O Orador: - Diz assim:

 insatisfação dos médicos internos, cuja concentração maciça nos enfermarias, falta de acompanhamentos permanentes, perda de critérios objectivos da apreciação final do seu trabalho, os não favorece para atinência daquilo que justamente pretendem - uma boa preparação profissional, complementar do curso base, que os habilite a desempenhar a sua função extra-hospitalar com segurança e tranquilidade.

O Sr. Salazar Leite: - Essa não foi a frase a que eu me referia, mas essa...

O Orador: - Mas vai outra já

O Sr. Salazar Leite: - A última, Sr. Deputado, escusa de estar ler todas.

O Orador: - Não. Eu vou ler o que for preciso para ficarem as coisas claras. A respeito dos serviços de urgência, o Secretário de Estado disse o que todos sabemos. O que todos sabemos, quer dizer, nós, os médicos. O Sr. Doutor não sabe, porque discorda.

O Sr. Salazar Leite: - Não, Sr. Professor...

O Orador: - Discordou quando eu há tempos falei dos serviços de urgência.

O Sr. Salazar Leite: - Quando V. Ex.ª falou dos serviços de urgência empregou uma expressão que é a mais ofensiva que poderia aplicar aos serviços de urgência: chamou-lhes «campo de concentração» . . .

O Orador: - Ninguém se ofendeu, a não ser V. Ex.ª Sr. Deputado e Prof. D salazar Leite.

Não tive nenhum reparo a esse respeito, a não ser do Sr. Prof. e Médico Salazar Leite . . .

O Sr. Salazar Leite: - Discordei da expressão que V. Ex.ª tinha empregado, e de que continuo a discordar, porque V. Ex.ª seguramente não ignora o que é um campo de concentração.

Com respeito- a saber ou não saber o que se passa nos Hospitais Civis de Lisboa, onde eu fiz toda a minha vida, já lá vão muitos anos ...

O Orador: - Há cinquenta anos...

O Sr. Salazar Leite: - ... mas garanto-lhe que nunca nós procurámos encontrar nos Hospitais Civis de Lisboa senão a maneira de nos podermos valorizar e de alguma coisa de útil fazermos para a sociedade.

O Orador: - Há cinquenta anos...

O Sr. Salazar Leite: - E não procurámos de modo algum encontrar nos Hospitais Civis de Lisboa uma fonte de discórdias e uma fonte de discussões ...

O Orador: -Não é ai que está o caso. Não se trata de nada disso!

O Sr. Presidente: - Os pontos de discordância de V. Ex.ª estão estabelecidos perante a Assembleia.

O Sr.- Deputado Miller Guerra tenha a bondade de continuar, e peço-lhe o favor de não consentir mais

interrupções, porque há que limitar a duração do período de antes da ordem do dia.

O Orador: - Seguindo as orientações do Sr. Presidente, não consentirei mais interrupções, mas quero que fique bem claro que eu não aceito, de forma nenhumas, insinuações do Sr. Deputado e meu colega Prof. Salazar Leite.

Eu não amputei, eu transcrevi. Eu não deformei, disse a verdade. E continuo a dize-la

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Portanto, continuo. E não falo dos aspectos administrativos, campo especifico da competência do Sr. Dr. Jorge Santos, que

asseverou: «Há que rever em toda a sua plenitude o problema do financiamento hospitalar.»

E, oontinuando, caracterizou a situação nos seus aspectos genéricos do seguinte modo: desactualização das tabelas para doentes de enfermaria a cargo de entidades por elas responsáveis e que datam de 1965; excessiva desagregação das contas nos casos de acordos com entidades, significando elevadíssimos e desnecessários custos operacionais; irregularidade dos cobranças efectivas, tanto pela apresentação pontual das facturas como, princinpalmente., pela ineficácia do actual mecanismo legai de cobranças coerciva; estruturas internas insuficietemente dotadas e deficientemente mentalizadas para a colecção oportuna e rigorosa dos elementos de base componentes dos débitos a fazer; finalmente, imperfeitos sistemas cantabilisticos do apuramento dos custos e resultados

Sobre a gestão económica e financeira o Secretario de Estado advertiu: «[. . .] Não será tolerável o aparecimento de súbitos e inesperados deficits, nem a prática da persistência da sua manutenção como facto cansumado, isto quando fruto da passividade, indiferença ou ausência do sem posto dos gestores responsáveis, especialmente quando acobertadas estas com vagas alegações como já tem acontecido, pretensamente patrocinadora! dos interesses dos doentes, que não se divisam com facilidades»

Dito isto por um membro do Governo, não vale a pena acrescentar nada mais para se ter a certeza do estado estrutural e funcional dos principais unidades hospitalares

A Sr.ª D. Raquel Ribeiro: -Muito bem!

O Orador: - Por outro lodo, concluiu-se que a situação não provém de hoje nem de ontem, mas resulta naturalmente de dezenas de amos da política da saúde o da sua falta.

O Sr. Correia da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Não haveria sido mais correcto e útil ter aproveitado a crise para travar relações estreitas com os internos ouvindo-lhes os reparos e as reclamações em vez de os demitir

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... ferindo-os desnecessariamente e toda a profissão médica?

Os métodos autoritários têm isto de mau: em vez solucionarem os problemas, esmagam-nos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!