tas concretas que possam vir a ser contempladas na redacção definitiva das medidas legais deste sector da reforma da educação - o do ensino médico.

O Sr. Pinto Machado: - Muito bem!

O Orador: - Se assim for, esta Câmara terá apresentado um contributo válido, terá cooperado eficazmente com o Governo e terá concorrido para a execução das tais medidas corajosas, drásticas, oportunas e eficazes a que se referiu o Deputado avisante:

Sr. Presidente: Preocupações idênticas às que levaram o ilustre Deputado Pinto Machado a apresentar este aviso prévio foram as que me obrigaram, há cerca de três anos, em Março de 1969, a expor à Assembleia Nacional a necessidade de reforma urgente do nosso ensino médico e dos nossos hospitais. Entendi que, procedendo daquele modo, servia, a um tempo, os interesses dos médicos, os da medicina, os dos hospitais e os da própria Nação.

Disse nessa altura:

Temos de ajustar, sem demora; o ensino médico e a estrutura dos nossos hospitais à preparação do tipo e do número de médicos de que o País necessita.

Não há que adoptar o figurino deste ou daquele país - há que definir o que mais nos convém, o que devemos e o que podemos fazer.

O ensino módico não pode continuar a limitar-se ao ensino básico das Faculdades de Medicina. Esse ensino básico há-de completar-se com a formação técnica dada pelo internato hospitalar, de feição moderna e de execução séria. Só então o médico estará em condições de exercer a sua alta missão. E não há-de ficar por aqui: a este estágio, assegurado pelo Estado, em condições de eficiência e com justa remuneração, há-de seguir-se uma terceira fase, de cursos periódicos, de frequência obrigatória, que permitam a educação progressiva e a actualização constante dos médicos, a qual, aliás, já está em aplicação em vários países.

Disse ainda que o médico de hoje e do mundo que aí vem tem de ser preparado de modo diferente do que até aqui, pois que se lhe há-de exigir não somente a sua preparação para o exercício da medicina curativa, como também a necessária para prover à reabilitação do doente, à prevenção da doença e & promoção da saúde individual e colectiva.

O Sr. Ricardo Horta: - Sr. Deputado, dá-me licença?

O Orador: - Com muito prazer. Tenho muita haura nisso.

O Sr. Ricardo Horta: - Eu, pela primeira vez, intervenho neste debate, debate que resulta de um aviso prévio do Sr. Deputado Pinto Machado. E preciso que esta Assembleia reconheça o alto serviço que esse aviso prévio pode prestar à saúde nacional e V. Ex.ª não quis furtar-se à colaboração nesse aviso prévio. Ex.ª falou e está a analisar a educação médica e a situação do verdadeiro médico. Eu posso dizer a V. Ex.ª que as palavras que vou proferir não se referem ao coso português. Quero que fique bem assente que não se referem ao caso português, mas ao caso global. V. Ex.ª e toda a gente sabe que as sociedades hoje estão num momento de desagregação e os futuros médicos partem dessa sociedade. Os futuros médicos trazem as qualidades ou os próprios males da sociedade contemporânea. E natural que do conjunto destas reacções nasça uma sociedade melhor, uma sociedade mais justa e melhor.

No entanto, tomos os candidatos à medicina e, amanhã, os futuros médicos, os homens formados e saídos dessa sociedade. Esses indivíduos vão entrar para um campo extraordinariamente humano, para um campo extraordinariamente construtivo para a vida da vida, e nós temos a obrigação, as nações têm a obrigação, de seleccionar esses homens. E a selecção tem de ser feita não só a base da cultura que eles têm, através da sua preparação básica para o acesso ao curso, como dos provas da sua consciência, como dos provas da sua humanidade, como das provas da sua reflexão.

O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Sr. Ricardo Horta: - São esses homens que amanhã hão-de ser os futuros pioneiros da saúde nacional, e é aí, à entrada desses cursos, que não se devem admitir indivíduos, que não tenham condições, que não tenham sensibilidade em frente do sofrimento dos outros. E aqui que está o mal, Sr. Deputado.

E V. Ex.ª sabe, como eu, pela sua experiência, pelo seu alto nível intelectual, pelo que desempenha na saúde nacional, hoje, na própria educação dos médicos, o que nos aparece neste campo desgraçado. Mas, como a inserção do médico, como o estudo da educação médica, têm de ser realizados na inserção da saúde pública, não se pode desligar uma da outra, têm de se criar as estruturas fundamentais para substituir as insuficientes.

Tem de ser a partir disso, Sr. Deputado Bessa: Temos de construir para substituir aquelas que são nitidamente insuficientes. E tem de se construir aquilo que é indispensável para o progresso técnico; e esse progresso técnico tem de vir de dentro de grandes possibilidades de ordem económica. Mas muitas vezes não é o dinheiro que resolve os gravíssimos problemas da saúde, e V. Ex.ª sabe-o muito bem. O dinheiro, muitas vezes, chega, mas investe-se mal. Mas o dinheiro não paga, por exemplo, o carinho de- uma enfermeira ou de um médico para um doente que sofre. Isto não custa dinheiro. Uma resposta, ou uma informação boa, quando um doente ou uma pessoa familiar aborda um funcionário, e este dá uma informação correcta e justa, não custa dinheiro, Sr. Dr. Bessa, isso custa educação, isso custa dedicação, isso custa humanidade.

Era isto que eu queria dizer.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Ricardo Horta. Congratulo-me sinceramente com o facto de V. Ex.ª estar de acordo com a necessidade que há-de dor à educação médica uma orientação no sentido de preparar os futuros médicos para o mundo que aí vem.

De acordo connosco está o Prof. Celestino da Costa, que é um proficiente mestre da nossa Faculdade de Medicina de Lisboa.

A este propósito, recordo o que um dia disse o Prof. Celestino da Costa:

A saúde pública e a medicina social variam de época para época, de acordo com a própria evolução social, e as sociedades ainda mudam mais do que os homens que as constituem.

Na sessão de Março de 1969, a respeito do novo tipo de médico, disse o seguinte:

Daqui em diante, em vez do colóquio singular, do binómio médico-doente, havemos de ter essencial-