venham a incrementar ainda mais esta corrente exportadora no interesse da vinicultura e do País, pois não existirão então problemas de vinhos.

No quadro actual, caracterizando uma produção que ainda não chegou a atingir a média, quando não existem stocks, não parece que se ofereçam quaisquer dificuldades em manter o mercado animado, em assegurar a prático de preços equilibrados e em garantir a tranquilidade aos produtores. Bastará que a intervenção da taxa paga pela produção seja garantida pelo Governo: a intervenção permanente da Junta Nacional do Vinho.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E não tenho dúvida alguma de que o erro, com rotura unilateral de um contrato expresso entre a lavoura e o Governo, deixando a Junta de estar compradora na campanha finda e nesta até ao presente, no que a representação da lavoura não estará também isenta de culpas, não possa ser rápida e decisivamente remediado, anunciando-se, como espero, uma imediata intervenção por compra de vinhos.

Na firmeza, conhecimento do problema e senso das realidades do Sr. Ministro das Finanças e da Economia fio a certeza de que não se hesitará em actuar com prontidão e oportunidade. Creio que podemos ficar todos tranquilos, como aliás é bem necessário.

E posto isto volto ao tema do meu dizer - o Douro, a situação da produção duriense.

Afigura-se-me existir a tendência para continuar a analisar o problema duriense como uma questão comercial, que aliás continua estruturada em moldes que já não pertencem ao nosso tempo.

Governantes, técnicos, dirigentes, comerciantes e muitos agricultores dão-me constantemente a ideia de que á o problema da comercialização que os perturba, animando discussões, enchendo relatórios, ocupando tempo e feitio ...

Sem negar que também haja um problema comercial ou de comercialização do vinho do Porto e considerar até que é indispensável que a produção organizada entre activa e decididamente no fabrico e, quiçá, na comercialização do vinho do Porto, estou seguro tanto de que esses problemas não oferecem hoje grandes dificuldades, se efectivamente se quiserem enfrentar com espírito novo e técnicas modernas, como, especialmente, de que a grande questão dos nossos dias é, para o Douro, um problema de produção, de possibilidade de continuar a produzir.

E que, no condicionalismo actual de produção, o Douro não poderá subsistir por muitos anos. A escassez de mão-de-obra e os níveis para que tendem os solários, consequência directa da rarefacção do factor trabalho, impedem que os lavradores possam continuar a p roduzir. Na última década os salários elevaram-se quase duas vezes e meia, enquanto os preços máximos fixados para os mostos não chegaram a ter um aumento de 80 por cento e os preços obtidos na exportação de pouco mais de 20 por cento subiram.

Esta síntese é suficientemente expressiva e vai continuar a agravar-se, pelo que não poderão alimentar-se ilusões. Nos condições actuais a produção duriense encaminha-se para a progressiva inviabilidade económica.

O Sr. Cunha Anojo: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o prazer.

O Sr. Ganha Araújo: - Queira desculpar-me a interrupção, mas parece-me que mal parecia que, sendo eu um homem do Douro, que representa justamente nesta Assembleia o círculo em que se integra a sua região vitivinícola, não trouxesse uma palavra de aplauso às considerações que V. Ex.ª está proferindo acerca de um problema da minha região. De aplauso e também de congratulação, por verificar que, não sendo V. Ex.ª do Douro ...

O Orador: - Mas sou.

O Sr. Cunha Araújo:- Ah é? Queira desculpar. (Risos). Julgava que V. Ex.ª não tinha raízes no Douro.

O Orador: - Nasci no Douro.

O Sr. Cunha Araújo: - Ah, nasceu no Douro! É lá proprietário também?

O Orador: - Também sou lá proprietário. (Risos).

O Sr. Cunha Araújo: - Também é lá proprietário! Mas de qualquer modo não o conhecia nessa qualidade, porque a actividade de V. Ex.ª se dispersa em tal medida ... Mas o que me interessava focar aqui, sobretudo, é que V. Ex.ª costuma justamente dedicar a sua actividade aos problemas que lhe merecem respeito, que têm interesse nacional, e, portanto, daí a minha congratulação. Até porque o interesse de V. Ex.ª e o interesse nacional que está reconhecendo à questão me trazem a mim a grata convicção de que afinal o vinho é, contrariamente àquilo que foi dito recentemente aqui nesta Assembleia, um produto de primeira necessidade. Aqui e no ultramar, pois o vinho é pião que sustenta os homens que ali se batem pela sobrevivência da nossa pátria.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª Efectivamente, eu não sou conhecido como homem do Douro, porque há outros problemas que maior projecção têm na região em que vivo, e não é dar mais características sob o ponto de vista duriense, que me têm levado constantemente a ocupar-me deles, quando para mais os durienses têm estado mais bem entregues.

O Sr. Cunha Araújo: - Fico muito contente, pois V. Ex.ª, afinal, sempre é meu companheiro de desgraça! (Risos).

O Orador: - E não terá o problema solução?

Teremos de ver o Douro majestoso abandonado, sem que possa vir a constituir motivo de enlevo para o turismo que sulque o rio com a retardada navegabilidade?

Teremos de renunciar a um produto que lendàriarnente anda ligado ao nome de Portugal, à região que o produz e à cidade que floresceu e leva como nome?

Seria inglório para o martírio e esperança de gerações, seria grave para a economia de uma região, seria renúncia para os técnicos e dirigentes de uma geração.

Seria admissível ver os socalcos durienses transformados em novos mortórios, agora não pela acção da filoxera, mas pela inacção do homem?

Seria concebível admitir a tese de que a solução do Douro está em cimentar os socalcos, como expressão de incapacidade?

Seria compreensível que tivesse de pensar-se em termos florestais ou de plantas exóticas para aproveitar uma potencialidade que apenas a vinha imortaliza?