dos técnicos que planificam? Que hão-de pomar os transmontanos da sinceridade dos políticos, da independência dos dirigentes, da justiça dos governantes?

Não pode continuar a ignorar-se um problema, a desprezarem-se os direitos de uma região, a protelar-se uma decisão.

Exige-o a tragédia de uma região, a debandada de uma população. Postula-o o princípio da equidade e o cumprimento da justiça distributiva. Impõe o direito aos frutos de riqueza própria, a igual participação dos benefícios do progresso.

Já baeta de palavras... É hora dos actos claros e decisivos que assegurem a justiça e garantam a equidade. É hora de resolver um problema que todos conhecem, que ninguém nega, mas se arrasta com confrangedora indiferença e requintada injustiça. .

Trás-os-Montes impugna perante a consciência do País e as responsabilidades do Governo a situação que lhe criaram e em que mantém a região.

O Sr. Leal de Oliveira: -Dá-me licença?

O Orador: - Faz favor!

O Sr. Leal de Oliveira: - É para dizer somente duas palavras e essas palavras são de agradecimento por ter focado num ponto que estrangula o desenvolvimento do Algarve...

O Orador: - Que também estrangula o Algarve...

O Sr. Leal de Oliveira: -... e que, de certo modo, estrangula, também, o desenvolvimento do Alentejo. E eu, pelos dois distritos, agradeço as suas palavras, por ter focado neste ponto tão importante!

O Orador: -Somos, efectivamente, solidários na desgraça.

Mal irá se continuarem as palavras, as promessas dilatórias, a indiferença comprometedora ... Os escravos também se revoltam!

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Barreto de Lara: -Sr. Presidente e Srs. Deputados: É do conhecimento geral, provocando geral consternação, que voltaram a repetir-se graves incidentes em vários estabelecimentos de ensino da cidade de Lisboa. Só que, desta vez, as ocorrências revestem mais fartos motivos de inquietação e alarme, pois as desordens seguiram-se a situação que, exactamente, fazia prever as evitaria.

Com efeito, acabara de submeter & consciência do País, o Sr. Ministro da Educação Nacional, um plano de reforma de toda a estrutura educacional. E apresentara-o sem qualquer arrogância estatal, sempre indesejável, antes com a humildade própria de quem se angustia na busca de solução válida. De facto, e dentro da disciplina de governação anunciada já pelo Sr. Presidente do Conselho, quando significou a necessidade de o português se desabituar de ver no Poder Público a providência que tudo há-de resolver e decidir, o Sr. Ministro da Educação sujeitou-se e sujeitou o seu plano à consciência da Nação, num apelo veemente à sua colaboração válida e eficaz.

Ora, desta sucessão de ocorrências advém, exactamente, o acréscimo de preocupação, pelo menos no que a mim toca, que sempre do lado estive e estou dos que exigem uma reforma do ensino (e não só neste sector nacional) a toda a latitude e profundidade, e o demonstrei vivamente quando, de pé e altivo, deste mesmo lugar, rejeitei a moção que veio a ser aprovada e se seguiu ao aviso prévio do Sr. Deputado Miller Guerra.

E que, e apenas evocando sobre mim tão-só a autoridade que me advém de atitudes passadas, como aquela que acabo de referir, flua bem clara e bem esclarecido que não são afinal as reformas o objectivo dos contestatários de vários matizes, mas antes criar focos de fricção e razões de conflito, apesar da disparidade de formações, no objectivo comum de pôr em cheque e criar problemas, e sempre mais problemas, aos poderes públicos. . Uns porque pensam que o Poder se fortalece quando faz exibições de força; outros quando provocam demonstrações de força, no objectivo de chamar atenções para as vítimas que são a fundamentação e o escudo das suas actuações. Ambos extremistas a pedirem combate forte, vivo, sem descanso em todos as frentes e de todos os modos.

Professores que não querem ensinar e estudantes que não querem estudar são conscienciosamente aliciados ora por extremistas que à renovação preferem o ancilosam en to das instituições como medida de defesa das suas comodidades pessoais, ora por extremistas que não querem ver desaparecidos, nem sequer atenuados, os focos de infecção e a razão para criar outros, incentivando aqueles.

E como frente de combate na primeira linha toda uma mocidade generosa e idealista julgando combater por razões válidas, que não pressente como e donde é manobrada.

E, finalmente, como bola jogada por hábil mão jon-glouse, toda a amorfa e inerte maioria silenciosa, grande vítima afinal dos distúrbios, que, não se apercebendo quanto deles é ré também, pelo seu comodismo ou por outra razão tão inválida como este, fica a ver passar os comboios.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Roboredo e Silva: -Tenho seguido com a maior atenção as judiciosas e corajosas considerações de V. Ex.ª

Desejaria, no entanto, aproveitar para dizer, já que me é consentida a oportunidade, que foi cheio de esperança que eu e, creio poder afirmar, todos os portugueses de boa vontade seguimos, nesta grave perturbação estudantil, a clemência do venerando Chefe do Estado e a imensa tolerância e desejo de franco diálogo e as profundas reformas já anunciadas pelo Governo, nomeadamente pelo Sr. Ministro da Educação Nacional.

Todavia, os poucos estudantes que fazem da sua vida académica campo de nítida actividade subversiva, prejudicando a esmagadora maioria dos seus colegas, não quiseram compreender tanta generosidade e reagiram negativamente. Ora, o Pais, nesta fase difícil que atravessa, não pode tolerar agitações e depredações que prejudicam a paz nos espíritos e nas ruas, sem a qual a Nação não pode prosperar..

Depois, esta minoria de jovens transviados esquece-se de que da sua geração sairão os homens de amanhã e que, sem preparação técnica e cultural e sem a formação moral mínima que lhes têm de ser requeridas, não estão em condições de ocupar os altos postos que os esperam na Administração.

Acompanho, pois, V. Ex.ª, pedindo a atenção do Governo para esta situação inconcebível e para as repercussões que dela resultam até para a defesa do ultramar.