À data desse IX Recenseamento Geral da População no continente e ilhas adjacentes, em 15 de Dezembro de 1950 foi efectivamente realizado um inquérito às condições de habitação da família, cujos elementos essenciais se apresentam:

Famílias(l) 2 047 439

Sem habitação 2 592

Com habitação (2) 2 044 847

Em prédio (3) 2 034 251

Ocupando um prédio ou ponte de prédio não destinados à habitação 2 853

Ocupando um fogo 1 838 164

Existiriam assim, ao tempo:

2592 famílias «sem habitação»; e

13 449 outras «com habitarão em construção provisória» ou «ocupando um prédio ou parte de prédio não destinados à habitação».

Mas não seriam aparais essas as únicas famílias deficientemente alojadas:

193 234 outras, «ocupando parte de um fogo», não se encontravam habitando nas melhores e devidas condições, na medida em que por «fogo» se entenda, como definiu o Instituto Nacional de Estatística, «todo o local apropriado à habitação de uma só família ou conivência».

Somariam assim perto de 210 000 (mais precisamente 209 275) famílias as que, à data do recenseamento de 1950, se encontravam, neste aspecto geral das condições de habitação, deficientemente alojadas.

Mas mesmo as habitando em prédio poderiam encontrar-se em condições de sobreocupação, se o número de pessoas que as compunham excedia largamente o número de divisões e tal acontecia, nomeadamente, com famílias de 20 e mais pessoas habitando fogos, por exemplo:

Com 4 divisões - 5 famílias;

Com 3 divisões - l família;

Com 2 divisões - 2 famílias.

Numerosos outros casos similares, de famílias com apenas algumas mais divisões em seus ou alugados fogos, ou um pouco menos de pessoas, foram de igual modo recenseados, e em número apreciavelmente maior, da casa das dezenas, se não mesmo das centenas de milhares de famílias metropolitanas.

Outras condições de habitação foram igualmente objecto de apuramento e tratamento estatísticos, importando porventura reconhecer que em 1950 ainda se contavam, entre as famílias com habitação ocupando um fogo:

[... ver tabela na imagem]

(Quer dizer, à data desse recenseamento (1950), das famílias que viviam nas melhores condições habitacionais apenas 10 por cento disporiam de casa de banho - 90 por cento haveriam de o tomar, porventura, mas não em divisão própria do «fogo».

Não dispunham de instalações especializadas para as necessidades fisiológicas (retretes) 63 por cento das famílias ocupando um fogo e 4 por cento não usufruíam de divisão própria para- a confecção e preparação dos alimentos, isto é, de cozinha.

Pobre em «condições sanitárias», não deve esperar-se muito melhor situação quanto às demais «comodidades domésticas», a saber:

[... ver tabela na imagem]

Mais de 80 por cento das famílias metropolitanas viam-se assim na contingência de ter de se abastecer de água em poços ou minas próprios, na bica ou fontanário do lugar, quando não em «fontes de mergulho» ou de «chafurdo», não sabemos se por nela se mergulhar a bilha, se por recordar que noutros tempos alguém escorregou, e ... catrapuz.

Mas não era somente grave o problema de abastecimento de água para alimentação de pessoas (e de animais, em meios rurais), com seu cortejo de febres tifóides, de gastrenterites infantis e outras quejandas maleitas.

Reduzidas haveriam de ser também, e por maioria de razões, sobretudo em climas mais secos, as disponibilidades de água para outras utilizações pessoais e finalidades domésticas, do banho à lavagem de casa, louça e roupa. Talvez que no facto de ser lamentavelmente baixa a percentagem de habitações providas de água canalizada, no campo se encontre explicação, conjuntamente com o atraso sociológico das populações rurais, para as ínfimas percentagens de fogos providos de instalações sanitárias e casas de banho em Portugal.

Sim, para quê casas de banho ou retretes, se para as primeiras não sobrava a água tantas das vezes e para as segundas não havia esgotos que libertassem a habitação da proximidade dos dejectos?

Não surpreende assim que apenas uma em cada três famílias metropolitanas dispusesse, em meados do século XX, de «esgoto ligado à rede pública» ou de «fossa ou esgoto particular».

Relativamente à «electricidade», apenas uma em cada quatro famílias ocupando um fogo dispunha, ao tempo, de tal «comodidade doméstica». A partir de então - e vindo já mais de trás -, bastante, aliás, se progrediu.

À data do X Recenseamento Geral da População no Continente e Ilhas Adjacentes (às O horas de 15 de Dezembro de 1960) foi cumprido novo inquérito às condições de habitação dos agregados domésticos, que nos faculta os seguintes elementos essenciais:

Agregados domésticos (4) 2 232 818

Alojamento sem ser em prédio 31 159

Transportáveis ou móveis 350