Depois, já neste século, e como reacção a este mesmo liberalismo, vem a estruturação de sociedades obedecendo ao princípio de que cada homem não vale em si mesmo, vale como parte ou átomo de um todo, que para o fascismo é nação, para o marxismo é classe proletária. Também aqui o homem não encontrou naturalmente o seu espaço indispensável de liberdade ao serviço de proclamados interesses colectivos, foi manipulado como mero objecto. Não admira que, particularmente a partir do fim da última grande guerra mundial, ressurgisse com pleno fulgor a concepção personalista cristã do homem. Cada homem é uma pessoa, ser inteligente; inteligência cujo sentido é busca da verdade, que tem como alavanca de acção a vontade e que implica necessariamente a liberdade.

Sendo cada homem pessoa responsável, integralmente, pelas suas opções, ele é essencialmente autónomo, o que de nenhum modo permite identificar esta concepção personalista com a concepção individualista.

Para o persona lismo, embora cada homem seja efectivamente autónomo, e na medida que em cada um reside integralmente toda a natureza da pessoa humana, contudo, não por fatalidade, mas por imperativo da sua própria natureza, ele vive e convive com os outros homens, cada um dos quais como pessoa também.

As relações sociais estabelecem-nos assim num tecido de dar e de receber entre pessoas, isto é. estabelecem-se numa base personalizada de comunicação. Por isso, no plano dos princípios evidentemente que na prática as coisas não se passam com a mesma facilidade -, é inaceitável que se diga que a liberdade dos outros limita a minha liberdade ao contrário.

O Sr. Almeida Garrett: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Almeida Garrett: - Se V. Ex.ª me consente, eu queria fazer-lhe uma pergunta.

Tenho-o ouvido com o máximo interesse, embora V. Ex.ª tenha feito uma prévia declaração de humildade, relativamente à sua exposição no plano científico ...

O Orador: - Á declaração foi sincera.

omo base a teoria muito conhecida de Darkheimm, é no sentido de cada homem, pela sua própria natureza, que busca as relações interpessoais, como processo de realizar, mais perfeitamente em sociedade, os seus fins próprios.

Ou seja: que a sociedade tenderia a ser orientada, fundamentalmente, por finalidades individuais. Portanto, a sociedade, como grupo, seria orientada por orientações individuais, e não por orientações colectivas.

Hoje, no pensamento das modernas escolas de filosofia, nomeadamente a escola norte americana, o que se acentua é que a sociedade, como grupo, se orienta para além das puras orientações individuais, fundamentalmente por valores colectivos.

Eu queria que V. Ex.ª precisasse o seu pensamento sobre isto, se fizesse o favor.

O Orador: - Muito obrigado pela intervenção do Sr. Deputado Almeida Garrett, porque me dá oportunidade de realmente, esclarecer aquilo que penso sobre isso, pois tem, evidentemente, a sua importância.

Devo, em primeiro lugar, dizer que não sou, como V. Ex.ª sabe, de maneira nenhuma um perito em ciências sociais.

O Sr. Almeida Garrett: - Eu também não ...

O Orador: - Mas tem mais obrigação de sê-lo do que eu ...

O Sr. Almeida Garrett: - Desculpe-me, obrigação não é o termo, pois sou um economista, não um sociólogo.

ja verdadeiramente humana, isso implica que os outros tenham a liberdade ou não de a aceitar.