O Orador: - Não é possível ignorar nem esquecer as delicadas e peculiares circunstâncias em que se iniciou o mandato do Chefe do Governo. Será difícil encontrar missão mais delicada e complexa do que a de continuador de uma obra insusceptível de destruição ou mesmo de critica, mas urgentemente carecida de renovação e actualização. Tudo quanto se faça aparece como desrespeito pela continuidade; tudo quanto se não pode ou não deve fazer é verberado pela evolução.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mal iríamos se as pessoas reunidas em torno de uma mesma política e do homem que o Chefe do Estado escolheu para a personificar, traçar e dirigir se dividissem ao sabor das preferências de cada um, desrespeitando ou pondo em causa o rumo traçado por quem, a todos os títulos, granjeou legitimidade para o fazer.

Isto não significa que a liberdade de apreciação seja posta em causa e que o apoio político se transforme em mera subserviência. Ai de nós no dia em que as aposições detenham o monopólio da crítica!

Mas significa com certeza que o inconformismo não pode ultrapassar a barreira da disciplina nem pode ser sintoma de descrença quanto à capacidade de comando e actuação.

Sei perfeitamente que todos nós - pelo menos comigo assim sucede - sofremos ao verificar determinadas carências que uma maior operosidade/de certos responsáveis facilmente corrigiria; que nos incomodamos com a mediocridade de alguns cidadãos, cuja permanência nos cargos que ocupam escapa à mais generosa capacidade de compreensão; que nos revoltamos contra o marasmo burocrático em que por vezes parece estar-se novamente ai resvalar; que DOS recusamos a aceitar que o ritmo de trabalho, a si próprio imposto pelo Chefe do Governo, não se revele idêntico em alguns dos seus colaboradores; ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... que nos lamentamos da falta de esclarecimento acerca de determinadas decisões e atitudes que o Bofe por vezes moo compreende e que o Governo deveria prontamente prestar, seguindo, aftas, o exemplo do Presidente do Conselho.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Nada disto, porém, poderá justificar a ruptura da frente política, porque a fidelidade do chefe do Governo não se pode medir pelo aplauso a todos os seus Ministros, nem pelos descontentamentos provocados por esta ou aquela omissão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sabe-se ou pressente-se que está em curso movimento que, a pretexto da agitação universitária, pretende instaurar um clima de excitação e inquietação

propiciador de aventurais irresponsáveis que o Paus não nem merece.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há que opor um dique eficaz a esses agitadores, seja qual for o extremo da limita política em que se encontrem colocados. O Governo tem ao seu alcance os meios de intervenção de que carece para, no momento próprio, impor a ordem e esmagar a indisciplina, sem que se verifiquem quaisquer desvios constitucionais DO emprego da força pública ou se chegue a consentir que a desandem passe a dominar a rua.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pela minha parte continuo confiante.

Estou certo de que é este o sentimento dominante na Assembleia Nacional. E se assim for, atrever-me-ei a solicitar de V. Ex.ª, Sr. Presidente, que o transmita a quem de direito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - A solicitação de V. Ex.ª será devidamente considerada.

O Sr. Montalvão Machado: - Sr. Presidente: Graças à lucidez, à coragem e à pertinácia do Sr. Governador Civil, realizou-se, de 4 a 9 de Dezembro último, o I Colóquio para o Desenvolvimento do Distrito de Vila Real.

Constituiu verdadeira lição de desassombro, justa e fecunda, esta de se permitir que as populações e os seus representantes dialogassem abertamente com o Governo e os seus representantes.

Por isso mesmo, o Colóquio veio a traduzir-se em notável acontecimento político.

Ainda bem que assim foi, porque, sem excessos, mas também sem tibiezas, as populações regionais têm de se reencontrar a si próprias, de retomar consciência pública dos seus problemas, de colaborar interesadamente na solução desses problemas.

E estes são tantos e tais que só a colaboração interessada e honesta de todos permitirá ir encontrando a solução para os mais prementes.

Se bem cuido, factos tão desesperantes como os de as populações rurais não disporem ainda, na sua imensa maioria, nem de água potável, nem de luz eléctrica, nem de caminhos transitáveis, ganharam agora, finalmente, dimensão política irrecusável.

E ganharam tal dimensão, neste encontro honesto e franco entre governantes e governados, que o Governo terá compreendido a necessidade de um esforço imediato e denodado para definitivamente os resolver.

Paralelamente, melhor dizendo, entrosadamente, terá igualmente de ser feito, com a colaboração de todos, governantes e governados, um esforço lúcido e sensato, mas perseverante, para que as populações possam sair, emancipar-se, do penosíssimo depauperamento económico a que chegaram - por razões tão permanentes que não vale a pena esmiuçá-las.

Tendo deixado cair uma gota de água na sede permanente das populações do distrito, levando uma réstea de luz às populações que sempre têm vivido em escuridão, tendo apontado caminho às populações que nunca tiveram caminhos transitáveis, o Governo terá sentido que