Essas indicações são, porém, ainda muito fragmentárias e de validade estatística demasiado incerta para se poderem formular conclusões dignas de confiança quanto às perspectivas de dominar as tensões sobre os preços a que a economia portuguesa tem estado sujeita nos últimos anos.

Essas tensões continuam a manifestar-se como resultado da acção conjunta de vários factores, entre os quais cabe mencionar: a pressão da procura provocada pêlos efeitos que os aumentos de salários e outras remunerações e remessas de emigrantes têm tido sobre os rendimentos disponíveis; as insuficiências da oferta interna nalguns sectores, nomeadamente aqueles em que os investimentos dos últimos anos foram reduzidos; algumas elevações dos custos salariais não totalmente compensadas por aumentos de produtividade, em particular nos sectores dos serviços e da construção civil; as subidas nos preços dos produtos importados, que, a julgar pelas análises da conjuntura económica internacional da O. C. D. E., se tornaram mais acentuadas no corrente ano. Segundo os índices publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, registou-se no corrente ano uma subida dos preços por grosso.

As taxas de aumento do período de Janeiro a Julho, apresentadas no quadro seguinte, não são, porém, inteiramente representativas, por abrangerem apenas uma parte do ano e estarem influenciadas pelas subidas que ocorreram nos últimos meses de 1089. Assim, por exemplo, o elevado acréscimo da média dos índices relativos ao grupo "Bebidas e tabaco" nos primeiros sete meses de 1070, em relação ao período correspondente a 1069, é devido fundamentalmente à subida brusca do preço do vinho a partir de Outubro do ano transacto.

À semelhança do que já havia acontecido no ano anterior, foram os produtos da metrópole que mais concorreram para a alta do índice geral de preços por grosso.

A este propósito cabe, porém, assinalar a fraca representatividade desse índice quanto a incidência dos preços dos produtos importados do estrangeiro. A título de exemplo, indique-se que nos preços das máquinas importadas para a indústria têxtil algodoeira se observaram nos últimos anos aumentos de 80 a 40 por cento.

Têm sido também registadas elevações de preços em várias matérias-primas e bens intermédios a que correspondem importações vultosas, nomeadamente nas resinas artificiais e sintéticas, matérias corantes, chapas de aço especiais e diversos produtos metálicos.

Índices de preços por grosso (média)

Variações em percentagem

Designação

Índice Geral +3,7 +3,6 +2,1 +4,9 +3,4

Dispositivo fundamental

Alimentação +2,4 +6,3 +6,3 +2,9 +2,2

Bebidas e tabaco +13,2 +4,8 +1,6 +17,6 (c)+3,2

Matérias primas não alimentares, excepto combustíveis -1,2 -2,5 -3,7 0 0

Combustíveis lubrificantes +3,9 -0,8 0 -1,5 -1,5

Produtos da indústria química +´2,4 0 +0,8 +2,3 +1,6

Produtos manufacturados 0 +0,8 -0,8 +1,6 +0,8

Dispositivo complementar:

Produtos da metrópole +5 +6,1 +4,3 +7,9 +5,1

Produtos fabricados na metrópole com matéria prima importada +0,8 +1,6 +1,3 -0,8 -0,8

Produtos das províncias ultramarinas -0,7 -3,3 -3,3 +0,7 +2,1

Produtos do estrangeiro +3,2 0 0 0 0

(a) variação da média de índices mensais em relação ao ano anterior.

(b) Variação em relação ao período homólogo do ano anterior A análise dos índices de preços no consumidor corrigidos das variações sazonais leva a concluir que o ritmo de aumento do custo de vida afrouxou sensivelmente no 2.º trimestre do ano corrente. É significativo que o índice tenha subido nesse período de apenas 0,2 por cento, quando em trimestres anteriores a taxa foi sempre mais elevada.