Penso que temos necessidade de termos banis especialistas, ma? não nos podemos dispensar de ter também um numeroso e bem preparado grupo de clínicos gerais. Há necessidade de mantermos um certo equilíbrio entoe os dois grupos.

Por isso mesmo há que evitar esta exagerada orientação dos novos médicos para a especialização. É preciso criar condições para que o clínico geral não seja olhado com desdém; que a remuneração pelos seus actos médicos não seja degradada e muito inferior à do especialista; que se combata a falsa ideia da hierarquia profissional do especialista; que se evite que o clínico geral seja considerado o parente pobre da família médica.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A tal respeito se pronunciou já o próprio presidente do conselho geral da Ordem- dos Médicos da França, o Prof. Vernejoul, condenando o abusivo prestígio atribuído ao especialista.

E convém recordar a tal respeito, em virtude do fenómeno português correspondente, que o Prof. Anjaleu, então director do Instituto Nacional e de Investigação Médica e de Saúde Pública da França, afirmou que o Estado Francês assumiu uma grave responsabilidade ao multiplicar os especialistas, porque isso svai contra uma boa medicina".

Por seu lado, os peritos da O. M. S. consideram o clínico geral um combatente indispensável na luta contra a doença.

O que é que se passou e vai passar-se em Portugal a tal respeito?

A preparação dos especialistas (bem como a dos pós-graduados!) foi orientada pela Ordem dos Médicos sob o regime do voluntariado, quer criando a lista das especialidades, quer organizando cursos, quer criando serviços idóneos nos hospitais e maternidades centrais, informações periódicas e relatórios confirmados pelos directores desses serviços, exames e júris nacionais. E foi feito por ela por força das circunstâncias.

Assim se foi constituindo a maior parte do corpo dos nossos especialistas, os quais têm demonstrado a eficiência do processo seguido.

Infelizmente, porém, o ritmo da sua produção não correspondeu as necessidades do Pais, não só por causa das exigências postas na sua preparação, mas também porque o Governo não soube valorizar devidamente- esses especialistas, atribuindo-lhe nas estruturas hospitalares os lugares a que tinham direito.

Porém, nesta altura, depois da reforma dos serviços de saúde e da do internato médico recentemente publicadas, julgo haver razões para certa preocupação - receio passarmos rapidamente da penúria para a pletora de especialistas.

O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - O título passou a obter-se com a conclusão do internato complementar após aprovação num exame final, com julgamento por um júri que receio não seja nacional.

Conheço o suficiente a respeito da forma como decorre esse internato em alguns serviços para recear não somente o número, mas também a qualidade. Receio muito que tenha de dar razão a um antigo e saudoso mestre de Medicina que distinguia entre especialistas e especialiódes! ...

Daqui pode vir um grave predomínio de especialistas que rompa o equilíbrio que é necessário manter. Para isso chamo a atenção dos responsáveis pela política do ensino médico e pela da saúde pública.

O Sr. Salazar Leite: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Salazar Leite: - Não queria deixar de reforçar aquilo que V. Ex.ª acaba de dizer, ao folar da pletora de especialistas.

É evidente o que acaba de dizer, tão evidente que não podemos pensar que num País em vias de desenvolvimento, em que nos encontramos perante a certeza de que o número de médicos formados é insuficiente para atacar todos os problemas respeitantes à saúde, onde em muitas regiões existe um só médico para 20 000 ou 30 000 habitantes, não podemos pensar, dizia eu, que todos os médicos derivem por uma maior facilidade de acesso para especialistas, esquecendo por completo a existência do clínico geral.

Direi eu, que afinal de contas sou, não direi um especialista, mas um especializado, e que trabalho mais num campo de saúde pública do que de saúde curativa, que seria bom, nesta euforia de visão do futuro, da medicina preventiva, da saúde das massas, não esquecer um homem que é imprescindível: o clínico geral.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª

Sr. Presidente: Termino estas breves considerações dando o meu inteiro apoio as linhas gerais do aviso prévio do Deputado Pinto Machado, fazendo os melhores votos por que os ilustres Ministros da Educação, da Saúde e doa Finanças realizem o que é necessário e urgente para a reforma do ensino dos futuros médicos - mais e melhores médicos com curso mais abreviado! -, para o ensino contínuo dos pós-graduados, para a reforma e o necessário equipamento dos hospitais e para a melhoria da saúde pública nacional.

E junto mais um voto: é o de que, tal como o propôs um ilustre mestre da nossa Faculdade de Medicina de Lisboa, o Doutor Celestino da Goste, se considere a necessidade de substituir a Comissão Nacional do Internato Médico por outra - a Comissão Nacional para a Educação Médica Pós-Graduada, visto que o ensino pós-graduado não diz somente respeito ao Ministério da Saúde, mas também ao da Educação Nacional e, ainda, à própria Ordem dos Médicos.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Oliveira Dias: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tenho procurado orientar a minha actividade nesta Assembleia pelo desejo sincero de dar o meu contributo na construção de uma sociedade portuguesa mais justa e mais participada, pelo que não poderia ficar indiferente ao apelo que, a todos nós, lançou o Sr. Deputado Pinto Machado ao sumariar o aviso prévio em discussão, que toca um problema fundamental de qualquer comunidade: a saúde dos seus membros.

Não sendo especialista na matéria, proponho-me centrar as minhas breves palavras em redor de uma das proposições que o referido Sr. Deputado enunciou, relacionando a saúde com uma política global de desenvolvimento.

Desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a saúde está inscrita entre os direitos do homem, compreendida num nível de vida suficiente que garanta o seu bem-estar e da sua família. Bem sabemos como está a