O Orador: - E dentro de todo este contexto que temos de ver a viagem do Presidente dos Estados Unidos a Pequim. Inconcebível há meia dúzia de anos, tornou-se agora possível porque as preocupações ideológicas foram abandonadas em favor dos supremos interesses nacionais, suceda o que suceder a amigos e aliados. E este novo ângulo de visão é tão válido para os Estados Unidos como para a China; esta também não se acanhou de receber o representante mais qualificado do odiado sistema capitalista e que, para mais, levava consigo de algum, modo ia representação de todo o detestado Ocidente. E é no mesmo quadro que temos de encarar a próxima viagem do Sr. Nixon a Moscovo. 35 ainda na mesma moldura que se haverão de situar grandes acontecimentos políticos a desenrolar no ano em curso: as eleições italianas, a ratificação ou rejeição dos tratados da República Federal Alemã com Moscovo e Varsóvia, a eleição do Presidente dos Estados Unidos. Mais distante, mas de importância, capital, acrescentarei a Conferência para a Segurança Europeia. Esta, quando e se se realizar, constituirá um dos mais importantes acontecimentos políticos do Mundo. Porque a um tempo implica em si mesma várias consequências: será a liquidação formal das Nações Unidas, uma vez que estas, se eficazes, tornariam des- necessária qualquer conferência de segurança regional; será a formulação de um estatuto político e jurídico dos relações entre os países que contam no Mundo, visto que abrangerá praticamente todo o hemisfério norte; será uma nova regulamentação do equilíbrio mundial, não em torno de fórmulas ideológicas, mas na base dos interesses nacionais e dos compromissos realistas nos planos estratégico, económico, militar, político e do acesso a mercados e a matérias-primas; será o afrontamento da tese continental europeia, como pretenderão uma Alemanha ou uma Rússia, e da tese de uma Europa mundial, como pretenderão uma Inglaterra ou uma França; será finalmente a redelimitação planetária de esferas de influência dos novos impérios e das grandes potências. Por tudo isto eu diria, Sr. Presidente, que. estamos nos umbrais de uma situação semelhante á que no Mundo marcou o Congresso de Viena. Se a negociação for conduzida com espírito realista, eminentemente pragmático, e se for feita com bom senso e sentido de equilíbrio dos poderes a nova redelimitação mundial, então poderemos ter paz, não definitiva, mas para longo prazo. No caso contrário, momentos sombrios poderão esperar-nos a todos.

Dentro deste quadro, que deixo apenas mal esboçado, que será de anotar como de maior interesse para Portugal.

Ponho de parte, antes de mais, as atitudes de alguns pequenos países, sem peso nem projecção, que ainda se declaram hostis a Portugal.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - Tenho em mente, neste posso, os casos da Dinamarca e da Noruega, que se propõem auxiliar os terroristas amtiportugueses. Há que dizer aos seus Governos, em primeiro lugar, que tais auxílios não nos preocupam, não nos incomodam. e são irrelevantes, salvo no que revelam de degradação de algumas sociedades ocidentais, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... e todos sabemos que a atitude dos seus governantes actuais é somente determinada por necessidades demagógicas de política interna, além do desejo de comprar matérias-primas a baixo preço e de conquistar mercados.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E todas sabemos também quanto a Noruega e a Dinamarca são povos intolerantes, cuja característica fundamental nesta matéria é o racismo cego e odioso.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E, por isso, não ficará mal que nesta Assembleia se diga, com clareza, que a Noruega e a Dinamarca são dois países que por si nada podem contra nós e que os seus Governos estão absolutamente equivocados se julgam que alguém no Mundo se importa com o que pensam ou deixam de pensar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E não nos preocupemos mais com o que fazem ou dizem e não nos perturbemos: porque em nada nos podem afectar. E ponho também de parte a reunião recente do Conselho de Segurança em Adis-Abeba. Foi uma sessão de propaganda descarnada, sem dignidade nem seriedade, e mais uma vez, fiel à sua rotina degradante, agiu o Conselho em perfeita ilegalidade. Também é irrelevante o que, decidam em Adis-Abeba, capital de um país em que a escravatura é instituição oficializada, ou em Nova Iorque, sede de uma organização que pertence ao passado. E felicitemos o Governo pela rejeição total e categórica da resolução antiportuguesa do Conselho de Segurança, e que constitui simples cópia das muitas que tem votado, e felicitemos o Ministro dos Negócios Estrangeiros pela firmeza e clareza da exposição que sobre o assunto oportunamente fez ao País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E ponho, finalmente, de parte a pretensão insólita do Comité da O. N. U. que, clandestinamente e a ocultas do Governo de Portugal, quis visitar territórios portugueses, procedendo os seus membros como vulgares infractores à lei. Se faço referência a este desmando da O. N. U., é apenas para registar o meu aplauso ao veemente protesto que o Governo apresentou em Nova Iorque, em termos claros e categóricos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -E tão-pouco me deterei numa ideia -a da estranha criação de uma Lusitânia interior- lançada há pouco por um jornal estrangeiro: bastará que nós a consideremos uma fantasia a esquecer para que o jornal assim a tenha de considerar também.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas tudo isto é sem importância. No quadro geral que há pouco delineei, os problemas são inteiramente outros para Portugal.