o qual as populações fossem convidadas para tomar contacto com os seus Deputados. Era nessas precisos termos que o encontro devia ser efectuado.
O Sr. Correia da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Por isso mesmo fiz o reparo.
O Sr. Correia da Cunha: - Muito bem!
O Sr. Cotta Dias: - Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Cotta Dias, não é desejável que prolonguemos diálogos desta natureza. Em todo o caso concederei a V. Ex.ª, mais uma vez, a palavra para explicações, mas gostaria que V. Ex.ª ficasse por aqui.
O Sr. Cotta Dias: - Eu ficarei por aqui, Sr. Presidente.
Só queria dar a explicação d(c) que eu não afirmei nem penso que fosse menos lícito ou regimental esta maneira de comunicar com o eleitorado. Limitei-me a dizer que haveria outras formas mais práticas e miais úteis e não tenho dúvida nenhuma em desejar que o Sr. Deputado leve a efeito as suas promessas em conjunto com os seus colegas.
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Vamos passar à
Continuação da discussão na generalidade da proposta de lei sabre o fomento industrial.
Tem a palavra o Sr. Deputado Magalhães Mota.
O Sr. Magalhães Mota: - Sr. Presidente: Pachorrentamente, à média de dois oradores, por dia, vamos discutindo (?) a proposta de lei de fomento industrial.
Começarei por aqui.
Valeria a para reflectir em tal facto numa óptica da própria. Assembleia. Que se passou que faz morrer iniciativas s interesse pelos debates?
Tentarei alargar o campo de visão: Que se passou de há dois anos a esta parte, e que transformou todo o impacte nacional provocado pelo discurso em que o Secretário de Estado da Indústria apresentou as grandes linhas da política industrial no quase desinteresse de agora?
Julgo que, em termos políticos e numa Câmara política, aí se justifica uma primeira e séria meditação.
O que não vale a pena é evitar ou ocultar a questão. Nem acusar de "confusão deliberada" a "pedra de toque" que sempre é a procura de autenticidade.
Será que enfraqueceu a opinião privada e em especial a dos "organismos corporativos" como aqui ontem foi dito?
Tenho para mim que não. Julgo antes que, como ao deixar a pasta da Economia disse Ferreira Dias, "o que importa fazer choca muitos conceitos e alguns preconceitos que reagem por todas as vias ao seu alcance - e são muitas, e algumas sinuosas ...".
O que penso é que estamos vivendo em Portugal uma fase que chamarei de ... "desencanto político". . Nem será necessária uma grande sensibilidade para o detectar, nem grande enumeração do índices para confirmar.
O "porquê" já me parece mais importante: por isso tentarei avançar a minha hipótese, até porque não me afastarei do tema em debate.
Dizia eu que se foram esbatendo e murchando esperanças. Seriam irrealistas, mais desejadas que fundadas em bases reais. Mas eram.
Agora, do mesmo modo, ter-se-á generalizado a ideia de que não há outra saída, que tudo continua na mesma.
Adiantarei já que não penso assim. Mas lá iremos ... as razões da minha esperança.
Prosseguindo a análise. Novamente: Porquê o "desencanto"?
Julgo que, fundamentalmente, por:
Arcaísmo das nossas estruturas sócio-políticas incapazes da aceitação plena da evolução e da mudança, obstinando-se na defesa de interesses económicos ultrapassados;
Funcionamento defeituoso da administração pública, cuja reforma nunca mais se efectiva; Indefinição das nossas relações com os outros; Economia frágil.
Não valerá a pena deter-me hoje na incapacidade, que todos em maior ou menor grau, dolorosamente, vamos suportando para enfrentar a alta crescente dos preços.
A renda de casa e a alimentação esgotam a quase totalidade dos rendimentos mensais da maior parte dos portugueses, por sua vez obtidos com sacrifício de todos os tempos livres consumidos em segundos empregos ou em transportes.
Custo de vida, diz-se, e o simbolismo é quase cruel: cada dia custa mais simplesmente viver ...
Nesta frágil economia, um dos factores é, certamente, uma insuficiente industrialização.
Começando pela estrutura, de produção, uma distorção evidente resulta do papel das chamadas 'indústrias pesadas (celulose e papel, química e petróleo, produtos minerais não metálicos, metalúrgicos e metalo-mecânicas), que em 1967 não contribuíam com mais de 40 por cento para o produto e não absorviam mais que metade do revestimento industrial.
Os números pecam, aliás, por excesso. "A maioria das unidades englobadas na indústria pesada nacional devem essa classificação exclusivamente à nomenclatura estatística, já que pela tecnologia que empregam a produtividade que alcançam muda têm de característico da indústria pesada." I
Isto é: as indústrias do passado continuam sendo, as dominantes.
Quanto à estrutura dimensional, em 1964, 98,2 por cento das empresas empregavam menos de 100 assalariado", 1,2 por cento de 100 a 300 e apenas 0,6 por cento mais de 300.
No entanto, as 98,2 por cento pequenas empresas representavam 53 por cento dos assalariados e 42,8 pôr cento do produto, enquanto as 1,8 por cento médias empresas tinham 47 por cento dos assalariados e contribuíam com 57,2 por cento do produto.
A concentração, embora lenta, é visível. Entre os inquéritos industriais de 1957-1959 e 1964 desapareceram cerca
2 Cf. "A Pequena e a Média Empresa". Comunicação n.º 6 ao Colóquio de Política Industrial, Fevereiro de 1970. O autor foi o engenheiro António Silva Teixeira.