Nos "Invisíveis correntes" da metrópole salienta-se a nova quebra das receitas de "Turismo" (quase 1 000 milhões de escudos), em flagrante contraste com o espectacular aumento das inscritas nas "Transferências privadas" (3 010 milhões), elevando o respectivo total acima de 11 800 milhões, ou seja, um valor da ordem de 8 por cento do produto nacional bruto a preços correntes de mercado calculado pelo I. N. E. para 1968.

Essa variação das receitas de "Turismo" (das operações cambiais realizadas pelas instituições de crédito e auxiliares de crédito e por elas classificadas na rubrica em causa) não parece conforme com a melhoria registada de 1968 para 1969 nos movimentos turísticos, mesmo admitindo uma descida sensível das despesas médias efectuadas pêlos turistas na metrópole.

Ora, pelo que respeita às mencionadas receitas escrituradas nas rubricas "Turismo" e "Transferências privadas", serão de considerar, entre outras circunstancias: O uso cada vez mais frequente do sistema de "vales internacionais", para a efectivação das remessas de emigrantes e o pagamento de donativos, legados e pensões a favor de familiares dos - mesmos emigrantes, facilita, naturalmente, a classificação desses fundos nas "Transferências privadas". Mas, ao mesmo tempo, ter-se-ão reduzido, consideravelmente, os valores das remessas que se concretizam em notas de banco e que, ao serem transaccionadas nas instituições de crédito e auxiliares de crédito, são, como regra, classificadas em "Turismo"; Por outro lado, parece ter vindo a intensificar-se, ultimamente, a prática de os turistas pagarem, nos territórios de origem, todas as suas despesas de estada nos territórios de destino, ou a maior parte delas, o que, no caso do nosso pais, e com a extensa possibilidade de recurso à modalidade da "pensão completa", tende a diminuir as verbas directamente classificáveis em "Turismo" e a acrescer a viabilidade de "compensação" particular de operações varias por via das agências de viagens.

Nestas circunstâncias (e sem pensar que um volume mais ou menos importante de notas de banco e traveller's cheques, negociados por turistas em Portugal, poderá escoar-se irregularmente para o estrangeiro), julga-se de concluir, que os movimentos registados nas receitas de "Transferências privadas" e de "Turismo" nestes últimos anos não traduzem perfeitamente a evolução dos factos a que essas operações fie ligam.

Quanto ao citado comportamento, entre 1968 e 1969, da balança de capitais da metrópole, cabe notar o que segue: Nas operações de capitais a curto prazo, enquanto o montante de créditos obtidos se elevou de 1699 para 8 407 milhões de escudos, o de reembolsos e amortizações passou de 1862 para 8 952 milhões, o que justifica a quase totalidade da variação líquida negativa de 887 milhões verificada no saldo dessas operações; Nas operações de capitais privados a médio e longo prazos, cujo excedente global se reduziu de 2 660 milhões de escudos, os principais factores da quebra foram: por um lado, as diminuições nas importações de capital por operações sobre títulos (295 milhões de escudos), nos créditos obtidos em relação com operações de mercadorias (1 071 milhões) e nos empréstimos financeiros contraídos (602 milhões); e, por outro lado, os acréscimos dos reembolsos e amortizações de empréstimos financeiros (711 milhões) ; Por último, no que respeita às operações de capitais a médio e longo prazos do sector público, a contracção do excedente líquido (826 milhões de escudos) adveio, exclusivamente, de uma redução nas importações de capitais por empréstimos.

De notar, ainda, que tanto em 1968 como no ano passado a maior parte dos excedentes globais da balança de pagamentos da zona do escudo se projectou nas contas do Banco de Portugal. Entre os 1.º semestres de 1969 e 1970, mostra o quadro VII que a referida balança de pagamentos da zona do escudo averbou uma variação negativa de quase 2 880 milhões de escudos, ocasionada essencialmente pelo forte acréscimo no déficit de "Mercadorias" (8 142 milhões, de que corresponderam 2 745 milhões ao comércio da metrópole com o estrangeiro e o restante às operações das províncias ultramarinas).

Simultaneamente, verificou-se sensível melhoria nos saldos totais de "invisíveis correntes", tanto da metrópole como do ultramar; e nos "Invisíveis correntes" da metrópole o acréscimo das receitas de "Turismo" (quase 400 milhões de escudos) ultrapassou agora, embora por pequena margem, o das receitas de "Transferências privadas".