José Maria de Castro Salazar.

Lopo de Carvalho Cancella de Abreu.

Luís António de Oliveira Ramos.

Manuel Elias Trigo Pereira.

Manuel de Jesus Silva Mendes.

Manuel Joaquim Montanha Pinto.

Manuel Martins da Cruz.

Manuel Valente Sanches.

Maximiliano Isidoro Pio Fernandes.

Olímpio da Conceição Pereira.

Pedro Baessa.

Prabacor Rau.

Rafael Ávila de Azevedo.

Rafael Valadão dos Santos.

Raul da Silva e Cunha Araújo.

Ricardo Horta Júnior.

Rui de Moura Ramos.

Teodoro de Sousa Pedro.

Tomás Duarte da Câmara Oliveira Dias.

O Sr. Presidente:- Estão presentes 60 Srs. Deputados. Está aberta a sessão.

Eram 15 horas e 40 minutos.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Conviemos em reservar o período de antes da ordem do dia da sessão de hoje para celebrar a chegada ao penedo de S. Pedro, há precisamente cinquenta anos, de dois grandes heróis nacionais que foram o almirante Gogo Coutinho e o comandante Sacadura Cabral, na sua viagem de travessia aérea do Atlântico.

Por atenção a celebridade da data e à importância do tema, reservarei para a sessão de amanhã toda a outra matéria e dedicar-nos-emos agora exclusivamente a esta.

Eu suponho que pelo menos sob quatro aspectos pode ser evocada, pode ser celebrada, pode ser enaltecida a viagem aérea realizada, no segundo trimestre de 1922, pelos dois heróicos marinheiros, cujos nomes temos nós tão bem presentes.

Foi, em primeiro lugar, um acto de altíssima coragem humana.

Foi, em segundo lugar, uma manifestação de erudição e de trabalho científico verdadeiramente notável.

Foi uma polarização extraordinária de toda a emotividade nacional.

Foi uma manifestação significativíssima no quadro das relações de amizade e de fraternidade entre Portugal e o Brasil, pois que se processou no ano centenário da independência daquele grande país e porque aviadores portugueses, depois que ensaiaram as suas asas sobre o mar, começaram, como quinhentos anos antes, por ir a ilha da Madeira, mas logo a seguir abalançaram-se a ir ao Brasil levar, nas asas dos seus aviões, o abraço à nação la criada, no seguimento dos germes de civilização e de cristandade que, quase quatro séculos e meio antes, tinham levado as nossas caravelas.

E se VV. Exas. mo permitem, esta característica que citei em último lugar retomá-la-ei por uns instantes (pois não quero demorar a Assembleia), agora com a primacialidade que me inspira a sua própria grandeza e o seu próprio significado e a circunstância de estarmos a correr a semana em que cai o Dia da Comunidade Luso-Brasileira, que esta Assembleia - quando se encontra reunida em sessão - tem aproveitado sempre, com gosto e com entusiasmo, o ensejo de celebrar.

Mas parece-me que, se hoje a comemoração que vamos fazer a fizermos tendo no espírito todo o significado dessa comunidade, tudo o que ela representa pelos laços afectivos, pêlos laços morais, pelos laços espirituais e até no que pode representar em ligações materiais, teremos celebrado da maneira mais brilhante e mais condigna a comunidade luso-brasileira, cuja data evocativa passará no próximo sábado. Mas é nesse dia, na própria cidade do Rio de Janeiro, e por parte do mais alto representante na Nação Portuguesa, que haverá manifestações de tal altitude, de tal significado, que se podem substituir a todas as demais na ocasião.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Gostaria, pois, que reconhecêssemos e aceitássemos todos, aqui e além, o que vamos dizer hoje, como mais uma celebração da comunidade luso-brasileira por parte da Assembleia Nacional.

O acto de coragem, Srs. Deputados, é mais um de muitos que engrandece a espécie humana, tantas vezes afundada nas vilezas da cobardia ou da inércia e que delas se sabe redimir com lampejos fulgurantes de decisão, de decisão reflectida perante o perigo, que é a verdadeira coragem e a verdadeira medida de grandeza da existência humana.

Era bem grande o perigo que arrostaram os dois heróicos aviadores. Muitos já não o figuram hoje, mas os que viveram o tempo sabem como eram frágeis as aeronaves de então. E os que leram a história da viagem saberão também que nada menos de três vezes foi preciso mudar de avião, dada a sua fragilidade.

Como realização científica, também tem de ser lembrada, celebrada e glorificada, essa grande viagem de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, porque parece ter sido a primeira vez que se ensaiaram métodos rigorosos, fundados nos dados da inteligência e na observação dos elementos seguros do firmamento, para conduzir aviões onde não havia à vista indícios direccionais.

Pouco tempo antes, os poderosíssimos Estados Unidos da América do Norte tinham querido fazer atravessar o Atlântico por aeronaves suas. Mas, para o fazerem, necessitaram de balizar o oceano, de dezenas de milhas em dezenas de milhas, com navios que estacionaram para marcar o caminho.

Os nossos heróis não precisaram de mais que a sua sabedoria e o instrumento que tinham criado, para encontrarem o caminho. Caminho que, precisamente na data de hoje celebrado, foi particularmente difícil, pois se tratava de encontrar na imensidão do mar um simples rochedo que mal aflorava no cimo das águas.

Mas também esta viagem aérea, de Lisboa ao Rio de Janeiro, em 1922, foi uma grande hora de emoção nacional. O País vivia horas de abatimento moral e cívico. Tinha atravessado pouco antes o conflito da guerra, em que o heroísmo de uns milhares de soldados, dignamente conduzidos por oficiais valorosos, não tinha conseguido apagar as discussões sobre a oportunidade do empreendimento, nem os reparos sobre as deficiências materiais e organizacionais que a coragem dos nossos homens tinha tido que superar.

Pouco depois voltara a discutir-se a forma do regime que nos havia de governar. A seguir, mantiveram-se os ódios políticos, as malquerenças, as discussões constantes,