O Sr. Roboredo e Silva: - Mesmo assim, Cabo Verde, que se deixou atrasar em relação a Dacar e às Canárias, ainda é um porto importantíssimo de reabastecimento de combustível a navios, pois, apesar de eu neste momento não ter números precisos, creio ainda hoje que devem ser da ordem das 400 000 t os combustíveis que se fornecem à navegação.

Ora, se nós tivermos presente as condições do porto, que não tem abastecimento de petróleo no cais, que é feito nos fundeadouros com barcaças, tão vultoso número de toneladas de combustível que se fornecem aos navios, poderíamos imaginar, se tivéssemos uma infra-estrutura adequada no porto de S. Vicente, dada a sua posição excepcional, como nós conseguiríamos uma situação dominante em relação às Canárias e a Dacar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Roboredo e Silva: - Consequentemente, o futuro da economia de Cabo Verde é, acima de tudo, em minha opinião, a estrutura de um grande porto para a navegação oceânica em S. Vicente de Cabo Verde.

Os estaleiros navais iniciaram-se muito modestamente pela marinha, necessariamente não pelo Comando Naval, mas pelas autoridades da marinha do continente, que, logicamente, são elas que têm de projectar e realizar o desenvolvimento das infra-estruturas navais em todo o território nacional. Mas este foi um primeiro passo, pois a marinha tinha projectos para desenvolver esses estaleiros.

A coisa tomou agora um novo aspecto, como o Sr. Deputado Dr. Cancella de Abreu acaba de informar a respeito de um despacho nomeando uma comissão de técnicos estrangeiros para estudar as bases do desenvolvimento e condições económicas desses estaleiros. Mas não há dúvida - e é justo fazer-lhe justiça - de que foi o Ministério da Marinha que teve a noção exacta da importância que tinha um estaleiro a sério em Cabo Verde.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Roboredo e Silva: - Por outro lado, Cabo Verde precisa de ter uma força naval em permanência de certo poder, dentro da modéstia dos nossos recursos navais; e, necessariamente, para ter permanência uma força naval no arquipélago tem de se lhe dar apoio logístico local. Um dos apoios fundamentais de uma força naval é o estaleiro e condições de reabastecimento. Certamente que para a forca naval as condições de reabastecimento actuais satisfazem, mas não satisfazem para atender às necessidades da grande navegação.

Consequentemente, eu continuo a insistir que o grande futuro de Cabo Verde, que é de todas as parcelas do território nacional indubitavelmente uma das mais firmes no seu portuguesismo, merece que se faça um esforço no sentido de lhe dar todos os meios para fazer do seu Porto Grande o grande porto que deve e tem o direito de pretender vir a ser.

Muito obrigado, Sr. Deputado.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Almirante, porque as suas palavras vieram dar um apoio multo valioso aquelas simples que eu tenho estado a dizer.

O Sr. João Vasconcelos Guimarães: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor!

O Sr. João Vasconcelos Guimarães: - Eu começo por pedir desculpa ao Sr. Deputado Cancella da Abreu pelo tempo que todos nós lhe temos tomado na sua valiosa intervenção. Todavia, tenho obrigação de acompanhar o interesse desta Câmara para o assunto levantado, onde os problemas, quer económicos, quer materiais, quer até estratégicos, como os levantados pelo Sr. Deputado Roboredo e Silva estão, não digo completamente, mas profundamente debatidos.

Sinto-me na obrigação de levantar a minha voz para neste momento prestar homenagem ao grande oficiai de marimba e antigo governador de Cabo Verde comandante Sacramento Monteiro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. João Vasconcelos Guimarães: - Que a todos estes problemas dedicou o melhor do seu esforço, do seu trabalho e até da sua saúde.

Muito obrigado, Sr. Deputado, pelo tempo que me permitiu tomar.

O Orador: - Mas ainda noutros campos, como no da exportação para a Europa, nos períodos de Inverno deste continente, de produtos hortícolas e frutícolas, que aqui só aparecem noutras estações, muito se poderá, todavia, fazer em Cabo Verde. Não falando já nos bananas, que teriam de exportar-se em muito maiores quantidades, nem nos mangas, não quero deixar de me referir às possibilidades da colocação em mercados estrangeiros ou no metropolitano das muitas toneladas de tomates e pimentos que o arquipélago produz.

Se é verdade, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que não saímos de Cabo Verde entusiasmados no que se refere à sua presente conjuntura, poderemos dizer, no entanto, e sem perigo de errar, que as perspectivais quanto ao seu futuro se nos apresentam sob um prisma mais optimista.

As ilhas tem possibilidades naturais que não podem menosprezar-se e são habitadas por uma população boa e simpática, talvez um pouco indolente, devido ao clima, mas muito culta e com um elevado sentido artístico.

Nesta terra, onde a frequência no ensino primário atingiu, o ano transacto, 90 por cento das crianças em idade escolar, encontram-se notáveis prosadores e poetas e numerosos indivíduos com acentuada e valiosa inclinação para a música.

Pois bem, se as gentes de Cabo Verde quiserem, se localmente aparecerem iniciativas válidas e ousadas e houver um vigoroso dinamismo a ajudar o esforço que a Nação está fazendo para a valorização do arquipélago, se se der andamento rápido e eficiente a tudo o que está previsto e aos demais planos que os Governos Central e Local e a Comissão Central de Planeamento vierem a elaborar, se todos, mas todos, ajudarem e colaborarem, posso garantir que o futuro económico e social das ilhas que Diogo Gomes e António da Nola descobriram em 1460 será bem diferente daquele que actualmente é.

A importantíssima situação estratégica de Cabo Verde para a defesa do mundo livre, a presença ali de Portugal há mais de quinhentos anos e a cultura, o génio e a alma lusíada dos Cabo-Verdianos não podem permitir - e não permitirão! - que as ilhas deste arquipélago parem a sua evolução no tempo e que não acompanhem o progresso sócio-económico que caracteriza a civilização da nossa época.

Haja, pois, confiança no futuro de Cabo Verde! A superior orientação e o patriotismo do Presidente Marcelo Caetano, a dedicação e o conhecimento dos problemas ultramarinos por parte do Ministro Silva Cunha, a muita vivência de todos os assuntos do arquipélago pelo Sub-