está efectivamente no bom caminho, caminho lúcido, honesto e fecundo.

Sentiu, sem dúvida, que não há ali, felizmente, populações contestatárias, apesar de um sofrimento que não raramente as desilude e as desespera, lançando-as, a contragosto, em outro sofrimento, moral e socialmente mais amargo, como é o da emigração permanente, agora chegada ao verdadeiro êxodo.

Não há populações contestatarias, mas há certamente populações legitimamente desejosas, mesmo ávidas, de emancipação económica e social.

Por isso mesmo terá o Governo compreendido como é urgente, até instante, traçar uma política económica que permita as populações do norte do distrito de Vila Real escapar ao depauperamento progressivo, em resultado de produções que só confinam quase exclusivamente b batata e aos cereais.

Tendo ouvido a palavra séria e desassombrada, mas respeitosa e entranhadamente portuguesa, dessas justíssimas reclamações, o Governo deve ter sentido, e sentiu, emocionadamente, quanto se deve a um esforço imediato e persistente para minorar a má sorte, o sofrimento disciplinado - mas sem qualquer espécie de abdicação -, dos que ainda vivem entregues a si próprios, abandonados, em região montanhosa e fria, sem água potável, sem luz eléctrica, sem estradas e sem caminhos, sem escolas ou com as escolas fechadas, sem assistência hospitalar, sem assistência médica, sem assistência medicamentosa, afinal sem nenhuma espécie de assistência.

Tudo isto foi dito em voz vibrante, mas respeitosa, e ainda com esperança.

Tudo isto foi ouvido pelo Governo - pelos Ss. Secretários de Estado da Agricultura e do Comércio, pelo Sr. Subsecretário de Estado do Planeamento Económico.

E tudo isto foi igualmente ouvido pelo Sr. Ministro do Interior, transmontano muito ilustre, que teve a inteligência, a coragem e o desassombro de confiar no diálogo, de compreender imediatamente quanto o I Colóquio para o Desenvolvimento do Distrito de Vila Real era necessário e, assim, desvelada e carinhosamente ter apoiado essa ideia desde a primeira hora.

Aqui lhe fica, por isso mesmo, a homenagem profundamente solidaria das populações que, mais confiadamente, mas vigilantemente, esperam ter chegado a hora da renovação e do progresso, em todos os sentidos e a todos os níveis.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

Ilhas dispersas, com uma população de 850 000 habitantes, e, todas elas, com condições muito especiais que bem as definem e caracterizam, depende o seu progresso da resolução de um problema fundamental, como fácil e obviamente se adivinha, e que á o das comunicações: comunicações aéreas e marítimas e tudo o que com elas se relaciona.

Sr. Presidente: Desde que tomei assento nesta Câmara tem sido, desde a primeira hora, minha preocupação dominante trazer à consideração da Assembleia e ao Governo aqueles assuntos que reputo fundamentais para todo o arquipélago e, de maneira especial, para o distrito de Angra do Heroísmo, que aqui tenho a honra de representar.

Procurando estar sempre atento às realidades, nunca me eximi, sempre que a ocasião se proporcionou, a levantar aqui a minha débil voz em defesa daquilo que reputo seus justos interesses.

Nunca lisonjeei, nunca fugi às responsabilidades quando, as vezes, bruscamente, é certo, pugnava por aquilo que sentia ser um direito e apontava erros e esquecimentos; tão-pouco jamais adulei para conseguir fosse o que fosse. Tenho procurado, com aquela independência que sempre tem norteado toda a minha vida, lutar, mas lutar de frente, pelo que penso ser justo, bom e útil para a colectividade.

Todas estas breves considerações vêm a propósito do recente despacho de S. Ex.º Ministro das Obras Públicas e Comunicações, datado de 11 de Dezembro passado, e que trata da política aérea dos Açores.

Na verdade, a política aérea dos Açores, problema fundamental para todo aquele arquipélago, já havia sido oficialmente anunciada em Agosto de 1969, perante S. Ex.ª o Chefe do Estado, pelo Ministro de então, o brigadeiro Fernando de Oliveira, grande amigo e admirador daquelas ilhas. Essa política, baseada nas conclusões do grupo de trabalho para esse fim criado pela Portaria n.º 23 630, de 20 de Setembro de 1968, ficou finalmente oficializada pelo despacho atrás citado do Ministro Eng.º Rui Sanches. E eu, que tantas vezes ergui aqui a minha voz sobre um assunto tão candente, apontando e apelando para a necessidade urgente e inadiável de tal solução, agora, com a mesma veemência e com a mesma pura e recta intenção, quero congratular-me com o Governo e, sobretudo, com S. Ex.ª o Ministro das Comunicações. Fazendo-o, não tento mais que traduzir todo o júbilo e a esperança de todos os açorianos pelas perspectivas que agora se abrem. Ele é na deslocação rápida ao continente, ou à América e Canadá, onde, por força da emigração, ali se encontram tantos dos nossos bons conterrâneos; ele é no aspecto turístico, pois aquelas ilhas têm em si mesmas potencialidades extraordinárias que ainda não foram devidamente descobertas e aproveitadas; ele é no campo económico, em que, a partir de agora, se poderá exportar produtos de vária ordem e que só pela via aérea terão interesse; ele é, ainda e sobretudo, no aspecto social, vindo a reflectir-se de maneira bem acentuada nas mais variadas actividades, contribuindo de modo bem decisivo para a elevação do nível de vida, estancando assim essa fuga em massa de tantos homens válidos para terras estrangeiras, aliás no legitimo direito que lhes assiste de procurar melhores dias num futuro mais próspero e tranquilo.

O Sr. Linhares de Andrade: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Linhares de Andrade: - Permiti-me interromper V. Ex.ª, Sr. Deputado Valadão dos Santos, porque suponho oportuno e útil acrescentar às suas judiciosas considerações que as populações do meu distrito, o da Horta, também participam, com igual intensidade, nos sentimentos de júbilo e gratidão com que foi acolhido