Mesmo assim, e isso representa um índice altamente significativo do interesse com que sectores muito importantes da nossa economia procuram utilizar o porto, o movimento passou de 80001 (média) em 1957-1964 para 19 000 t em 1967, 61 000 t em 1968, 92 000 t em 1969 e 126 000 t em 1970.

Frise-se, no entanto, que mais de 50 000 t de mercadorias tiveram de ser orientadas para outros portos, a conselho das próprias entidades responsáveis pela exploração portuária, por as instalações existentes já não disporem de capacidade. Dentro deste grupo estavam as madeiras; é o não poder ser feita a exportação por aqui representou tão grande importância que alguns industriais não aceitaram contratos de exportação, porque o porto da Figueira era o único que, pela sua posição geográfica, lhes permitia condições em moldes de competição de mercado.

Todavia, apesar das restrições apontadas, o interesse pela sua utilização é de tal ordem que em 1969 ainda foi o terceiro porto exportador de madeira.

Pelo interesse permanentemente manifestado por este sector das madeiras, tudo indica que logo que o porto ofereça condições - principalmente capacidade de cais - ele passará a ser, se não o primeiro, o segundo porto de exportação de madeiras do País.

Como porto de pesca, continua a manter a sua situação cimeira, ocupando o segundo lugar na pesca da sardinha e dispondo de uma frota que é a melhor do País.

A pesca do arrasto cresce a um ritmo que ultrapassa qualquer previsão, passando de 56701 e 15 700 contos em 1968 para 6300 t e 22 000 contos em 1969 e 9200 t e 34 400 contos em 1970.

Verifica-se, assim, um aumento de 118 por cento nos últimos três anos, ocupando o segundo ou terceiro lugar no arrasto costeiro.

O movimento total do porto foi, portanto, de 84 000 t em 1968, 112 000 t em 1969 e 148 000 t em 1970, o que significa um aumento de 78 por cento.

Citei estes números apenas para dar o significado da real importância do porto, mais acrescentado ainda em virtude das condições deficientes em que se tem trabalhado.

A falta de um cais comercial com capacidade suficiente tem sido o factor mais limitante da expansão do movimento do porto. Foi recentemente adjudicado um novo cais com 200 m, obra que, concluída, irá permitir melhores condições de trabalho, maior capacidade para movimento de navios e de cargas, podendo elevar para o dobro a tonelagem hoje movimentada. Mas pela pressão que todo o hinterland exerce, estamos certos que dentro de dois a três anos se atinja a saturação de todas as instalações.

Haverá assim, que pensar já na expansão futura do porto, que só poderá fazer-se para montante da actual ponte, que tudo condiciona enquanto não for removida e que constitui problema da maior acuidade.

A construção da nova ponto, ao mesmo tempo que irá facilitar o tráfego entre o Norte e o Sul, permitirá a expansão franca e ordenada do porto para poder atingir as 500 000 t e o milhão de toneladas previstas.

Igualmente a conclusão do estudo do porto interior, a que já foi ordenada urgência, constitui peça importante e básica para o desenvolvimento de todas as obras a que possa dar-se já início, inclusivamente a construção de algumas de caracter particular e outras da administração portuária.

Sabemos do interesse do Sr. Ministro das Obras Públicas par todos estes problemas e da sua decisão em os resolver rapidamente, amplamente demonstrado ao despachar a adjudicação do cais; pelo que ao Agradecimento que lhe á devido testemunho-lhe a expressão de muito apreço, pela sua operosa e já notável obra à frente do respectivo Ministério.

A realização destas obras, que, acreditamos, se irão processar com brevidade, dá-nos a confiança na existência de um forte pólo de desenvolvimento que contribuirá para a prosperidade de toda a região e para um futuro melhor das suas populações.

O outro pólo de desenvolvimento será o aproveitamento do Mondego, cuja regularização dependerá da construção da primeira barragem, que auspiciosamente se espera ver começar ainda este ano.

É uma tarefa ingente, toda esta, que exige um esforço financeiro do Estado muito grande, mas que se impõe, para não continuarmos a assistir à regressão económica de uma regulo que tem enormes potencialidades e que o País não pode desperdiçar.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Neto Miranda: - Sr. Presidente: Completam-se hoje dez anos que teve início, em Angola, o terrorismo. Ainda temos presentes os momentos que em Luanda se viveram após o ataque de surpresa às forças da ordem que policiavam ruas e bairros e a outras que se encontravam no seu aquartelamento. Foram os guardas da Polícia de Segurança Pública as primeiras vítimas, e perante elas todos nos curvamos e as evocamos neste dia, com o ânimo que os dez anos transcorridos nos trouxeram de as mantermos presentes.

Foram vítimas que fizeram despertar em todos, nós uma onda de coesão em defesa da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Desde então temos continuado o nosso caminho, cumprimos o nosso dever, e precisamente num continente em que a sua imaturidade política e desvios psíquicos têm desencadeado as mais díspares reacções nas novas nações e no velho e novo mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assiste-se hoje a um atropelo permanente dos direitos individuais, ao desprezo pela dignidade humana, à morte da liberdade, à predominância da ofensa sobre a defesa, a uma balcanização não só das ideias, como dos territórios, soberanias, intromissão ou pressões de grupos que se odeiam e espalham vítimas à sua volta fundamentados em ideais de amor e de pureza.

Assiste-se a uma permanente ofensa ao homem, às instituições, às nações. E o mundo velho quase que assiste impassível aos desmandos de uns sobre a dignidade dos restantes.

E nós, que somos em África defensores seculares dessa dignidade, sentimos com amargura que os ventos da história estejam soprando de novo na selva, pois que aquele que nos quiseram impor o devolvemos por impróprio para consumo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: A luta que dura ha dez anos, e que nos obrigarão ainda a manter nem que seja para reforço da defesa da nossa soberania, tem sido vária, abrangendo tão diversos sectores que é precisamente do