Não. V. Ex.ª, Sr. Deputado, não está só. Nas angústias pelos destinos da Pátria V. Ex.ª não está só. Está com todos nós. Pelo menos, comigo está de certeza absoluta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que diverjamos de pontos de vista, pois com certeza. É assim que se formam os desígnios das nações, quando os homens conversam, articulam, se expressam livremente, chegam a uma determinada conclusão e acatam a decisão da maioria representativa da Nação...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como é o meu caso, como liberal, quando acato, disciplinadamente, a maioria dos votos de qualquer colégio eleitoral ou qualquer colégio a que eu pertença.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Primeiro quero agradecer as suas amáveis palavras e, depois, dizer o seguinte:

Eu não sou liberal, mas acato a decisão da maioria, sem que saia da sala e sem que pense, por um instante sequer, em não continuar os meus trabalhos, expressando as minhas opiniões e dando a minha colaboração, dentro da minha modéstia e da minha humildade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como vê, V. Ex.ª engana-se. V. Ex.ª é tão liberal, ou mais liberal, como eu.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Isso é uma afirmação...

O Orador: - Mas ficaram duas perguntas por responder num diálogo que V. Ex.ª quis fazer o favor, liberalmente, de me consentir.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Por isso sou Deputado...

O Orador: - Não é por isso. Eu penso que por espírito também.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Dentro de certos limites...

O Orador: - V. Ex.ª perguntou-me se eu me considerava português de primeira, segunda ou de terceira, e deixou para segundas núpcias essa resposta.

Pois essa resposta vem hoje: «simplesmente português». Nunca me preocupou, nem a mim, nem a todos os homens do ultramar, qualificações jurídicas que nos tivessem dado, divergentes daquelas que eu sentia no meu coração, porque o meu coração de português é intocável e estou perfeitamente despreocupado da classificação que me queiram dar ou me tenham dado.

Serei português, e quando não puder ser português a viver em Angola, só me resta, como alternativa, vir para o berço de nacionalidade dos meus antepassados.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Casal-Ribeiro: - Apraz-me as novas núpcias... de V. Ex.ª

O Orador: - Aí é que está o engano de V. Ex.ª Novas núpcias é que é o engano.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª é que disse..., perdão.

O Orador: - V. Ex.ª está a considerar-me bígamo, eu não o sou.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Não. A frase é de V. Ex.ª Deus me livre ...

O Orador: - V. Ex.ª permite sempre um diálogo bastante agradável, bastante irónico e com muita graça, o que lhe agradeço.

V. Ex.ª perguntou-me também, outro dia: «Onde estaríamos nós, se não fosse o portuguesismo destas gentes?».

Pois eu respondo. Hoje, estávamos exactamente no mesmo sítio. A defender intransigentemente a nacionalidade portuguesa.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Desculpe-me. Mas eu, naquela altura, perguntei o que seria de nós; de V. Ex.ª e de nós todos, portugueses - daqui ou do ultramar -, se não fosse o portuguesismo da metrópole. Foi o que eu disse, nessa altura. «Com rapidez e em força para salvar Angola. Recordo a V. Ex.ª as palavras do Dr. Oliveira Salazar!

O Orador: - Ai é que estamos em desacordo. Portuguesismo dos portugueses da metrópole é uma dicotomia que eu não compreendo, nem entendo. Portuguesismo dos portugueses, está certo. Agora, estabelecer V. Ex.ª alternativa da metrópole ou do ultramar é que eu não concordo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª esquece - bem sei que não temos nada com isso, nós estamos em Portugal, interessam-nos os nossos casos -, mas V. Ex.ª esquece que foi na falta de compreensão pelos problemas pátrios de outras orações que outros territórios do ultramar se penderam. Não no que diz respeito a Portugal, mas no que diz respeito a outros países.

E foi a determinação de ir para Angola, repito, com rapidez e em força que fez com que VV. Ex.ªs, que ali viveram os piores momentos, que ali resistiram à mais atroz das calamidades que caíram sobre a nossa Pátria, ali permanecessem, e, portanto, era preciso que houvesse qualquer coisa que os acompanhasse, e foi esse o sentimento que não faltou.

Era apenas isto que eu queria dizer.

O Orador: - Sim, senhor, eu compreendo perfeitamente, mas essa luz vinha do passado. Pode ter sido reacendida nessa altura... Porque os Franceses também estiveram na Argélia e também foram rapidamente e em força. Mas essa luz que nos alumiou foi a do passado. E eu posso dar um exemplo a V. Ex.ª, muito pequeno, mas que talvez seja elucidativo das minhas palavras. É que, quando deflagrou o terrorismo em Angola e quando