Considerações desta natureza foram oferecidas aos leitores dos pareceres nestes últimos anos. Os indicativos das tendências sócio-económicas presumiam pessimismo, que se explicava por crise de crescimento, e o próprio parecer informou que a crise se projectava nos consumos. Moçambique estava e está a viver num nível acima das actuais possibilidades económicas. Não consegue ajustar o desenvolvimento da produção ao constante aumento dos consumos.
Daí o grande déficit da balança do comércio, com projecção relevante no desequilíbrio da balança de pagamentos, que está a assumir níveis anormais.
A situação é delicada até no aspecto de desenvolvimento. Para se apetrechar países novos tem de se importar as máquinas e os utensílios que não se podem fabricar localmente. Á planificação financeira do desenvolvimento requer um estudo meticuloso adaptado às disponibilidades, quer internas, quer externas.
Ora, de há um ano a esta parte, a balança de pagamentos, tradicionalmente positiva em Moçambique, entrou em desequilíbrio, que está a atingir cifras incomportáveis pela economia da província.
Daí decorrem dificuldades de vária ordem, materializadas na impossibilidade de adquirir cambiais.
Nasceu na província um problema de transferências idêntico ao que tem envenenado a vida económica de Angola. E o problema agravar-se-á mais rapidamente, e talvez com mais intensidade, do que na grande província da costa ocidental, porque, à vista, ou em vias de desenvolvimento em curto prazo, não há recursos que em poucos anos possam suprir falhas, como acontece em Angola.
Deste modo, os investimentos disponíveis terão de ser orientados para fins mais reprodutivos, e postos de lado esquemas que, embora sendo úteis, possam ser adiados por uns anos, dada a sua fraca produtividade, ou ainda a grande soma de coberturas que exijam.
Julgava-se que frente ao grande déficit do comércio externo de 1969, devidamente assinalado neste parecer, se tomassem medidas no sentido de o reduzir nos anos seguintes para cifras que coubessem dentro das possibilidades de coberturas de cambiais, ou que fosse feito um esforço no sentido de reduzir transferências.
Mas as cifras de 1970 deixam-nos pessimistas: um déficit comercial da ordem dos 4 805 000 contos está muito para além das actuais possibilidades. Necessita de ser muito reduzido. As importações agora necessárias para algumas grandes obras em construção hão-de exercer pressão no sentido do agravamento, mas o seu financiamento, em geral a longo prazo, com capitais externos, não requer nos primeiros anos transferências avultadas.
Debelar a situação autuai através do adiamento de obras ou projectos altamente reprodutivos não será de boa política. As medidas a tomar, de qualquer natureza, terão de repercutir-se nos consumos, quer desviando-os para as disponibilidades internas, quer reduzindo-os no que se importa de supérfluo ou odiável.
Não valerá a pena tornar a falar, neste lugar, de Cabora Bassa. O esquema foi estudado nas suas diversas facetas, até muito antes de ser resolvida a sua execução. E pode ser que, uma vez completada a grande obra, este parecer, se se continuar a publicar, nos moldes anteriores, possa dar uma demito final ao seu exame e à maneira como aparece o problema no tablado da vida ultramarina.
Mas convém escrever algumas linhas sobre o esquema de Massingir, no rio dos Elefantes, afluente do Limpopo.
O relator visitou demoradamente o esquema do Limpopo e o vale do grande rio. As possibilidades de aproveitamento económico são grandes, mas o regime do rio extremamente irregular. E na época própria haverá certamente falta de água no esquema, já a completar-se.
Mas o rio dos Elefantes, a montante, drena uma bacia hidrográfica que inclui zonas onde chove muito. E, além disso, uma das causas das cheias que afligem o Limpopo.
Em Massingir existe lugar que, não sendo extremamente próprio para uma albufeira, tem interesse num esquema que englobe o conjunto do rio.
Tal como foi sucintamente descrito nestes pareceres, no princípio da década 50 a ideia consistia em aproveitar a água para rega no esquema do Limpopo na época própria e produzir- energia a transmitir para Lourenço Marques, que nessa data muito dela carecia. Simultaneamente, com a retenção de centenas de milhões de metros cúbicos de água, atenuava-se o problema das cheias do Limpopo, do qual o rio dos Elefantes é afluente.
Era pois, e é na verdade, um esquema de aproveitamentos múltiplos, tal como tantas vezes se tem preconizado nestes pareceres para os aproveitamentos hidroeléctricos - a energia, a rega, o domínio das cheias.