O Sr. Sá Carneiro: - V. Ex.mo dá-me licença?

O Orador: - Mas com certeza

O Sr. Sá Carneiro: - As palavras que V. Ex.ª tem vindo a (proferir merecem, de um modo geral, o meu inteiro aplauso, pois me parece que nunca é de mais focar este problema que assume foros de tragédia. Ex.ª citou vénias medidas, mas eu queria apenas perguntar-lhe: Não lhe parece que uma Idas grandes causas dos Acidentes 'de viação é o péssimo estado do piso das nossas estrades, estrados em paralelepípedo já muito polido, cheias de óleo, reconhecidas como francamente mortíferas, curvas de traçado absolutamente inaceitável, etc.? Tudo isso é, parece-me, unia das grandes causas dos ocidentes de viação. E cão vejo, infelizmente, tomarem-se providências necessários e urgentes porá remediar esta situação que tem contribuído, a meu ver, decididamente, para o aumento da sangria que se verifica mas nossas estradas.

Era apenas esta achega e esta interrupção que queria deixar, juntamente com o meu apoio. Muito obrigado.

O Sr. Henrique Tenreiro: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com certeza, com certeza.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Ouvi o Sr. Deputado Sá Carneiro e contesto as suas afirmações, (porque a maior quantidade de desastres se têm dado mas boas estradas, como a estrado marginal e a auto-estrada.

O Sr. Sá Carneiro: - Não apoiado!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado Dr. 'Sá Carneiro e Sr. Deputado Almirante Tenreiro: Eu respondo aos dois ao mesmo tempo. Necessariamente, Sr. Deputado Sá Carneiro, que V. Ex.ª tem razão. Há estradas em Portugal cujo piso não está à altura do tráfego que suportam. De resto, isso é coisa conhecida de todos, e se V. Ex.ª tiver reparado, eu fiz um comentário u respeito da verificação do estado das estradas, nomeadamente no que se refere à sinalização de obstáculos, ao estado do leito da estuado que se prejudicou por qualquer motivo, por um acidente ou até pelo mau tempo. De vez em quando surgem covas e barrancos que não são assinalados com a devida oportunidade e provocam outros acidentes.

Necessariamente que o problema dos estradas em Portugal é um problema de extraordinário vulto. Eu foço a justiça de acreditar que o Ministério das Obras Públicas se debruça sobre ele denta-o das {possibilidades orçamentais ou financeiras que lhe são consentidas. Não tenho duvida nenhuma a este respeito, mas penso, repito, que as observações de V. Ex.ª têm cabimento. Por outro lado, também reconheço, como o Sr. Almirante Tenreiro disse, que um grande número de acidentes se verifica nas estiados com melhores traçados e condições de trânsito, sendo justamente pelo excesso de velocidade e pela falta de previdência e de cuidado dos condutores que assim sucede. Muito obrigado.

E, assim, voltando às palavras com que iniciei esta fala, sugeria a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e a Assembleia a apreciação da moção que vou ler:

Moção

A Assembleia Nacional, associando-se ao Presidente da República mas suas preocupações quanto ao grave problema de trânsito que existe mó Pais, exprime o voto de que o Governo estude novos e mais eficazes providencias, por severos que possam ser, para debelar tão grande flagelo.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - A moção, depois de publicada no Diário das Sessões, juntamente com a intervenção de V. Ex.ª, será em tempo próprio submetida à apreciação da Assembleia.

O Sr. Moura Ramos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Constitui já um lugar-comum o afirmar-se que os homens, quando verdadeiramente grandes, vencem a morte, sobrevivendo-lhe e continuando presentes entre nós, quer nos princípios ideológicos que conceberam, quer no preceptorado que exerceram, quer através das obras que criaram.

Colocados na galeria dos homens e das grandes figuras que a História regista, há assim, tempos fora, como que um prolongamento deles próprios, a iluminar o espírito e melhorar a vida: a sua influência perdura além da própria existência, o que levou, precisamente, o nosso grande Épico a referir os "... que por obras valorosas/se vão da lei da morte libertando".

Honrar a memória destes quantos hajam atingido as culminância" é imperativo de consciência e gratidão que gostosamente deve ser cumprido.

Eis por que ergo a minha voz apagada, mas sincera, para evocar nesta Casa a figura e a obra do homem, do bispo e do apóstolo que foi D. José Alves Correia da Silva, cujo centenário do nascimento ocorre no dia de hoje - pois nasceu a 15 de Janeiro de 1872 -, centenário que a mais pequenina diocese de Portugal - a de Leiria- "Jardim da Igreja, [...] flor das dioceses [...]", no 'dizer de Pio IX, vai procurar celebrar com a dignidade e a solenidade que a efeméride reclama e justifica.

Já no sessão desta Assembleia, em 10 de Dezembro de 1958, o então Deputado pelo circulo de Leiria Dr. Paulo Rodrigues se referiu em termos comovidos ao passamento do grande bispo, focando a lição oportuníssima que se desprende da sua vida e da obra notável realizada na pequenina diocese que "Nossa Senhora escolhera e dela fizera peanha, quando milagrosamente se dignara visitar a terra portuguesa, e por esta Divina Graça Leiria passou a ser a primeira diocese de Portugal e a de maior fama no Mundo [...]" (of. Dr. Afonso Zúquete, Subsídios para a História na Diocese, p. 69).

Tem assim sentido e especial oportunidade a comemoração deste centenário do nascimento do grande vulto da Igreja de que foi pastor vigilante e conquistador de almas, centenário a que a Assembleia Nacional não deixará de gostosamente associar-se. E se julgo bem traduzir o pensamento e o sentir das gentes da minha diocese, Leiria bem sentiu quanto a enlutou a morte do seu bispo, que. o foi durante trinta e sete anos difíceis e vividos intensamente.

Não mós propomos historiar em pormenor a vida do Sr. D. José Alves Correia da Silva, mas tão-somente referir alguns dados biográficos que .aos ajudem a conhecer, de modo tanto quanto possível fiel, a sua complexa, forte, inconfundível e pujante personalidade.

Do meio familiar e social em que foi nado e criado herdou o Sr. D. José excepcionais qualidades de trabalho, a por de uma energia singular e de uma não menos portentosa vontade, que, qualidades às brilhantes faculdades de inteligência e outros talentos naturais,