realce às relações económicas da comunidade luso-brasileira e feitas algumas sugestões dignas de análise e ponderação.

Enfim, tudo se apresenta com características de que se vai sair do campo sentimental e romântico em que se tem. vivado para um intercâmbio económico e de solidariedade humana a que os laços de sangue imprimem forte impulso. Saliento, com o devido relevo, a transcendência do projecto de revisão constitucional em estudo na Assembleia, no que respeita à dupla nacionalidade.

Mas até as consultas que tiveram ultimamente lugar para a construção de navios mercantes no Brasil, apesar de não terem tido o desfecho desejado, são sintomáticas.

Já nem falo, por a elas me ter referido anteriormente nesta Câmara, das íntimas relações de respeito, estima e sã camaradagem que existem entre os três ramos das nossas forças armadas que não podem, - nem devem, ser minimizadas. Permito-me especificar as que se processam entre as duas marinhas de guerra, pelo conhecimento pessoal que delas tive durante vários anos e para as quais de alguma forma contribuí.

Será também licito esperar algo de frutuoso das respectivas comissões parlamentares dos nossos dois países.

Penso que muito poderemos fazer para facilitar a nossa expansão económica comum, quer abrindo os mercados respectivos para, adentro do que permitem os - tratados a que estamos vinculados, prosperarmos e progredirmos, e no que respeita ao Brasil, designadamente para a sua já importante indústria, através das nossas províncias de África, permitir-lhe penetrar connosco nos vastos mercados que ali se apresentam, criando, inclusive, zonas francas em alguns dos nossos portos.

A instalação de empresas brasileiras em Portugal e portuguesas no Brasil e o impulsionamento de outras de capital conjunto luso-brasileiro muito contribuirão para dar à comunidade a feição prática e positiva que pretendemos.

Apesar de sermos países por enquanto de economia mais preparada para receber investimentos do que investir fora de casa, entendo que neste nosso caso tão especial o investimento não sai da família.

Restaria falar do mar, tema para mim sempre tão aliciante e que no campo da comunidade luso-brasileira tem um significado ímpar.

Mas o assunto tem sido suficientemente ventilado para não Se tomar impertànenifce sobre ele me alongar. Lembro, todavia, que no Atlântico, que é hoje, sem dúvida, o mar de maior projecção do Universo, não só pela importância e riqueza das nações que banha, como pela intensa navegação marítima e aérea que o frequenta, a nossa posição é dominante. As 7 000 milhas de litoral de que nele dispomos -Brasileiros e Portugueses a cadeia de posições estratégicas continentais e insulares, estas últimas qual rosário que se estende em latitude, dão aos dois países situação inigualável e invejável . . .

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... (dessa inveja sofremos nós, Portugueses, em meu juízo., consequências que em boa parte se traduzem no criminoso terrorismo que temos de enfrentar em África).

Regressada a tranquilidade e a calma às três províncias portuguesas tão sacrificadas do continente africano, o que sucederá, sem dúvida, quando os ventos do bom senso e das realidades soprarem, finalmente, na direcção apropriada, julgo que uma revisão conjunta da alta estratégia política dos dois países - esta, como se sabe, envolve a diplomática, a militar, a económica, a financeira e até a social - daria à comunidade luso-brasileira uma projecção, um poder e uma força que nenhuma potência ou grupo de países poderia minimizar e muito menos deixar de respeitar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E dadas as afinidades, interesses e amizade existentes entre as duas nações peninsulares e as que as ligam às repúblicas latinas e estas entre si, na sua esmagadora maioria, afigura-se-me que, sem egoísmos nem espírito de absorção ou predomínio, a que são avessas as nossas concepções humanas e cristãs, mas somente com a intenção de fazer valer o nosso merecimento, constituiríamos um dos mais fortes e poderosos agrupamentos de nações do Orbe.

Desviei-me dos meus propósitos, e estes eram fundamentalmente de homenagem, no dia de hoje, à grande nação irmã, e assegurar-lhe a nossa devoção e admiração, com a certeza de que, lá como cá, os eminentes responsáveis dos nossos dois países darão à comunidade luso-brasileira a estrutura e importância que ela tem de ter neste Mundo em desequilíbrio e em crise de evolução social, de ideologias e de crenças, aliás, tão perigosa em múltiplos aspectos.

Honra, proveito e glória, pois, à comunidade luso-brasileira!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

A Sr.ª D. Custódia Lopes: - Sr. Presidente: O facto, para mim honroso, de pertencer à Comissão Parlamentar da Comunidade luso-brasileira leva-me a pedir a V. Ex.ª, Sr. Presidente, a palavra, para me associar à alta homenagem com que esta Assembleia quis assinalar este grande dia das duas Nações irmãs.

A escolha solene de um dia para celebrar todos os anos, no Brasil e em Portugal, esta singular comunidade, recaiu expressamente na data em que pela primeira vez se avistaram terras do Brasil, há mais de quatro séculos.

Quis-se exaltar assim a criação de uma comunidade que nasceu, não de circunstâncias ocasionais ou de meros interesses materiais a que tratados ou acordos dão expressão jurídica, mas das relações de dois países que, embora distintos, se identificam por um passado comum e pela mesma origem racial e cultural e se continuam na fidelidade a princípios e objectivos da maior significação humana.

Ao falar da Comunidade luso-brasileira não se pode, pois, deixar de invocar toda uma história de séculos que vem do descobrimento de um surpreendente novo mundo para onde os Portugueses levaram as suas crenças, os seus costumes e a sua língua, convivendo e misturando-se com as novas gentes e formando com elas uma verdadeira e harmoniosa sociedade multirracial que havia de tornar-se no portentoso Brasil de hoje.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Embora irmanados por sentimentos afectivos, tão sobejamente demonstrados nas horas jubilosas dos triunfos ou nos momentos angustiosos da vida colectiva, Portugal e o Brasil viveram, contudo, por demasiado tempo, como que ignorando-se mutuamente e não aproveitando, por isso, em toda a extensão, as suas imensas potencialidades e virtudes.