apenas crescia a, urze, o tojo e a carqueja, a servir de apoio a uma débil economia pecuária de índole pastoril.

Porém, a tenacidade para a qual não há obstáculos, o espírito de sacrifício que não conhece limites, uma sadia emulação que não permite desequilíbrios económicos e que são as virtudes e a riqueza principal das gentes de Mortágua, haviam de fazer o milagre.

E sem ajudas oficiais de qualquer ordem, nem técnicas nem financeiras, apenas contando consigo próprios, recorrendo ao crédito particular, tantas vezes gravoso, quando a ordem que veio de cima foi a de reconversão dos terrenos incultos em floresta, a determinação foi cumprida.

E ali cresce hoje, ocupando 95 por cento da área do concelho, a zona florestal mais densa e talvez mais racional da Beira interior.

Nisso, o Estado não investiu um tostão e também não o consentiram as orgulhosas gentes de Mortágua que ali se viesse instalar, para o efeito, capital estranho.

For via disso, por virtude de uma utilizarão quase total e racional dos solos e ainda porque nele existem algumas dos unidades industriais mais representativos do distrito, de iniciativa dos suas gentes, é este o concelho que apresenta os melhores índices de crescimento daquela região, com distorções positivas nalguns deles, muito para cima dos médias regionais.

Mas, Sr. Presidente, a este esforço do sector privado, direi melhor, a esta determinação das gentes de Mortágua em investir na sua terra com suor e amor não tem correspondido uma acção equivalente do sector público.

E o panorama é simplesmente desolador no que toca à viação rural.

Bastará atentar em que, de cerca de 90 km previstos de estradas e caminhos municipais classificados, apenas se encontram concluídos 18 km, ou seja somente 20 por cento do total.

Deste modo, são em número de 22, incluindo duas sedes de freguesia, as povoações com mais de 100 habitantes que não têm qualquer acesso.

Ali não vão os veículos motorizados normais. Só a pé, em carros de bois e, ultimamente, de acesso.

Quem, por dever de ofício, tenha de percorrer com frequência o concelho, como é o caso dos médicos, há-de prevenir-se, para o exercício da profissão, do veículo adequado, que não é de modo nenhum o automóvel vulgar.

Ainda há relativamente pouco tempo, para proceder à inauguração da luz eléctrica num numeroso grupo de povoações, ali se deslocaram várias entidades oficiais.

Pois durou um dia essa caminhada pelas falidas da serra do Bucaço, e o único transporte que foi possível utilizar em todos os percursos foi o Land Rower.

Mas não é apenas a comodidade dos povos que está em cousa. É também a própria economia do concelho.

Como há pouco referi, domina ali a floresta - pinho e eucalipto.

Ora, a falto de acessos determina, por um lodo, que o transporte onera demasiado o seu custo, em prejuízo do produtor, e, por outro, que os subprodutos do corte e do desbaste ficam totalmente desaproveitados e a apodrecer nas motas, visto o seu preço não compensar a careza do transpor-te em tais condições.

E, assim, perdem-se anualmente em Mortágua alguns milhares de cantos.

Ao trazer à Assembleia este quadro sombrio de um concelho que não o merece, não pretendo avexar seja quem for.

Sei que os sucessivos responsáveis pela administração local puseram na solução deste magno problema o melhor empenho.

Conheço também o espírito de missão com que agiram aqueles a quem, em qualquer grau hierárquico, compete, adentro dos serviços do Estado, promover a obtenção dos meios necessários a sua resolução.

Creio, antes, que para a situação descrita contribuíram vários factores, cujo efeito «negativo talvez não tenha sido ponderado.

Para um deles contribui, ao mesmo tempo, a constituição argilosa do solo, a natureza acidentada do terreno e a existência de vários cursos de água a vencer, o que determina custos avultadíssimos, em relação à média dos custos da região, para idênticas obras.

Outro factor é a morosidade com que têm decorrido os estudos para a abertura

dentro do concelho da estrada nacional m.0 334-1.

Basta notar que tal estrada condiciona a abertura de seis caminhos municipais classificados e, por via deles, o acesso a quinze povoações.

Mas não interessa avaliar os causas.

O que aqui me trouxe foi a necessidade de apontar o facto, para obter o remédio.

E faço-o cheio de esperança. O Sr. Ministro das Obras Públicas, pelo dinamismo que imprime às acções do seu Ministério, pelo carinho que põe na solução dos problemas instantes, pelo elevado espírito de justiça com que tem procurado corrigir desequilíbrios regionais, dá-me a certeza de que irá procurar pôr cobro a situação tão anómala.

O Sr. Cancella de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Cancella de Abreu: - Sr. Deputado, tenho estado a ouvir com o maior interesse os considerações muito justas que está fazendo u favor dos problemas e da boa gente de Mortágua, que bem o merece.

Referiu o problema das estradas. Há uma estrada que realmente interessa a Mortágua, interessa ao distrito de Viseu e também ao distrito de Aveiro, que é R estrada do serra que irá ligar os dois distritos.

O Orador: - É a estrada n.° 334-l.

O Sr. Cancella de Abreu: - Não me recordava do número da estrada.

Sei, da parte do Sr. Ministro das Obras Públicas, que há o maior interesse na sua conclusão, pois essa estrada muito irá beneficiar os proprietários dias florestas dessa região, no encaminhamento dos produtos para Cacia e mesmo para o porto de Aveiro.

Apesar de saber que o Sr. Ministro dos Obras Públicas está muito interessado no problema, que prometeu resolver dentro em breve, queria lançar daqui um apelo nesse sentido a essa entidade do Governo tão animosa, sempre cheia de boa vontade de servir, como é o Sr. Ministro das Obras Públicas.

Yozes: - Muito bem!

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado.

Era precisamente focando esse ponto que eu me encontrava nas minhas considerações.

Manifestava a minha esperança, no dinamismo do Sr. Ministro das Obras Públicas, e um dos factores que