sempre adaptações necessárias a um meio físico ingrato. Propriedades em meio edafo-climático adverso, parceladas em pequenos courelas, e alguns anos depois reagrupadas, como processo de sobrevivência, são do conhecimento comum e evidenciam a força do processo.

Mas, e como se dizia, o Plano propunha a alteração radical do meio em relação a um dos seus componentes fundamentais - a água, e de tal forma que o Alentejo, tão escasso em recursos hidráulicos até então, passaria a contar, opôs a conclusão das obras previstas, com 170 000 ha de regadios possibilitados por uma série de grandes albufeiras distribuídas ao longo de todo o seu território.

Deste modo, a água, até aqui causa primária da estagnação do Alentejo, passam agora a fundamentar todas as esperanças, já que iria permitir, em escola até então impensável, rega, energia, urbanização, industrialização, turismo ... numa palavra, desenvolvimento.

Iniciada a concretização do Plano pelo grande Ministro Arantes e Oliveira, servido por uma plêiade de colaboradores de excepção, e devidamente apoiado e encorajado pá Salazar, que considerava a cega factor que, como nenhum outro, contribuiria para a valorização do património nacional e para a criação de riqueza pública, tudo parecia indicar, em face da aprovação generalizada, que o processo já não teria interrupção que não se relacionasse com a mobilização dos elevadíssimos capitais necessários a tê-lo grandioso como decisivo empreendimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Permita Deus que assim suceda, pois não consigo acreditar em desenvolvimento do Sul sem execução plena do seu plano de rega. Não será condição-suficiente... mas é, sem dúvida, condição necessária, imprescindível.

De qualquer modo, estão construídas as barragens do Divor, do Caia, do Roxo e do Mira, incluídos na 1ª fase, os quais possibilitarão o regadio em cerca de 25 000 ha. Esta fase, iniciada em 1963 e terminada em 1969, tinha já, em 1970, 53 por cento da área total dominada submetida a regadio, percentagem francamente favorável, dado que a evolução da transformação operada pelo regadio é naturalmente lenta. V. Banzil, na sua obra Traité d'Irrigation, estabelece a superfície que deve estar aproveitada ao fim de determinado número de anos do termo de uma obra.

Nessa tabela se verifica que a superfície aproveitada ao fim de 5, 10, 20 e 30 anos deverá ser 36, 58, 76 e 82 por cento da área dominada, números que evidenciam não haver atrasos nas obras alentejanas que não sejam normais em tão radical processo de transformação, em reconversão agrária no mais lato sentido da expressão. Mais ainda:...

Se recordarmos que essa transformação tem sido quase sempre acompanhada de um inadequado regime de arrendamento, de um ordenamento cultural deficiente por falta de opções rendáveis, da descapitalização do sector, de atraso tecnológico, de industrialização insuficiente, de comercialização defeituosa, de deficiências estruturais, de mão-de-obra impreparada e de baixa produtividade, de gestão empresarial e apoio técnico discutíveis, etc., se recordarmos tudo isso, dizia, a conclusão não pode ser pessimista, mas notes nos deve levar a prosseguir com mais decisão, maior esperança e mais adequados condicionalismos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Retornando ao Plano...

Iniciada a sua 2.ª fase com as borragens de Odivelas e do Alto Sado, próximas já do seu termo e inauguração, é chegada a hora do aproveitamento do Guadiana, fulcro e coroação de todo o sistema.

O Sr. Amílcar Mesquita: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Amílcar Mesquita:- As considerações que o Sr. Deputado está a fazer são da maior transcendência para a sub-região Alentejo, porque se inserem, com toda a pertinência, no contexto do desenvolvimento regional.

Tem estado V. Ex.ª a fazer incidir, predominantemente, a sua intervenção a propósito do Plano de Rega do Alentejo, cuja política de execução é vital para a sobrevivência e valorização sócio-económica dessa região, como V. Ex.ª muito bem acentuou.

Mas eu diria ainda, se me permite, que a construção da barragem de Alqueva é fundamental como fonte imprescindível de abastecimento de agua ás populações, de produção de energia eléctrica e como infra-estrutura essencial à instalação de unidades industriais.

Justifico, sucintamente, este tríplice aspecto:

A cidade de Évora, a curto prazo, sofrerá da falta de água para o abastecimento, pois o reservatório da barragem do Divor será insuficiente.

Aliás, para esse problema ser já dos nossos dias, bastaria que a maioria das habitações estivessem equipadas de água canalizada e casas de banho.

Além disto, como virá a ser assegurado o abastecimento do futuro grande centro populacional de Sines?

Inquiridos as 59 câmaras da região do Sul, verificou-se que 66 por cento vão ter problemas de abastecimento de água em futuro próximo e que cerca de 50 por cento já hoje lutam com dificuldades. Como urbanizar sem água?

Toda a política preconizada pelo Governo, no que toca ao desenvolvimento regional, assenta na preocupação de concentrar os investimentos em centros urbanos devidamente hierarquizados, em ordem a dotá-los dos equipamentos económicos, sociais e culturais mínimos. Como executar este urbanismo, se não existe água em quantidade suficiente para o realizar?

Sempre que se pretende levar a efeito qualquer obra, logo surge o condicionalismo hídrico.

Se se pensa instalar um matadouro industrial, a grande dificuldade que surge para o arranque é não se dispor de água suficiente que lhe garanta o respectivo funcionamento.

Se se pretende construir uma fábrica de desidratação, logo se encalha com a falta de água.

Há empreendimentos industriais que não se instalaram na região por falta de água (e de energia eléctrica) em quantidade.

Daqui verificar-se que a barragem do Divor, com escassa bacia alimentadora, está neste momento apenas com me-