tem, no campo da técnica, quanto a questões e problemas específicos das zonas tropicais, como na saúde, na educação, na agricultura e na pecuária, muito a dar, diríamos mesmo, mais a dar do que a receber.

Vozes:-Muito bem !

A Oradora: -Por isso, lamentamos que, por objectivos puramente políticos, aquela Comissão e outras das Nações Unidas privem muitas vezes o nosso pais de poder colaborar positivamente nos vários campos e, particularmente, naqueles em que poderia contribuir com a sua técnica e longa experiência para o progresso e desenvolvimento das populações menos desenvolvidas do Mundo.

Vozes: - Muito bem !

A Oradora: - Contudo, não deixamos de dar o nosso apoio e colaboração sempre que se apresentam resoluções ou recomendações com fins humanitários e científicos, desprovidas de carácter político, o que, infelizmente, vai sendo raro naquela organização internacional. Até mesmo na 3.ª Comissão (Cultural, Social e Humanitária), Comissão que se ocupa dos direitos humanos, os temas suo de tal modo politizados que o objectivo humanitário a atingir se perde totalmente, não ao nos debates agressivos, mas também nas conclusões arbitrárias ou discriminatórias, eivadas de sentido político.

Assim aconteceu, mais uma vez, na 25.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorreu de Setembro a Dezembro de 1970.

Temas como o da utilização dos fundos dos mares e leitos dos oceanos paro fins pacíficos, com os problemas que envolve da extensão da jurisdição nacional sobre as águas além das costas, e as regras da exploração dos recursos dos leitos dos mares, mereceram do nosso país, com. uma larga e extensa faixa marítima, especial interesse, tendo sido enviados como delegados dois especialistas na matéria.

Variadíssimos foram os assuntos distribuídos pela agenda de trabalhos das diferentes comissões, como: a cooperação internacional para o uso pacífico dos espaços extraterrestres, o problema da pirataria aérea, a criação de um fundo especial nuclear, a promoção do comércio internacional com vista o, acelerar o desenvolvimento económico, a organização das Nações Unidas para o desenvolvimento industrial, a conferência das Nações Unidas sobre o ambiente humano, a realizar na Suécia em 1972, onde serão tratadas as questões da poluição, erosão e sobrevivência do homem, a assistência técnica no campo dos narcóticos, o papel da ciência e da tecnologia no desenvolvimento das nações, a educação da juventude no respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais, o problema da discriminação racial e o da intolerância religiosa, os proble mas da condição da mulher, a assistência em caso de catástrofe natural, o problema das pessoas idosas e outros que seriam de grande alcance e utilidade para a humanidade, se fossem discutidos com isenção e libertos da paixão política que domina aquele ambiente internacional.

Quanto a Portugal, membro da Organização desde Dezembro de 1955, foi, uma vez mais, alvo de ataques por parte dos países afro-asiáticos e comunistas, devido à atitude firme e persistente da sua política ultramarina.

Mas nenhuma acusação nova surgiu, a não ser a da construção de Cabora Bassa, considerada pelos países que pretendem uma África negra como um reforço à existência do português europeu em África, em detrimento das populações nativas. À falsidade desta acusação contrapôs a delegação portuguesa o plano gigantesco de promoção económica e social de todos as populações de Moçambique, indistintamente.

Não se conclua, porém, de quanto se disse que «não vale a pena» ou que «é tempo perdido» a nossa actuação naquela organização internacional.

O Sr. Mota Amaral: - Muito bem!

A Oradora: - Apesar das acusações e dos resoluções discriminatórias e injustas que surgem contra o nosso país todos os anos, observa-se que os países ocidentais e alguns outros se vão apercebendo de quanto representa a nossa política ultramarina para a defesa dos valores ocidentais e para o próprio progresso dos terras e das populações africanas no desenvolvimento de verdadeiras sociedades multirraciais.

Julgo que valerá a pena intensificar o nosso esforço, quanto a defesa do ultramar, na frente de batalha que é a diplomacia portuguesa, não só nas Nações Unidas, mas também nas relações bilaterais e em todos os lugares em que ela se exerça.

O Sr. Ricardo Horta: - V. Exa dá-me licença?

A Oradora: - Faça favor.

O Sr. Ricardo Horta: - Eu estou a ouvir V. Exa com muita atenção e muito apreço pela forma como está a pôr um problema internacional. E já que V. Exa chamou o interesse que há no sentido de todas as individualidades, seja em que preposição forem, actuarem no sentido de interesse nacional, semelhante ao que se passa, por exemplo, nas Nações Unidas, eu posso afirmar a V. Exa que é de alto interesse, em todas as organizações internacionais em que o País esteja representado internacionalmente, mostrar n sua verdade, mostrar a sua razão, mostrar todos os problemas que estão e que se investem no sentido das promoções sociais nas nossas províncias ultramarinas. Porque muitas nações não compreendem muitas vezes a nossa passividade. Nas precisamos de entrar sempre nas organizações que representamos no sentido activo, mas com sentido diplomático e hábil nas manobras que temos de fazer como eles fazem também.

Eu quero-me referir a uma alta instituição internacional de que fui representante do nosso país, a forma como os países afro-asiáticos e comunistas atacaram o nosso país frontalmente. As acusações vinham de nações com menos razões e autoridade moral de nos atacar e foi mostrada a falta dessa autoridade às pessoas responsáveis e foi-lhes mostrado que logo que tirassem o nosso país da discussão de determinado tema as nações comunistas e afro-asiáticas votavam connosco. E assim sucedeu. Logo que tiraram o nome de Portugal, que era o objectivo, e não a nossa política em África, ou, pelo menos, os razões, movimentavam-se no sentido social ou de interesse internacional, mas era o interesse que tinham em combater o País.

E logo que foi tirada a vinculação do País, Portugal saiu vitorioso no sentido da discussão básica do que se tratava nesse momento.

Portanto, em todos os momentos nós devemos combater, apresentar a nossa razão e ser hábil diplomaticamente.

Vozes:-Muito bem !