A mesma instransigigência no essencial, a mesma agilidade na escolha dos caminhos que hão-de garantir a perenidade da nossa permanência no Mundo como nação pluricontinental e plurimocial.

Os mesmos objectivos de paz, interna e externa, na ordem e no progresso, e não por qualquer preço, a mesma força de ânimo para enfrentar as vicissitudes que o destino nos reserve, o mesmo espírito aberto a renovação dos métodos e processos da acção política, imposta pela inevitável evolução das sociedades humanas, pela incessante transformação do meio e das estruturas sociais. Mas tudo isto é ainda pensamento e ensinamento de Salazar, expressos, aliás, com toda a clareza, no seu discurso de Janeiro de 1949, pronunciado na cidade do Porto.

A grande lição do seu alto magistério político decorre limpidamente da admirável percepção que tinha das realidades, do sentido eminentemente prático que imprimia as soluções e as decisões, sem prejuízo, no entanto, antes na sequência lógica, do idealismo quase místico das suas concepções sobre a natureza e os fins superiores do Estado, produto da transcendente compreensão do homem e do seu destino, das enormes potencialidades e também das grandes limitações do género humano. Esta escola, que ele seguia monasticamente no claustro da sua consciência, exigia um agudo sentido do dever e da honra, da dignidade e da justiça, da virtude e do bem.

Mais pão, mais conforto, mais bem-estar para todos?

Sem dúvida, e nessa obsessão constante consumiu a vida (enquanto houver um lar sem pão, a revolução continua) e se consome agora também a vida dos seus continuadores.

Mas conjuntamente com a riqueza, e para além dela, os seus esforços - emanação dos ideias que informam uma filosofia política e selam a acção do estadista - dirigem-se convictamente, decisivamente, à reformulação dos princípios éticos do Estado como pessoa de bem, a criação de um clima social e económico susceptível de fazer prevalecer a justa harmonia dos interesses, de permitir uma coexistência pacifica entre a autoridade necessária do Estado e a liberdade essencial das pessoas, um clima de confiança, de estabilidade, mas também de evolução constante, de revolução na continuidade, por forma a acompanhar-se o ritmo do progresso e as aspirações da comunidade que se serve. Nem de outra maneira é possível a liberdade ou a criação de maior riqueza para todos; nem de outra maneira é possível corresponder aos anseios das gerações que se seguem, da juventude que se renova nos tempos, da qual se recebe a esperança e à qual se deve transmitir a confiança nos rumos a seguir.

Portentosa herança que se insere no cerne das questões mais importantes da actividade dos Estados e também tarefa ciclópica legada aos seus sucessores, pois, tanto ou mais do que a riqueza, esse património está sujeito a perecer ou a dissolver-se no hedonismo fácil, na luta estéril ou caprichosa, na dúvida sistemática, na contestação permanente, na corrupção dos costumes, na eterna batalha entre o bem e o mal.

Estranhos desígnios de Deus!

Salazar repousa finalmente, como diria Antero de Quental, na mão de Deus, na Sua mão direita.

E se lá no alto dos céus "memória desta vida se consente", jamais esquecerá esta Pátria que tanto amou e na qual tem marcado lugar imperecível entre os melhores de todos nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, não está mais nenhum orador inscrito para falar sobre a matéria da ordem do dia. Vou, portanto, encerrar a sessão.

Amanhã não há sessão, para que as diversas comissões convocadas possam dedicar-se mais profundamente aos seus trabalhos. A próxima sessão será no dia 2 de Dezembro, a hora regimental, tendo como ordem do dia o início da discussão na generalidade da proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1971.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 10 minutou.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.

António de Sousa Vadre Castelino e Alvim.

Deodato Chaves de Magalhães Sousa.

Fernando Augusto Santos e Castro.

Henrique dos Santos Tenreiro.

Joaquim Jorge Magalhães Saraiva da Mota.

José Dias de Araújo Correia.

José Guilherme de Melo e Castro.

Manuel José Archer Homem de Mello.

Ricardo Horta Júnior.

Rui Pontífice Sousa.

Teófilo Lopes Frazão.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.

Vasco Maria de Pereira Pinto Costa Ramos.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

Alexandre José Linhares Furtado.

Álvaro Filipe Barreto de Lara.

Antão Santos da Cunha.

António Lopes Quadrado.

Armando Valfredo Pires.

Custódia Lopes.

Duarte Pinto de Carvalho Freitas do Amaral.

Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro.

Francisco de Nápoles Ferraz de Almeida e Sousa.

João Pedro Miller Pinto de Lemos Guerra.

José Vicente Pizarro Xavier Montalvão Machado.

O Redactor - Luís de Avilles.