Mas, em contrapartida, o ar pode ser, e geralmente á, o veículo de uma série de elementos nocivos, com ou sem vida, de uma série de substâncias prejudiciais, e mantém as condições que permitem que os nossos sentidos sejam afectados, transmitindo-nos, por exemplo, ruídos e outras sensações que tendem a ultrapassar os limites da nossa capacidade de recepção.

Por estas rápidas considerações se verifica o papel de importância que o ar desempenha na manutenção daquilo que no nosso habitat depende da Natureza e como se impõe o procurarmos que ele nos seja oferecido nas melhores condições possíveis, não poluído.

Empreguei a palavra que hoje representa uma das maiores preocupações dos que se sentem responsáveis, conscientes da necessidade de atacar rapidamente o problema; se o não fizermos, ele tenderá a agravar-se, não só pelo aumento constante do nível da poluição, mas também pela acção convergente do acréscimo populacional.

No que disse, marquei bem o desejo de n esta ocasião só me referir à poluição da atmosfera e no seu vasto âmbito somente ao problema em relação com a saúde do homem.

Deixando de parte a citação de muitas fontes de poluição, de entre as quais refiro, de passagem, a poluição pelo consumo de tabaco, esquecendo a referência a muitos poluentes de importância evidente, vou referir-me, porque mais frequentemente citados e porque talvez mais perigosos, oa que advém directamente do surto industrial e outro com esse surto relacionado, o do aumento crescente dos veículos a motor.

O problema em relação com o desenvolvimento industrial teve no passado uma enorme importância, visto que, por desconhecimento ou minimização do perigo, não se procuraram imediatamente soluções para evitar que cada estabelecimento industrial viesse a constituir fonte de poluição atmosférica; está na base de todos os episódios verificados em escala comunitária e tão frequentemente citados, dependendo quase sempre de períodos de condições me teorológicas excepcionais que multiplicavam os efeitos de uma poluição constante e não controlada. Estão neste caso os desastres do vale do Meuse, na Bélgica, em 1980, de Donora, nos Estados Unidos da América, em 1948, de Poza Rica, no México, em 1950, de Londres, em 1958, de Nova Iorque, em 1958, e outro, de muito interesse, que se propagou, como uma vaga, da costa este dos Estados Unidos da América na direcção oeste, até ao Japão e atravessando a Europa, enfare 27 de Novembro e 10 de Dezembro de 1962, provocando à sua passagem um aumento apreciável do número de mortos; de todos, parece ser o responsável o surto industrial e em todos parece ter sido o bióxido de enxofre o agente poluidor. Já nos episódios que de tempos a tempos têm afectado Los Angeles parecem ter sido os poluidores responsáveis os produtos libertados dos motores de explosão.

Estes episódios são episódios agudos, que demonstram a existência de um perigo potencial, grave, mas que, em meu entender, embora s de poluição atmosférica às razões de ordem económica, sendo possível afirmar que, para cada caso, há uma solução que se aproxima, ou chega mesmo a atingir o ideal, o da não poluição do ar perante a laboração industrial. Ocorre citar um exemplo frisante de um dos mais recentes empreendimentos levados a efeito, no Norte de Portugal metropolitano, na nova refinaria de Matosinhos, em que o problema foi estudado e resolvido tão completamente quanto o permitem os conhecimentos actuais; embora ainda não a conheça em pormenor, julgo que a solução, direi antes soluções adoptadas, foram dispendiosas, mas nunca um capital foi tão bem aplicado se pensarmos quão elevado deve ser o multiplicador a usar para avaliação dos benefícios traduzidos em saúde do indivíduo, na manutenção de instalações próprias e alheias, em resumo, na manutenção do ambiente próprio de uma comunidade, na sua não poluição.

Ao referir-me aos episódios agudos verificados em Los Angeles, disse que, muito possivelmente, o seu aparecimento demonstra o enorme factor de poluição que constituem os veículos a motor; a esse factor me vou referir tão rapidamente quanto possível, uma vez que ele constitui nos nossos principais núcleos urbanos a causa principal da poluição atmosférica. Os episódios verificados em Los Angeles devem-se, em parte, às condições geográficas da zona em que se verificam; essa zona é constituída por uma estreita planície que borda o Pacífico e que se eleva lenta e progressivamente para o interior até uma altitude de 600 m, antes de atingir as montanhas que a limitam a leste, formando como que uma bolsa natural em que a brisa marítima se desloca muito lentamente. Não se verificando um mancado arrefecimento das camadas mais elevadas da atmosfera, não se formam as correntes ascendentes quentes que tenderiam a levar para es camadas superiores os elementos poluentes, mantendo-se praticamente estáveis nas baixas camadas e originando o que, por corrupção, se designa por smog que, se em Londres tem justa aplicação, não a tem em Los Angeles, onde se verifica a existência de smoke, mas onde, habitualmente, não se forma o fog. É este smog que acarreta sempre perturbações do aparelho respiratório, por vezes graves, e da visão, escurece o ambiente e prejudica fortemente a vegetação. Constitui a prova evidente de uma poluição crónica, que é, em grande parte, dependente do crescente aumento do número de veículos a motor; os exames feitos parecem demonstrar que são os produtos dependentes da combustão da gasolina que estão em causa, sobretudo os óxidos de azoto e hidrocarbonetos, produtos que só por si provocam a inquietação das mucosas a que nos referimos, mas que em face das reacções químicas que se dão na atmosfera levam a uma formação exagerada de ozono, cuja acção irritante é bem conhecida e estudada. De entre os restantes restantes em causa, a dois me quero referir especialmente: ao monóxido de carbono e às partículas sólidas como o ca rbono e os sais de chumbo. O monóxido de carbono, a cujas propriedades não cabe aqui ferir, é um tóxico insidioso que demonstra, pela hemoglobina uma afiai-