português, foi de tilo fraterna e compreensiva, razão da nossa verdade que não creio que alguém entre nós a possa esquecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois, sem pretender ser especioso, julgo ainda que não deveria deixar de aqui fazer referência ao explosivo crescimento do Brasil, quer populacional, cultural e social, quer nos aspectos industrial, cientifico e de aproveitamento das suas imensas potencialidades, que tornam já hoje este imenso e próspero país fonte inexaurível de mocidade e energia criadora, numa grande realidade, e transformá-lo-ão, seguramente, em algumas dezenas de anos, num dos mais ricos e poderosos do orbe, para honra e glória suas e da Comunidade Luso-Brasileira.

Só é triste, para não dizer lamentável, que a nossa emigração, e refiro-me à que se canaliza para o estrangeiro, e não, necessariamente, àquela que deveria seguir para as províncias de além-mar - se é que esta se deva assim designar -, não volte a orientar-se para o portentoso Brasil, porque o enfraquecimento da notável projecção que durante tantas décadas ali teve a colónia portuguesa, e que já é um facto, acentuar-se-á cada dia mais em prejuízo do prestígio de Portugal. Trata-se de problema sério para o qual, todavia, se não enxerga solução próxima e válida.

Moo desejaria terminar sem uma palavra de louvor para a actividade cultural ao Real Gabinete Português de Leitura, verdadeiro templo de lusitanidade, que através de cursos rápidos de bom nível, iniciados em 1068, muito vem contribuindo para não deixar fenecer o estudo da história, da literatura, das ciências e até da geografia de Portugal e necessariamente também do Brasil, e das profundas raízes sobre ais quais se vivifica a árvore frondosa da cultura luso-brasileira. Atingia já naquela altura uns quatro milhares o número de jovens que têm frequentado esses cursos. Esta iniciativa tão frutuosa, como o próprio Gabinete, pêlos altos serviços que presta à presença espiritual e cultural portuguesa no Brasil, suo dignos do apoio oficial e do da Fundação de Calouste Gulbenkian sempre pronta a apadrinhar grandes obras de cultura e humanidade, que, aliás, já tem sido concedido àquele Gabinete. Importa, portanto, que a ajuda continue.

Também não quereria deixar de louvar o esforço que apesar de tudo se faz ainda na Colónia Portuguesa, através do seu Conselho Superior, para manter em bom nível o nome de Portugal, como o exemplifica a ida propositada de individualidade portuguesa em 10 de Junho de coda ano, para, no Rio de Janeiro, proferir uma conferência alusiva ao Dia da Raça, Dia de Portugal e também dia do imortal Luís Vaz de Camões, aproveitando a ocasião para nessa cerimónia receber e fazer brilhar um orador brasileiro de alta envergadura intelectual e ou política.

Neste ano foram mesmo dois os intelectuais brasileiros que proferiram discursos: o Senador Passarinho, Ministro da Educação e Cultura e o Dr. Clovis Ramalhete, ambos grandes amigos de Portugal.

Só foi pena que a representação portuguesa tivesse sido tão modesta, mas a culpa foi de quem indicou o nome, e não do próprio, que não pretendia nem desejava a tarefa que lhe foi cometida.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Creio que VV. Ex.ªs registarão com especial agrado, juntando-a às notícias que tive o gosto de lhes comunicar logo na abertura da sessão, a informação das atenções de que foi alvo o nosso 2.° vice-presidente, quando recebido na Câmara dos Deputados tio Brasil, assim como terão apreciado saber como o Dia da Comunidade Luso-Brasileira foi celebrado no Senado daquele grande país nosso irmão. Estas manifestações de sentimento, expressão natural de realidades profundíssimas, são outros tantos factos a assegurarem que a Comunidade Luso-Brasileira só se reforçará e ganhará em incremento e alentos com o correr dos tempos.

Espero que VV. Ex.ªs me autorizem a comunicar à Câmara dos Deputados brasileira que foi com agrado que tiveram conhecimento das suas cortesias para com o nosso 2.° vice-presidente.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Homem de Mello: - Sr. Presidente: Dentro de alguns dias deverá encerrar-se, em Nova Iorque, a vigésima quinta sessão ordinária da Assembleia Geral da organização multinacional denominada "Nações Unidas".

Na qualidade de vogal da Comissão de Negócios Estrangeiros desta Casa tive a oportunidade de fazer parte, pela primeira vez, da delegação portuguesa àquela Assembleia Geral.

Ao chegar a Nova Iorque, logo referi ao representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas - a cuja prudente e esclarecida actuação me apraz render a devida homenagem - que era minha intenção participar nos trabalhos da Assembleia Geral animado do mais sereno propósito de leal, disciplinada e aberta colaboração, o que não poderia invalidar o desejo de, posteriormente e já apenas na qualidade de Deputado, aqui prestar o depoimento que a minha consciência de homem, público viesse a indicar-me.

Pouco importa o que haja sido essa actuação, ainda que eventualmente recheada de um ou outro aspecto positivo, mas, por certo, não isenta dos defeitos inerentes a humana condição. O que importa é que, neste momento, sinta apenas - a responsabilizar o que me. proponho dizer à Câmara - a independência do meu espirito de observação, caldeada por um portuguesismo de que não seria capaz de abdicar e por uma experiência, intensamente vivida, que não poderá deixar de ter radicado significativas implicações.

Em política, a objectividade é um mito, próprio dos néscios e dos ingénuos.

Aos ensaístas e doutrinadores pode estar reservado o campo sereno das cogitações objectivas, na sua qualidade de construtores teóricos de scciedades-tipo de maior ou menor viabilidade prática. Mas ao estadista que, tendo abraçado uma causa, pugna quotidianamente pela manutenção ou conquista do poder, encontra-se vedado o clima sereno ida especulação teórica, na medida em que, na constante defesa e progressão da estratégia que adopte, há-de sempre vir a entroncar-se o interesse da comunidade. No dizer insuspeito, mas esclarecido, de Disraeli, acrescentaria que o homem político só o será verdadeiramente desde que actue por paixão, ou seja, por amor àquilo que em última instância lhe está confiado: o interesse nacional.