De facto, não aceitamos que se não compreenda que aquelas enormíssimas parcelas do nosso território - riquíssimas em valores materiais e no portuguesismo das suas gentes -, que designamos por províncias ultramarinas, forçosamente virão a desempenhar um papel cada vez mais importante no conjunto nacional e no desenrolar de toda a nossa política, já que serão naturalmente elas que virão a dar-nos a força de que necessitamos para que possa vir a verificar-se rapidamente o ansiado progresso social de todo o povo português.

Daqui a assegurarmos que toda a nossa política, interna e externa, deva ter como principal objectivo o assegurar a manutenção do ultramar como parte integrante de Portugal, e o rápido desenvolvimento dos seus territórios, para bem do todo e indispensável a essa manutenção, vai um pequeno passo. Um passo que não hesitamos em dar, conscientes embora de que nos sujeitamos aos sorrisos irónicos daqueles que continuam, apesar de tudo, a só crer numa política estritamente europeia.

Não afirmamos que Portugal pereceria som o ultramar, nem sequer advogamos uma política de menos interesse pelas possibilidades que a Europa nos poderá oferecer mesmo a despeito das dificuldades que estamos enfrentando, mas consideramos que cometeríamos um tremendíssimo erro se descurássemos a verdade insofismável de que o ultramar é imprescindível a nossa independência económica, e deixássemos assim de fazer todos os sacrifícios que a sua manutenção e desenvolvimento exigirem.

É sem dúvida ele o nosso mais valioso património, no sentido materialista, para já não falarmos na sua enorme riqueza em valores morais e históricos, que não ignoramos serem normalmente relegados para segundo plano por certos conceitos modernos em que imperam os valores materiais.

É, pois, nos territórios que o constituem que se concentram as fantásticas potencialidades que podem e devem constituir a base de todas as nossas esperanças. Ê neles que virá a residir a força económica que nos colocará numa posição de virmos facilmente a enfrentar os outros grandes espaços, permitindo que Portugal se guinde entoo ao lugar de relevo a que tem direito, considerada e usada que seja toda a sua verdadeira dimensão e grandeza, infelizmente .tantas vezes ignoradas.

É, aliás, neles, muito mais do que por vezes se pretende fazer crer, que em grande parte tem assentado e assenta a nosso economia metropolitana, para a qual perda do ultramar viria a representar profundo golpe, há que admiti-lo. E ainda neles que residirá o factor de equilíbrio indispensável à nossa posição num possível acordo económico luso-brasileiro para o qual parece estarmos caminhando.

Ora, se tivermos a coragem de aceitar estes factos sem rodeios e equacionar o problema com esta crua, mas real simplicidade - a quase que indispensabilidade da manutenção e desenvolvimento do ultramar para a sobrevivência de Portugal .como país economicamente independente -, temos de admitir que a nossa altitude de forçosamente terá de ter como principal objectivo,

como primeira meta a atingir, o encontrar de uma solução positiva, e duradoura, que, sem pôr em risco a integridade da Nação, antes estreitando coda vez mais os laços existentes, garanta essa mesma manutenção. E é evidente que tal só poderá conseguir-se se a solução adoptada a todos satisfizer, a todos incutir confiança, a todos garantir os benefícios do progresso global.

Consideramos francamente «precária qualquer solução baseada numa política imposta, que não respeite a ideia de que o progresso acelerado do ultramar é indispensável h sua própria manutenção e de que, por sua vez, a confiança dos portugueses ultramarinos no futuro que se lhes apresenta - o que implica a satisfação de alguns dos seus reconhecidos como razoáveis anseios - á indispensável a esse progresso.

Mais do que ninguém são eles quem o constrói.

Além da paz que tanto nos esforçamos por obter, e que havemos de conseguir, estou certo, precisam de apoio, de estímulo, da certeza de um futuro duradouro e de pouco mais.

Não lhes falta a falta portuguesísma, nem o amor à Pátria, que nos tem conduzido às grandes realizações.

Entendemos assim que se a solução que se enquadra nos parâmetros postos representar sacrifício para qualquer dos espaços nacionais, sejam quais forem os sectores em que «e situem, devem estes ser encarados sem vacilações, para bem até desse mesmo espaço.

Estamos a ver alguns de VV. Exas. quase a perguntar-nos se consideramos nós que não esteja o País inteiro empenhado em tais sacrifícios, como sempre com a mente posta naqueles milhares de portugueses que tão galhardamente se batem na guerra diabólica que enfrentamos e que, antes de mais, nos deve preocupar, mas que não resolverá o problema de fundo sem que as vitórias militares sejam acompanhadas do progresso social, da ocupação económica, da expansão do ensino, enfim, do aportuguesamento de todo o território.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois queremos antecipar-nos afirmando que não desconhecemos tais sacrifícios, que do fundo do coração estamos reconhecidos a todos os que se batem, de cá e de lá. Que temos a maior admiração pelo nosso exército e, evidentemente, por todos aqueles que de algum modo colaboram na defesa do País.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Roboredo e Silva: - Eu desejaria, o que suponho estar no seu espírito, que onde V. Ex.ª disse que acreditava nos sacrifícios do nosso exército dissesse: «nos sacrifícios das nossas forças armadas».

Muito obrigado.

O Orador: - Tem V. Ex.ª toda a razão, Sr. Deputado Roboredo e Silva, eu penitencio-me e peço desculpa por essa omissão.

De resto, é uma omissão apenas naquilo que escrevi, e não naquilo que sinto dentro do meu coração - envolvo todas as forcas armadas, como é evidente.

Sem elas não estaríamos aqui representando Moçambique, já que Moçambique não seria mais território português.

Não temos a veleidade de admitir, por um segundo sequer, que poderia Moçambique resistir por si só à guerra que enfrentamos, e também não aceitávamos, nem