Economia e do Ultramar, para que se ponderem devidamente os inconvenientes de ordem política e económica que as medidas restritivas tomadas relativamente ao intercâmbio comercial com o ultramar estão a produzir.

E penso que uma reflexão atenta sobre o assunto levará, como julgo ser de elementar justiça, à sua completa revisão.

Vozes: -Muito bem, muito bem l O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vamos passar à

Continuação da discussão na generalidade das propostas de lei sobre a protecção ao cinema nacional e sobre a actividade teatral.

Tem a palavra o Sr. Deputado Peres Claro.

O cinema, que á sempre afinal teatro gravado numa fita de celulóide, pode ser usado em qualquer recinto, tendendo cada vez mais para entrar em nossa casa. Não será muito difícil prever que, em futuro próximo, as casas para projecção de filmes deixem de existir. A redução do formato do filme e o aperfeiçoamento. e o embaratecimento dos aparelhos de projecção tornam cada vez mais fácil a projecção de filmes em casa de cada um, diariamente, aliás, apresentada pela TV (que ainda não prevaleceu por razões económicas, projectando filmes antigos em vez de modernos, mas que acabará por ter os estúdios a trabalhar só para si).

O cinema, como espectáculo de multidões, tende assim, pura acabar, passando apenas a entretém familiar. O teatro, esse é que será sempre o mesmo, quer os actores representem no palco, quer junto dos espectadores. Poderá mesmo vir a ter as suas épocas de incremento, quando de vez em quando as populações reagirem, por necessidade, contra a falta, de .convivência social que o cinema, instalando-se em casa de cada um, provocará, como, aliás, a TV provoca já. Parece-me, pois, por esto simplista arrazoado, que nem chega a ser profecia, por serem já evidentes os processos de acontecer, que a nossa atenção deverá incidir na actividade teatral e nas razões da sua crise.

Segundo a proposta governamental, apesar da política de subsídios iniciada em 1950 (e da qual a arte cénica muito itera beneficiado), «a situação em que se encontrava o teatro esteva longe de melhorar no decurso das duas últimas décadas». Donde concluir-se que a solução da chamada crise de teatro não está só na distribuição de subsídios. Num evidente desejo de ocorrer a essa crise é curioso notar que os .profissionais de teatro, em exposição entregue ao Governo há pouco mais de um ano, se bem que aceitem a concessão de subsídios (que aconselham seja feita «sob rigoroso regime de fiscalização»), propõem, porém, uma série de medidas de verdadeiro fomento da ante teatral, que a proposta tomou em consideração, e que gostaríamos de ver postas em execução em curto espaço de tempo.

O mais fácil, como é de calcular, vai ser o reforço do Fundo de Teatro e a distribuição de subsídios, e para aí se desviarão as atenções, apesar das boas intenções. Já assim sucedeu com a Lei n.º 2041, de Dezembro de 1950. E um documento notável, com notável parecer, com muitas das soluções de verdadeiro fomento agora apontados, mas necessitado de confirmação vinte anos depois, porque não foi devidamente seguido. Terá a mesma sorte o documento que sair deste último debate? Terá, se a preocupação de salvar o que ainda resta se sobrepuser à necessidade urgente de se descer à raiz do problema.

Para haver teatro trás coisas fundamentais são precisos: autores, actores e espectadores. E da; verdades comezinhas que todos sabem, não sendo, pois, de ciência nenhuma enunciá-la. No entanto, é nessa trilogia que reside todo o problema teatral e dela se tem de partir para sua apreciação.

Não é obrigando as companhias de teatro subsidiadas a representar um original português por ano que se fomentará o aparecimento de dramaturgos. E verdade que será razão de preferência para a concessão de subsídios o maior número de originais portugueses representados, mas não menos verdade é que basta um para que o subsídio seja concedido e não se impõe que seja de autor novo. A própria companhia que explora o Teatro Nacional não se arrisca a revelar novos valores, apesar do subsídio permanente que recebe e que este ano ultrapassa os 200 contos mensais.

Não é provocando a instalação de casas de espectáculos em edifícios para outros fins construídos ou estimulando a construção de cine-teatros na província que se refrescará e aumentará o número dos nossos bons actores. E urgente a reorganização do ensino da arte de representar, apoiado por cursos ou escolas de iniciativa particular e por uma sala de teatro experimental, que, em l igação com o Teatro Nacional, lance novos autores e ensaie novos técnicas.

Não é mantendo em Lisboa apenas uma companhia de teatro largamente subsidiada e outras com subsídios diversos que se chamará as populações ao teatro. Tem de ser encarada com urgência a organização de duas grandes companhias nacionais de teatro, uma em Lisboa e outra no Porto (e isto falando apenas na zona-europeia de Portugal), mas com a obrigação de percorrerem a província sem a paga exagerada que as companhias hoje pedem, quando soo solicitadas, mesmo que largamente subsidiadas e com as casas em reduzida assistência.

Sabem os que residem em Lisboa quanto custa uma noite de teatro a uma família, mesmo a um casal, que tenha de deslocar-se, ainda que seja apenas de Setúbal, isto é, podendo ir dormir a casa? As estatísticas que se fazem sobre a presença de público nos teatros têm em conta apenas as populações de Lisboa e do Porto, que têm aumentado, mas não em gente que possa ou goste de