ções administrativas, encontrando-se ainda os serviços tolhidas por deficientíssimas instalações, por falte de pessoal e de apetrechamento e por exiguidade ou inexistência de verbais com que cumprir a sua missão.

De salientar também que, equacionada com a grande importância do seu mister na vida ultramarina, a classe veterinária é uma que ali definitivamente carece de valorização, devendo ser-lhe dada maior projecção, pois quanto mais elevado o seu nível, melhor contributo poderá proporcionar ao avanço pecuário daqueles territórios.

O aumento rotineiro de entre 2 e 3 por cento que vem caracterizando o efectivo de bovinos da província não é sequer suficiente para cobrir o acréscimo de uma consumo interno que evolui mais ràpidamente que a produção, podendo considerar-se o seu armentio como em franco retrocesso pedante as exigências crescentes daquele mercado.

A adicionar a uma já deprimem-te situação, a África austral foi este ano atingida por uma calamitosa estiagem que dizimou dezenas de milhares de cabeças de gado, deixando a pecuária moçambicana em crise, ou mesmo prostrada em algumas regiões.

Não com a mínima intenção de confronto, mas apenas para se poder avaliar da extensão desse desastre, mencionamos que na vizinha República da África do Sul, onde o criador de gado usufrui de uma sólida infra-estrutura económica e de um vasto programa assistência do Estado, chegaram a ser mobilizados transportes terrestres e aéreos para deslocações maciças de forragens e gado, com visita ao salvamento deste. Os agricultores, cujas dividas ultrapassam 52 milhões de cantos, até para compra de alimentos para sustento próprio recusaram novos empréstimos oferecidos pelo Governo, dada a sua impossibilidade de arearem com mais encargos.

Em Moçambique, os criadores tiveram de depender dos seus já debilitados recursos e muitos houve que durante meses a ao se viram obrigados a despender mais do que que possuíam em deslocações de gado para as margens de rios ou lagoas, na compra e transporte de alimentação e até de palha, na abertura de poços, etc., numa desesperada e muitas vezes vã tentativa para manter vivos os seus animais.

As populações locais sofreram as piores agruras e, além da mortandade de gado, que representa um cruel golpe para a sua frágil economia, ou de se terem visto na contingência de venderem animais a pataco de preferência a deixá-los morrer por falta de pastos ou de água, chegaram ao ponto de terem de consumir, para se manterem vivos, as pequenas quantidades de milho, que, como é sua tradição, de um ano para outro guardavam da sua safra como reserva para semente.

Mas as dificuldades da pecuária não se limitam a estas, de natureza transitória, a que as secas deram maior acuidade.

Elas são crónicas e bem mais profundas.

É o desinteresse geral pelo sector pecuário; é a descapitalização desta actividade em direcção a outras de maior reprodutividade; é a falta de preços compensadores; é o alheamento total da juventude pela criação de gado; é o agravamento sucessivo do preço de tudo quanto interessa às explorações; são dispositivos anacrónicos da lei, que apenas permitem o regime de arrendamento de terrenos para uns pecuários ou que obstam à inclusão nas concessões de lagoas ou pequenos cursos de água, deixando evaporar este precioso líquido, em vez de facilitar a sua utilização, para tornar produtivas grandes extensões de terra; é a falta de acessibilidade ao crédito, uma vez que as concessões provisórias não são susceptíveis de hipoteca e ainda porque as principais entidades prestamistas, sendo polivalentes, lògicamente não arriscam os seus dinheiros em incógnitas, optando por sectores que se lhes afiguram como seguros e rentáveis, como sejam o comércio, a indústria e a construção.

Enfim, tudo parece concorrer para dar ao investimento pecuário o carácter de uma aleatória aventura, que explica a total ausência nesta actividade de ca pitais metropolitanos e estrangeiros, apesar do óptimo mercado que o exterior oferece para a carne.

Note-se que, neste sector em especial, defendemos a livre entrada de empreendimentos estrangeiros, que, com o seu capital, com a sua experiência e com as suas avançadas técnicas, podem actuar como elemento catalisador de um maior e mais rápido desenvolvimento da criação animal na província.

Estas poucas contas de um rosário de dificuldades explicam o motivo por que, de 1967 a 1969, apenas houve um aumento de três criadores registados por ano e por que, no mesmo período, o número de produtores de leite baixou de 79 para 74.

Este estado de coisas está na base do nefasto despovoamento que vem debilitando vastas áreas do interior, provocando o imobilismo dos seus centros populacionais e acarretando os graves perigos de um vácuo rural a favor de uma desmedida concentração de gentes e de investimentos nas urbes, em ocupações o iniciativas de menores riscos e maiores antieconómicas e tão desfavoráveis.

Basta estabelecermos um confronto sumário com os preços em vigor noutros nossos territórios para verificarmos o quanto é insuficiente o seu nível em Moçambique - circunstância esta que nos anos mais próximos bem poderá conduzir à vergonha de a província ter de importar carne para as suas necessidades, em vez de se alçar à exportação.

Na metrópole é garantido ao criador um preço médio de 30$ o quilo, sendo de 38$ para a novilhada. Em Luanda o preço mínimo é de 16$ 10 o quilo, acrescido de $10 ou $20 para as melhores carcaças e, ainda, de 2$ ou 4$ para a carne classificada, sendo o nível de vida ali idêntico ao de Moçambique.

Em Lourenço Marques o criador recebe por uma tabela que remete 80 por cento do gado para um escalão de «comum», pago de 8$ a 11$50 o quilo - preços manifestamente inadequados até mesmo para as mais fracas graduações de carne.

Um ponto a que atribuímos capital importância é que os baixos preços pra ticados para essas categorias, não