ofendido, e muito menos que haja necessidade de sujeitar o assunto a um referendo nacional. É um problema de inteligência das coisas, de aceitação dos condicionalismos na modificação de condições e a resolver ao nível de ambos os Governos que outorgaram o contrato.

Desejo, todavia, sublinhar, e aqui vai a parte do meu acordo, que as missões católicas exercem em certa medida e em certa altura importantíssima missão, que eu dentro da verticalidade das minhas atitudes não poderia deixar de sublinhar. Mas hoje a coisa processa-se em moldes diferentes e V. Ex.ª saberá decerto que na época do terrorismo não foram poucas as igrejas onde se pregou contra a nossa presença em África e até onde se guardaram as armas que vieram matar irmãos nossos. Toda a gente sabe isto, não estou, portanto, a dar novidade nenhuma.

O Sr. Castro Salazar: - Mas que igrejas?

O Sr. Barreto Lara: - V. Ex.ª perguntará com mais propriedade à Direcção-Geral de Segurança, que lhe pode responder com muito mais a propósito que eu.

O Sr. Castro Salazar: - Não me refiro a igreja-edifício. Há a igreja católica, várias igrejas protestantes ... Não sei a qual delas V. Ex.ª se queria referir.

O Sr. Montanha Pinto: - V. Ex.ª dá-me a palavra. Apenas pretendo acrescentar que não fiz uma afirmação ou uma defesa da perfeição. Alas marquei uma posição, que reafirmo, de obra que conheço especialmente no Norte. Eu sentia-a e vivo com ela há trinta anos, e reafirmo que me merece e continua a merecer e merecerá a minha defesa intransigente, como válida e relevante que é.

O Orador: - Muito obrigado pelas afirmações de V. Ex.ª Eu, na minha intervenção, quis ser especialmente prudente, não por receio de afirmar o que penso, mas porque entendo que os problemas delicados devem ser tratados com aquela fina ponta superior do espírito que já referia o velho S. Francisco de Sales. Em todo o caso, terei muito prazer em me referir à palavras desassombradas de V. Ex.ª, do seguinte modo: elas paru mim tornam-se como que um apelo veemente aos Portugueses, nomeadamente aos sacerdotes que aqui servem, para irem para o ultramar, onde há uma enorme dificuldade no recrutamento de sacerdotes portugueses, pois existe também nas dioceses metropolitanas grande carência deles. E, portanto, o apoio que nos dão os sacerdotes estrangeiros é mais um motivo para os acarinharmos, porque esses homens, e eu conheço alguns que abandonaram há mais de quarenta anos as suas terras, e ao voltarem a elas, depois dessa longa ausência, não encontraram quaisquer dos seus familiares. Julgo que esse espírito deve ser tido em grande conta nesta Casa. É o sacrifício maior que um homem pode fazer: imolar a sua vida estando vivo.

O Sr. Montanha Pinto: - Uma palavra de acrescento às afirmações de V. Ex.: é que entre esses missionários também, e eu quero salientá-los por conhecimento próprio, os italianos e os holandeses, que têm marcado uma posição válida para Portugal que até se não coaduna com a política dos seus países de origem.

O Sr. Barreto Lara: - Não o nego nem neguei, Sr. Deputado. Mas, respondendo ao Sr. Deputado Castro Salazar, quero relatar-lhe esta coisa dramática: quando se encontrava um nativo limpo, aprumado, escorreito, lendo e escrevendo perfeitamente, escusava de se lhe perguntar a sua religião. Era protestante de certeza.

E fico-me por aqui.

O Sr. Castro Salazar: - Com o que acaba de dizer V. Ex.ª não respondeu à minha pergunta.

O Orador: - Esse problema levar-nos-ia muito longe e como V. Ex.ª sabe ele também se verifica na Europa. Aliás, os estudiosos da geopolítica verificaram haver uma estreita relação entre a latitude e o desenvolvimento económico. Esse problema levar-nos-ia, de facto, muito longe, pois precisamente os povos da Europa de latitude superior são povos protestantes. Portanto, não desejo embrenhar-me nessas discussões e prosseguirei.

Poderá, é certo, objectar-se que esta matéria mão foi posta directamente em causa por nenhum dos distintos colegas, mas penso que não deverá ser esquecida numa visão global do problema, pois creio que ela constitui um dos seus aspectos essenciais, talvez mesmo o mais transcendente que se contém naqueles acordos.

Com efeito, para nós, Portugueses, a missionação esteve, e está ainda, estreitamente ligada ao processo civilizador que empreendemos e, para a Igreja, a expansão da fé cristã em grande parte do Mundo mão pode também deixar de haver ficado tão ampla e tão magnânima contribuição.

Termino, pois, neste espirito de tranquilas certezas e também de inteira confiança no Governo da Nação, seguro de que nesta tão delicada matéria ele continuará a ser, como tem sido, o digno e clarividente intérprete do verdadeiro sentir do povo português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos passar à

O Sr. Presidente: - A primeira parte da ordem do dia tem por objecto a continuação da discussão e votação na especialidade da proposta de lei sobre a actividade teatral.

Vamos ocupar-nos da base XXXI da proposta de lei, em relação à qual está na Mesa uma proposta de eliminação subscrita pelos Srs. Deputados Veiga de Macedo e outros, que já a reportam à numeração nova, chamando-lhe