agradecimento com a minha consideração pelos seus valiosos trabalhos de investigador histórico inteligente, probo e sempre insatisfeito.

No decorrer da leitura do manuscrito, que faço na íntegra apesar de referir aspectos não directamente ligados a travessia aérea, pelo interesse que apresentam para pontos fundamentais das navegações, prestarei algum esclarecimento porventura conveniente, tendo presente que ele, como disse, foi elaborado de memória e por isso resumido: seguirá a transcrição textual para inserir no Diário das Sessões, dada a dificuldade de nele incluir o fac-símile.

Prioridade atlântica no ar e no mar

do, em 1919, o Comdte. Reid trouxe a Lisboa [repare-se na palavra "trouxe"] com escala pela Terra Nova e Açores, um hidravião trimotor, tendo-se servido, como referência de navios escalados ao longo da rota . . .

O Sr. Presidente já a isto se referiu, mas eu posso acrescentar que os navios foram 70, (praticamente localizados de 60 em 60 milhas. Mais ainda, é que tendo encontrado uma mancha de nevoeiro numa determinada parte do percurso, à roda de 170 milhas, e os aviões tendo de voar por cima do nevoeiro, quando este realmente passou e conseguiram verificar a sua posição, estavam 45 milhas afastados do rumo.

O aspecto genial do sextante de Gago Coutinho foi exactamente o raio de curvatura deste nível de bolha.

... Ao mesmo tempo foi sendo estudada uma simplificação do cálculo do ponto no Ar, reduzido a três minutos, e tornado rápido e automático.

Conseguidos estes úteis resultados, poude-se garantir ao Avião o poder ir a toda a parte, independentemente do rádio, e de referências pelo mar fora, isto em 1920. E, como experiência, foi-se pelo Ar, de Lisboa à Madeira, viagem de sete horas, a qual confirmou a utilidade dos nossos processos. Então já se começou a pensar na viagem que mais interessaria Portugal, a ide Lisboa ao Brasil. Tudo em hidravião.

Como Sacadura era Piloto diplomado, ele teria de ser o Chefe da Expedição aérea. Apresentado o projecto às Autoridades, como os Presidentes da República e do Governo, e ainda o Ministro da Marinha, Azevedo Coutinho, Sacadura obteve os recursos para compra do um avião novo, ao qual para construtor Fairey deu, no desenho, o nome de Atlântico. E foram financiados os três navios de guerra, que deveriam estar nos portos, com recursos e Mecânicos, que lá não havia.

O Avião, que recebeu o nome Lusitânia, hidravião, carregava nos flutuadores de madeira, "plaquê", um metro cúbico de gasolina. O motor era Bolls-Royce de 360 cavalos. Devia voar 16 horas sem abastecimento. Só tinha lugar para Piloto e Navegador.

Na viajem Sacadura teria de pilotar, apesar de ir tão preparado para navegar como Coutinho. O que se evitaria, se já houvesse o "Piloto automático" de agora.

Tudo assim preparado, largámos de Lisboa na manhã de 8 de Marco de 1922. A viajem até à Gran-Canária correu bem. Mas notou-se logo que o nome "Transatlântic" era só literário, visto não ter as 16 horas de voo prometidas pelo Construtor Fairey: À velocidade de Cruzeiro", o consumo horário subia a "20 galões" - noventa litros - e o metro cúbico de gasolina, que carregávamos, não chegaria para mais de 12 horas!

Há aqui um esquecimento do almirante Gago Coutinho: o avião não gastava 90 de gasolina por hora, gastava cerca de 120 , e os tanques suplementares que iam nos flutuadores carregavam o tal metro cúbico de gasolina, mas havia também os tanques normais de serviço do avião e por isso ele transportava cerca de 14001 de gasolina, o que dava as tais doze horas de voo.

... Não poderíamos ir diretos das ilhas de C. Verde a F. Noronha - já Brasil, distancia que impunha 16 horas de voo. , assim, como único recurso resolvemos escalar no "Penedo de São Pedro", umas pedras com pouca visibilidade. Se faltasse o vem-to favorável com que contávamos até ao Equador, pousaríamos na linha . . .

"Na linha", quer dizer o mar sobre o equador.

... e o Cruzador estacionado naquelas pedras - o "Penedo" -, largando ao anoitecer, nos apanharia.

Assim, tendo escalado nas ilhas de C. Verde, no dia 18 Abril, de manhã cedo, "decolamos" da ilha Santiago. Contávamos, como os Pioneiros que nos seguiram, com o vento "alisado" de Nordeste, que nos não falhou. Não levamos rádio, por causa do peso, mas o rádio da ilha preveniu da nossa partida o Cruzador "República", que nos esperava com os Mecânicos no Penedo. O qual servia de referência para nosso encontro.

Trata-se de uma frase que demonstra a simplicidade do Sr. Almirante Gago Coutinho, porque o República era um navio muito pequenino e pouco mais visibilidade tinha que o próprio penedo.

Durante a viagem, tendo o vento enfraquecido, analisada a dia de voltar a Santiago, foi posta de parte: se a gasolina, o combustível, não chegasse esperaríamos na linha. Assim prosseguimos e, ao avistarmos o cruzador, junto RO Penedo, o facto deu extraordinária impressão de entusiasmo à tripulação do República, bem mais que n nós, que íamos vendo que nada nos falhava.

Isto é espantoso de humildade!

Porém, ao poisarmos junto do cruzador, já quase sem gasolina, e por isso leves, um dos flutuadores, podre, desfez-se, libertando o tanque vasio, que ele levara, e que flutuava! Apesar dos cuidados, que logo