estima particular que eu lhe devoto, que vem dos tempos muito recuados da nossa juventude e, sobretudo, que devoto à sua inteligência e à sua preparação. Eu apenas ponho a minha dúvida à intervenção de V. Ex.ª, e no aspecto que está a referir, é a dúvida do homem comum, do homem da rua, é que me parece o diploma não extinguir um corpo policial do trânsito. Mandou-o integrar noutro corpo policial. E isso, não é?

O Orador: - Não é, Sr. Deputado Júlio Evangelista. O diploma extinguiu a Polícia de Viação e Trânsito.

O Sr. Júlio Evangelista: - Mas os seus elementos. . .

O Orador:- Não interrompa, Sr. Deputado Júlio Evangelista!

O Sr. Júlio Evangelista: - Mas permitiu-lhes integrar, não?

O Orador: - Permitiu apenas parte desses quadros da Polícia de Viação e Trânsito serem integrados na Guarda Nacional Republicana. A parte. A parte mais modesta desses quadros; aos seus quadros médios e superiores fechou-lhes as portas.

O Sr. Júlio Evangelista: - Muito obrigado. Era esse esclarecimento que eu precisava.

O Sr. Leal de Oliveira: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Leal de Oliveira: - V. Ex.ª talvez nos possa dizer, e peço imensa desculpa de ter intervido, mas houve uma reacção tão repentina que gostaria de saber a razão por que é que não houve essa integração.

O Orador: - Pus exactamente nas palavras que pronunciei antes esse problema a opinião do Governo, pois disse que o Governo não dando ao País conta das razões que motivaram, essa medida tão drástica, deu campo a todos as interpretações, uma das quais considerei injustamente ofensiva da corporação extinta.

Eu, como V. Ex.ª, e julgo como todo o país, com autenticidade não sabemos por que é que a corporação foi extinta.

O Sr. Cunha Araújo: - Acho que o que sobretudo importa é que nós não temos realmente fiscalização na estrada. Noto isso quase de quinze em quinze dias, pois venho do Douro, numa viagem de quatrocentos e tal quilómetros, e encontro um ou outro guarda-republicano debaixo de uma árvore, à sombra, de Verão, com uma pasta na mão, que nos olha simplesmente, e, portanto, sinto-me desacompanhado. Nós os automobilistas, sentimo-nos desacompanhados na esteada.

O Sr. Júlio Evangelista: - Mas se VV. Ex.ªs me permitem todos e V. Ex.ª, em particular, que é o orador, eu então ainda diria mais um aparte, que é um aparte do homem da rua, que sabe interpretar o que sente à sua volta. Eu quero dizer a V. Ex.ª que, nos meios do povo, nos meios rurais, onde eu vivo, onde efectivamente ausculto opiniões, eu devo dizer a V. Ex.ª que, nessa altura, o País aceitou, com júbilo, a medida do Governo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Alguns outros aspectos poderia eu acrescentar aos enumerados, pois também eles, com força igual, me impressionaram. Não preciso de recorrer a essa citação, sendo-o agora, como são, perfeitamente dispensáveis. O mesmo não pensaria com vista à habilitação para apreciar e decidir o problema quando esteve em causa.

O Sr. Ricardo Horta: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Foça favor.

O Sr. Ricardo Horta: - A Assembleia Nacional deve considerar a exposição de V. Ex.ª como transcendente sobre os acontecimentos do nosso país, aliás, não só no nosso país, mas em todos os países. Hoje consideramos-o problema que V. Ex.ª está aqui a levantar, o problema técnico de condução, o problema velocidades, especialmente. A velocidade hoje é comparada como a peste da Idade Média, os acidentes da estrada no Mundo devem matar tantas vidas quase como a peste que lavrava na Idade Média.

Logo, é evidente que os países através dessa impressão, desse acontecimento saliente na vida dos povos têm de reagir, e reagem estruturando todo o sistema que tem de evitar essas mortes. Evitar essas mortes no sentido de impossibilitar que eles marram abandonados na estrada, sem apoio de qualquer natureza.

Ora, nos escalões desses apoios que são necessários na estrada, diz V. Ex.ª que os elementos da ordem da Guarda Nacional Republicana, da Polícia de Viação e Transito e outros precisam de técnica e de meios para assistir m loco onde eles estão morrendo abandonados.

É certo, quero dizer: esses homens precisam de uma diferenciação técnica, de uns conhecimentos de forma que possam evitar parte da extinção da vida desses - coitados - que, por vezes, por sua culpa, outras vezes, por culpa alheia, perdem-na aí nessas estradas.

Mas não é só isso, V. Ex.ª fala no escalão, no escalão dos elementos da ordem, mas nós falamos na estrutura nacional que precisamos urgentemente realizar desde os órgãos que vão com o perigo que está no lugar do acidente até ás comunicações perfeitas, até aos órgãos hospitalares com as suas equipas e os seus equipamentos capazes de ressuscitar e salvar a vida que está a falhar. V. Ex.ª sabe que morrem cerca de 30 por cento dos feridos que podiam ser salvos, por insuficiência de meios, destes meios escalonados, destes meios cívicos, que uma nação precisa de ter.

Agradeço a V. Ex.ª as informações e felicito-o por ventilar um grave problema.

O Orador: - Eu é que agradeço as palavras de V. Ex.ª e reconhecer-me-á o direito de eu procurar falar só daquilo que sei.

Tenho, no entanto, perfeita sensibilidade para ouvir as palavras que V. Ex.ª pronunciou sobre um dos aspectos fundamentais da situação do tráfico rodoviário no nosso país, porque ainda outro dia tive. durante largo tempo, a felicidade de ouvir o ilustre médico que é o chefe de serviços de neuro-cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa, focando exactamente o aspecto que V. Ex.ª aqui sublinhou. Portanto, tenho sensibilidade para compreender a gravidade desse aspecto do socorro na estrada. Não sei dele suficientemente como V. Ex.ª para me atrever a debatê-lo aqui em profundidade, procuro falar só de alguma coisa que sei.

Dado que a qualidade de pessoal de uma polícia de trânsito é o seu melhor capital, deve à Brigada de Trânsito oferecer-se o mais vasto campo de recrutamento e ser ele criado através das exigências recomendadas para a especialidade, incluindo testes psicotécnicos.