Uma nova era se iniciou, então, para os Portugueses., mas o Mosteiro de Alcobaça continuou sempre fiel à missão que a si próprio impôs. As várias escolas agrícolas que instituiu mós seus coutos; a educação literária e científica que promoveu e facultou; os serviços prestados à instrução e educação artísticas desde a fundação do Mosteiro até à extinção das ordens religiosas; as suas escolas onde as artes se aperfeiçoavam e desenvolviam, como a pintura, a escultura e tantas outras actividades culturais; o vasto saber de muitos dos seus abades, como Fr. Estêvão Martins, Fr. António Brandão, Er. Bernardo de Brito, Fr. Fortunato de S. Boaventura, e tantos outros cujas obras levavam o nome de Alcobaça às mais distantes paragens de todo o mundo culto, são bem o perene testemunho da resoluta e eficiente cultura alcobacense.

E essa ilustrada tradição continuou, depois, a produzir os seus frutos até os nossos dias, como o atesta uma plêiade de escritores, cientistas e investig adores, nossos contemporâneos, a culminar com o sempre saudoso Prof. Joaquim Vieira Natividade, que a morte levou quando ainda havia tanto a esperar da sua fértil e poderosa inteligência.

De tudo quando acabo do expor, embora sumariamente (lembrando mais uma vez a privilegiada situação geográfica local), desejo concluir que nenhuma outra terra, mais do que Alcobaça, ostentará melhores pergaminhos para receber uma escola universitária. Com isso, além do assinalado benefício concedido, se praticaria um acto de justiça, que o seu povo, às vezes incompreendido, jamais esqueceria.

E ainda em obediência às invocadas tradições (foi lavrador o Rei que instituiu a Universidade, também de raiz alcobacense foram essencialmente agrónomos os monges de Alcobaça; atingiu ala a ciência agrária, em todos os tempos, muito elevado grau de desenvolvimento e ensino; foi agrónomo e silvicultor o Prof. Natividade, que em Alcobaça desenvolveu toda a sua sabedoria e fecunda actividade para instrução prática dos alunos da nova escola.

Creio, finalmente, que, deslocado dali o Asilo de Mendicidade, como já se decidiu, e depois de pequenas obras de restauro e adaptação, ficaria resolvido com vantagem e até com toda a propriedade o problema das instalações.

Assim se trocaria também o estéril e desolador aspecto actual do Mosteiro, pela vida pujante e renovadora que lhe iria emprestar toda a sua nova população escolar. E, desse modo, continuaria o Mosteiro a manter, ainda hoje, a sua feição cultural, a única inteiramente digna das suas antigas e nobres tradições.

Ao Governo, pois, e especialmente ao Sr. Ministro Veiga Simão, primeiro responsável da nova era que se inicia para a educação nacional, tenho a honra de enviar estas minhas suplicantes palavras.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi Cumprimentado.

O Sr. David Laima: - Sr. Presidente: Tenho entre mãos, chegado há dias, o relatório e contas do exercício de 1970 da Secção Distrital do Moxico do Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria da Província de Angola.

Documento divulgado em Angola, conhecido portanto das instâncias oficiais, das organizações patronais e dos sindicatos, ele exterioriza o pensar de todos quantos em Angola ali enfrentam condições de trabalho para as quais tenho feito apelos sucessivos de atenção.

Ninguém, ao ler o referido documento, pode ficar insensível aos problemas expostos com tanta franqueza, autêntico brado de desespero e de fadiga, tentativa convicta para alcançar a correcção dos erros que não podem ser tolerados numa sociedade justa.

É pois sob a emoção confessada e muito sentida dessa leitura que, de novo, apelo para a necessidade imediata e evidente de se encontrarem as soluções desejadas para os problemas expostos, limitando-me hoje a reproduzir os textos a que me refiro, pois eles contêm, no mais elevado grau, a franqueza, a espontaneidade, a mágoa de quem realmente suporta a incongruência e injustiça das situações relatadas. Qualquer alteração que me permitisse apenas roubaria força e interesse a esses textos. Salários. - "A doença social depende, primariamente, das condições sociais em que vive o trabalhador. Não pode ser combatida eficazmente se não houver, pelo menos, uma alimentação suficiente e racional e uma habitação higiénica. E para isso terá de haver uma política de salários que defenda o trabalhador da subalimentação e da sanzala."

"Na área desta secção o trabalhador chega a ganhar entre 40$ e 60$ diários, às vezes menos. Nestas condições queremos homens válidos? Impossível! Temos apenas homens "doentes de corpo e espírito." Em Luanda é vulgar as chamadas grandes companhias praticarem salários de 80$ a 35$ diários, quantia mais que insuficiente para os encargos com a alimentação de um casal.

"Compreendemos que, em matéria de solários, não basta legislar. Torna-se necessário criarem-se condições económicas que permitam pagar; também sabemos, porém, que há muita exploração e que muito se ganha à sombra dos salários de miséria que se estão a pagar."

Não ousaríamos acrescentar o que quer que fosse se não nos tivesse despertado a atenção uma crónica do jornalista Luís Rodrigues, publicada no Jornal do Congo n.° 711, de 10 de Fevereiro último.

Sentimos ser oportuno reproduzir essa crónica na íntegra, pois é incontroverso que todos os aspectos salariais ali estão considerados de forma que consideramos merecedora dos maiores encómios. Eis pois o texto de Luís Rodrigues:

Em recentes discursos, proferidos por entidades responsáveis, temos continuado a ouvir afirmações que nos deixam ficar algo duvidosos, por aparentemente se encontrarem em contradição com a realidade do dia-a-dia. Referimo-nos especialmente à chamada "drenagem" dos serviços públicos, de funcionários qualificados ou não, que escolhem a actividade privada, onde os ordenados são muito me-