ao amparo material das famílias atingidas. Impeliram-no decerto os valores morais e políticos em causa; mas é difícil não ver em todos estes actos uma expressão de deferência para com a Assembleia Nacional, como órgão da soberania, que entendo devermos registar com apreço.

Por fim, desejo dedicar uma palavra aos funcionários da Secretaria-Geral da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa pela colaboração diligentíssima e mesmo carinhosa que prestaram &s cerimónias desenroladas neste Palácio e que muito contribuiu para as dignificar.

Srs. Deputados: Detenhamo-nos um momento em silêncio na recordação das vítimas do desastre da Guiné.

A Assembleia, do pó, guardou uns momentos do silêncio.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Cotta.

Em virtude da importância que tem para a vida da Assembleia o assunto de que ele e outros Srs. Deputados se voo ocupar, peço ao Sr. Deputado Almeida Cotta que suba à tribuna, donde igualmente falarão depois os outros oradores deste período de antes da ordem do dia.

O Sr. Almeida Cotta: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O trágico acontecimento ocorrido na província da Guiné no passado dia 25 de Julho não podia deixar de ser sentido nesta Câmara com a mais funda saudade e imensa tristeza. Não podia também deixar o Pais de o marcar com luto e com pesar.

Em missão de estudo e de informação, tinham-se deslocado a Cabo Verde, dali seguindo directamente para a Guiné, oito colegas nossos, entre os quais os Drs. Leonardo Coimbra, Pinto Leite, Pinto Buli e José Vicente e Abreu.

Naquele infausto dia 25, ao regressarem de helicóptero de Teixeira Pinto para Bissau, foram acometidos por um violento tornado que arremessou o aparelho onde viajavam para as águas profundas e barrentas do rio Mansoa. Nelas desapareceram aqueles nossos colegas e os oficiais do Exército alferes Pruri cisco Lopes Manso e capitão José Carvalho de Andrade, perante o lancinante desgosto de toda a população da província e dos seus companheiros, Drs. Salazar Leite, Cancella de Abreu, Lopes Frazão e Covas de Lima, este último falecido no passado dia 2, vítima de doença implacável que nos roubou essa generosa alma franciscana, amoravelmente devotada à prática da caridade crista e cuja memória será chorada por quantos tiveram a felicidade de sentir os efeitos da sua salutar presença.

O Governo da Guiné tomou imediatamente as providências necessárias para se encontrarem os ocupantes do helicóptero, e o Ministro do Ultramar foi incansável na promoção de diversas diligências que em tão preocupante situação haviam de tomar-se. Dois dias depois apareceram os corpos do Dr. Leonardo Coimbra e do capitão José Carvalho de Andrade, nunca mais se encontrando os outros, apesar dos incansáveis esforços feitos nesse sentido.

A perda daqueles nossos camaradas é irreparável, pois jamais os poderemos ter no nosso convívio, jamais poderemos contar com a sua presença nesta Casa, que tanto dignificaram.

Da sua juventude, da sua inteligência, do entusiasmo posto no desempenho dos suas funções parlamentares, era lícito esperar uma colaboração valiosíssima.

Mas, se esta Câmara está de luto pela perda dos preciosos elementos que a depauperam e cuja falta profundamente sente e lamenta, que dizer das esposas, dos filhos, dos parentes e dos amigos?

Que dizer, Deus meu, de quem fica sem esse amparo insubstituível?

Curvo-me com o maior respeito diante Idos que perdem os seus entes queridos, magoa que, por experiência própria, sei bem quanto é amarga e dolorosa.

Poderá o Governo reparar em parte essa falta, como aliás já fez, mas não

O seu comportamento frutificará no esforço que estamos a fazer, aquém e além-mar, para estreitarmos cada vez mais os laços que unem a comunidade portuguesa, para edificarmos um Portugal cada vez melhor e mais próspero.

A sua perda é, de facto, irreparável, mas o legado que nos deixaram é para nós, e para o País, fonte perene de esperança e de fé nos princípios em que acreditamos, na força espiritual que os anima e informa, nas suas potencialidades criadoras, na própria capacidade de restituição do dom da vida, pois se alguns lha sacrificam muitos a ficam a dever também aos que a perdem por esses ideais.

Dar a vida pêlos nossos semelhantes, oferecê-la ao altar da Pátria, para a tornar cada vez mais excelente e cada vez mais próxima dos conceitos superiores que constituem a mais alta expressão do pensamento e do sentimento humano, é reproduzir o milagre da criação pura, é lançar a fecunda semente que poderá permitir um verdadeiro c real progresso pela renovação autêntica do homem, pela sua promoção social, moral e espiritual.

Por isso, os nossos colegas continuarão connosco, continuarão a viver na recordação daqueles que, à sombra do seu exemplo, procuram segui-los, quer nas tarefas quotidianamente executadas em espírito de bem-servir, quer nas fronteiras africanas, defendendo a terra e as gentes, quantas vezes também com o sacrifício da vida e para que ela seja melhor.

Ao prestarmos aos nossos colegas, Drs. Leonardo Coimbra, Pinto Leite, Pinto Buli e José Vicente de Abreu, mortos ao serviço da Pátria, a nossa mais sentida homenagem, penso ser grato à sua memória e ao legado que nos deixaram aliarmos às suas as nossas preces, pedindo a Deus que, ao recebê-los em Seu seio, nos conceda a graça da paz e da reconciliação da grande família portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Sá Carneiro: - Sr. Presidente: O brutal acidente da Guiné atingiu duramente esta Câmara, da qual faziam parte quatro dos ocupantes do helicóptero destruído: Lopes Manso, Carvalho de Andrade, Leonardo Coimbra, Pinto Leite, Vicente de Abreu e Pinto Buli; se a memória dos seis vítimas unidas no termo da vida tem por isso de ser lembrada com profunda mágoa, compreensível será que neste momento nos detenhamos nas figuras daqueles que connosco partilharam a vida de uma breve sessão legislativa.

Iam em missão da Assembleia. Viagem de trabalho que era um prolongamento do desempenho do seu mandato