O Sr. Cotia Dias: - V. Ex.ª estaria a referir-se a Universidades e teria dito inclusivamente que uno se limitariam os outros centros de estudos superiores a essas faixas costeiras.

Mas eu julgo que não exagero na interpretação do sentido do que V. Ex.ª disse, e até do que V. Ex.ª não disse, mas no que está nas entrelinhas do que se ouviu . . .

O Orador: - E V. Ex.ª quem lê nas entrelinhas ...

U Sr. Cotta Dias: - Eu terei de ler por vezes nas entrelinhas ... de V. Ex.ª

O Orador:- - É bom, é bom ler ...

O Sr. Cotta Dias: - Lendo uns entrelinhas de V. Ex.ª eu terei chegado & conclusão de que estiava a inculcar conclusões sobre a localização de centros universitários. Foi só contra isso que eu me insurgi.

O Orador: - Isso, Sr. Deputado, não está nas entrelinhas, está claramente expresso nas minha palavras.

O Sr. Cotta Dias: - Se está explícito, então ainda tenho mais razão em me insurgir.

O Orador: - Não, Sr. Deputado, porque V. Ex.ª está a fazer uma pequena confusão. Isso não está nas entrelinhas. Está bastante explícito, como já disse.

O Sr. Cotta Dias: - Insisto em que então ainda tenho mais razão para disser o que disse . . .

O Orador: - Não, Sr. Deputado, porque V. Ex.ª continua a fazer uma pequena confusão . . .

O Sr. Duarte Amaral: - Se está explícito, eu queria só que ficasse mais explicado . . .

Quando V. Ex.ª fala da orla marítima de Setúbal até Braga, fala - aliás de acordo com a declaração já feita aqui - da orla marítima, ido distrito de Setúbal até ao distrito de Braga, não é verdade?

O Orador: - É assim.

O Sr. Duarte Amaral: - Obrigado. (Risos.)

O Orador: - Abrangendo a região de Guimarães . . . (Risos.)

O Sr. Leal de Oliveira: - E, perante essa concessão, o Algarve, visto que estai na orla marítima . . .

O Sr. Albino dos Reis: - E Aveiro também . . .

O Sr. Cotta Dias: - V. Ex.ª permite-me! mais uma interrupção?

O Orador: - Ainda, não respondi a todas as observações, e queria responder . . .

O Orador: - Tenha a bondade.

O Sr. Cotta Dias: - «As Universidades não se pedem: merecem-se».

Saindo disso, o que nós estamos a ver é a confusão que nos espíritos podem lançar as argumentações e as tomadas de posição do género daquela que eu me senti na necessidade de criticar . . .

O Orador: - Muito bem, Sr. Deputado. Não sabia que V. Ex.ª era da região de Évora, não aplico no caso as palavras do Sr. Ministro e digo: E preciso que Évora mereça a Universidade.

O Sr. Costa Dias: - Não disse outra coisa, Sr. Deputado . . .

O Orador: - É isso mesmo. Se a merecer, tê-la-á.

O Sr. Jorge Correia: - V. Ex.ª dá-me licença também? O Orador: - Tenha a bondade.

O Sr. Jorge Correia: - Segundo me parece, V. Ex.ª acabou por localizar as Faculdades em Lisboa e no Porto.

Como algarvio, sinto-me bastante penalizado porque não as localizou em Faro ...

O Orador: - JÁ lá vou, já lá vou . . .

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Miller Guerra: Mais uma vez tenho que pediu- a V. Ex.ª o favor de não consentir mais interrupções.

A Mesa está vendo que o tema abordado por V. Ex.ª suscita em muitos Srs. Deputados o desejo de se manifestarem.

A Mesa reservar-lhes-á, com todo o gosto, ocasiões mais adequadas.

O Orador: - Sr. Presidente: Inclinando-me perante as suas determinações, apenas esclarecerei um ponto mais. É o seguinte: uma coisa são Universidades e outra, são institutos, Faculdades ou centros luiversitários, que podem pertencer a uma Universidade, mas não coincidem com a localização da sua sede.

E continuando: a urgência da criação de novas Universidades é coisa evidente e incontroversa. Só elas podem resolver os problemas infindáveis que angustiam as Universidades existentes e estão à beira de as paralisar

O abundamento da agitação estudantil é um falso sintoma de melhoria do estado do ensino. É uma ilusão pensar que as instituições antigas empreendem a sua própria reforma. Como repetidamente se tem dito as Universidades não se auto-reformam. O peso do passado, as estruturas encanecidas, os hábitos, o aumento asfixiante dos estudantes, hegemonia do catedrático, senhor e proprietário. Anulam as iniciativas modernizadoras.

Fecho as minhas reflexões citando um trecho recente do Prof. da Universidade de Coimbra José Sebastião da Silva Dias respeitante à reforma decretada, em 28 de Agosto de 1772, pelo marquês de Pombal: «Não podiam manter-se por mais tempo - diz o ilustrado professor - as constelações filosóficas e científicas, os ideais e processos pedagógicos, o sentido histórico, que o seiscentismo instalara na Universidade que Deus haja; com algures nos documentos pombalinos se chamou à valetudinária e decadente instituição Coimbra.