê.

Fez-se e está a fazer-se neste país um grande esforço para a formação de professores de Educação Física, pagos como qualquer licenciado e, sendo efectivos mas escolas, como qualquer efectivo. Fez-se e está a fazer-se neste país um grande esforço parca se espalhar por todo ele uma fechada rede de ginásios e instalações gimnodesportivas. Pois que respondam agora dos quartéis: Que preparação física levam pana a vida de soldados, que todos têm de ter, e de soldados para uma guerra especial, os jovens que saem das escolas? Directivas sucessivas têm vindo a substituir o ensino tradicional da ginástica: não há já formatura, nem mancar passo, nem esquema de lições, nem movimentos rítmicos;, nem trabalho nos aparelhos, nem correcções respiratórias, nem flexões, nem torções, nem extensões numa distribuição harmónica de movimentos comandados pelo professor. Hoje, a grande preocupação oficial -porque ias directivas vêm de instituição estatal - é que se dê aos alunos inteirai liberdade de escolha daquilo que hão-de fazer na aula de ginástica. Entram em molho ou vão cobrando e calda um faz o que lhe apetece. O professor já miem sempre veste o fato de treino, nem sempre já permanece entre os alunos e, se está entre eles, é apenas um homem de apito na boca, Hoje o que vale é a iniciação desportiva. Pois continuamos a ser desportivamente a mesma coisa e os nossos rapazes chegam cada vez menos ginasticados aos quartéis, numa, altura em que a preparação militar exige uma excepcional capacidade física. Há muitos professores de Educação Física em furacões burocráticas, há muitos doutoreis em Educação Física; precisamos mas é de técnicos actuantes de ginástica e da disciplina motora e psíquica que a boa ginástica dá. Precisamos que não demore a já por de mais falada reforma da educação física. Em França não há aluno que passe de ano lectivo sem prova positiva de aptidão física. E nós que estamos em guerra, que há dez anos, e não se sobe por quantos mais ainda, mandamos os nossos alhos pana a guerra, vamos abrindo falência ma educação física.

O Sr. Leal de Oliveira: - V. Ex.ª dá-me licença.

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Leal de Oliveira: - Queria só dizer uma palavra, em meu nome pessoal, de agradecimento pelo ponto que V. Ex.ª está a focar: a necessidade do desenvolvimento físico da nossa juventude.

E digo-o também por outra pessoa que não está aqui presente, porquanto não é Deputado, nem poderia aqui Mar, mas que passou toda a sua vida lutando nesse sentido, e, infelizmente, no acabar dos seus 70 e muitos anos vê, com pesar, que o problema da educação física não foi resolvido e está pior do que estava, digamos, há algumas dezenas de anos.

Muito obrigado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Muito obrigado. Tenho muito respeito pelo seu brilhante pai.

Mas não foi só nesse sector que a Organização Nacional Mocidade Portuguesa depôs as armas, por desatenção das realidades. Quantos de nós aqui não vivemos os tempos em que a Mocidade Portuguesa era uma organização e um movimento, era uma força e tinha uma doutrina? Foi-o em 1936, despertar magnífico de uma mentalidade nova; foi-o em 1946, certeza magnífica de um escol; foi-o ainda em 1956, em entusiasmo renovador; pouco já era