mente o trabalho de grupo, a colaboração de vários médicos com preparação diferenciada. E é para a preparação deste tipo de médico que temos de olhar, na execução de uma política de saúde eficaz e oportuna. Isto há-de ser obra da reforma do ensino médico e da reforma dos nossos hospitais. Assim o impõem não só a moderna estrutura da nossa população, mas também a evolução dos conhecimentos científicos, as novas técnicas de actuação médica e a protecção médico-social. Quanto mais tarde se fizer, tanto mais graves serão para nos as consequências.

Mantenho hoje a mesma opinião, e é-me muito grato reafirmá-lo neste momento em que o Prof. Finto Machado traz a esta Câmara um valiosíssimo aviso prévio, com cuja generalidade me declaro de acordo.

Esta orientação tem eido a mesma no desempenho da função docente de que me incumbiu a Faculdade de Medicina de Coimbra. Ficou definida deste modo na primeira lição que ali fiz, há vários 'anos, aos alunos do 6.º ano médico:

[...]É preciso criar no estudante de Medicina o espírito da prevenção, a preocupação da medicina preventiva, dar-lhe noções de ecologia humana. Este conceito fundamental das inter-relações do homem e do sem meio, se é certo que deve dominar todas as disciplineis, é particularmente importante na Pediatria e na Puericultura. Ë preciso que o médico moderno fie familiarize com as incidências sociais e económicas da doença no indivíduo, na família, na sociedade, e vice-varsa.

O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador:

Manter viva ao longo da sua actuação profissional esto chama da medicina preventiva, esta preocupação da prevenção das doenças e dos acidentes e da promoção da saúde nos indivíduos e nos grupos populacionais a que assiste, em complemento da sua acção terapêutica, é dever indeclinável do médico moderno.

Tal como disse à Assembleia Nacional, há anos, é necessário convencer certos médicos jovens de que eles não saem completamente formados dos Faculdades de Medicina, ao contrário do que aconteceu aos médicos de outras gerações. O médico que agora sai das Faculdades de Medicina é uma espécie de prematuro que carece de uma assistência especial continuada, complementar do seu desenvolvimento.

Seja isto considerado sem qualquer sentido pejorativo para o médico recém-formado ou para a Faculdade que o licenciou l

Julgo que a Câmara está suficientemente informada sobre não só a necessidade da reforma do ensino médico, como de todos os outros problemas constantes do aviso em debate, não só pela brilhante e exaustiva exposição do seu autor, como também pelas excelentes intervenções dos Deputados que me precederam.

Como quero ser breve, limitar-me-ei a salientar dois ou três pontos. E começo pelo penúltimo dos enunciados na súmula do aviso - o criação de novos centros de preparação médica.

Como está dito e redito e como aqui o demonstrou amplamente o Deputado avisante, a penúria nacional de médicos é uma realidade angustiante. Estamos muito longe da proporção que a O. M. S. considera aceitável - l médico por 1 000 habitantes -, visto que em Portugal continental e nas ilhas adjacentes a proporção é de l para 2 238 habitantes. Também a O. C. D. E., como aqui foi dito, nos destaca entre 11 países como os de mais baixa proporção de médicos em relação à população activa, com 0,20, enquanto os Estados Unidos têm 0,51, a Jugoslávia 0,44 e a Grécia 0,40. Também, como todos sabem, o Prof. Almeida Garrett, do seu douto parecer sobre o III Plano de Fomento, afirmou a nossa necessidade urgente de aumentar o número de médicos.

A agravar a deficiência numérica- destes tão necessários profissionais está ainda a sua deplorável distribuição no território nacional.

Uma e outra devem ser motivos de apreensão para quem queira fazer uma reforma de saúde pública que traga resultados palpáveis a curto prazo.

Temos de atrair às nossas Faculdades de Medicina, já hoje pejadas e com a sua capacidade ultrapassada em tantos sectores, muito mais alunos. Mas temos também de lhes criar condições de ensino eficaz.

Julgo que os hospitais escolares já hoje não oferecem condições que possam garantir um ensino eficaz, nem mesmo aos pré-graduados, dada a afluência que se tem verificado nos últimos anos. Não temos, portanto, outro remédio senão o de criar novos centros de educação médica.

Enquanto se não criam as novas Faculdades de Medicina a que aqui se referiram os Deputados Miller Guerra, e Pinto Machado; enquanto se não põe de pé o novo Hospital Escolar de Coimbra, too necessário, mas cujos projecto e construção se vêm, infelizmente, arrastando ao longo dos anos sem que ainda se saiba quando se iniciem as obras!...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... é necessário tomar medidas sérias e urgentes para que se garantam condições de ensino eficaz tonto aos alunos de Medicina como aos próprios médicos já diplomados.

O Sr. Ricardo Horta: - Muito bem!

O Orador: - Como afirmou há cerca de três anos em brilhante e bem documentada conferência um dos mais ilustres professores da Faculdade de Medicina de Lisboa, "a educação pós-graduada é o problema mais delicado da educação médico".

Na mesma orientação se manifestou o autor do aviso em discussão; pois que será através dela que o médico se completa para o exercício da sua nobilíssima missão. E disse também que esta sua preparação, que é indispensável, não se deve limitar á prática médica, mas envolve muitas outras actividades, mesmo de tipo formativo, ampliando e intensificando a preparação até aí obtida.

A informação permanente, complementar, é, aliás, tão indispensável ao clinico geral como àquele que se especializou.

Sem sombra de dúvida: temos urgente necessidade de criar novos centros de educação médica!

Vem a propósito dizer que, em artigo muito recentemente publicado, o Prof. Nogueira da Costa e outros elementos da direcção da Sociedade Portuguesa de Educação Médica, analisando os relatórios das Faculdades de Medicina de Lisboa e de Coimbra, afirmam que o Hospital de Santa Maria, Com as suas 1 200 camas, não poderá preparar convenientemente mais de 150 médicos por ano, nos dois semestres.