Dada a viragem fundamental da grande política do mundo, e neste regresso nítido aos valores e às raízes de cada nação, afirma-se com evidência crescente a identidade dos interesses vitais de Portugal e com os das maiores potências do Ocidente. E a defesa do Atlântico Norte, é a defesa do Atlântico Sul, ó a defesa do indico e da rota do Cabo, é finalmente a defesa de toda a imensa África austral: e tudo isto empresta a Portugal vasta dimensão política: e nenhum daqueles problemas se pode resolver sem a nossa voz.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois, sr. Presidente, temos por nós o factor tempo. Sempre pareceu claro que este corria a nosso favor; mas a viragem que tenho sublinhado vem acelerar, em termos políticos, aquela velocidade; e eu atrever-me-ia a dizer que não estarão longe os dias em que os nossos críticos ou os nossos adversários de ontem nos agradeçam a política por nós seguida - e talvez mesmo o fincam os Dinamarqueses e Noruegueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E talvez também em época alguma da nossa história tanto tenhamos a perder e tanto tenhamos a ganhar. Podemos claramente ganhar, se o quisermos; e como não há alternativa para a vitória, é a vitória o único objectivo a prosseguir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Firmemente implantados na Europa e na África, o único problema que na verdade se nos apresenta é o de sabermos se estamos a altura dos nossos direitos, dos nossos interesses, das nossas responsabilidades. E esse problema é grave, porque pode acuso perturbar-se ou confundir-se a consciência da nação. Alguns indícios, que alias como sempre não provêm do cerne nacional, constituem no entanto motivo de apreensão. E penso que só haverá vantagem em que todos procuremos esclarecer devidamente a ingenuidade ou os objectivos que estão por detrás daqueles indícios. Tornou-se hoje frequente, em alguns círculos ainda restritos, o sentimento ou a convicção de que a ordem natural das coisas impõe no ultramar uma determinada evolução, e só essa. Mas tem de se afirmar, com vigor e clareza, que nesta matéria não há ordem natural das coisas. A história, e portanto toda a evolução é determinada pela realidade dos interesses e pela firme vontade dos homens.

O Sr. Pinto Castelo Branco: - Muito bem!

O Orador: - E se nos entregarmos a uma suposta ordem natural, que seja contrária aos interesses de todos os portugueses, é porque deixaremos actuar a ordem natural de outros, é porque estaremos a evoluir como outros querem e não como nós queremos, e então já faleceu a nossa vontade, e esta sucumbiu perante uma vontade mais forte dos adversados.

O Sr. Duarte do Amaral: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Porque, com efeito, a Rodésia só foi viável mercê de circunstâncias e apoios específicos, que se forem encontrar em sobaranias exteriores e desinteressadas. Mas Angola e Moçambique não teriam esses apoios, e desde logo seriam presa de forças que as subordinariam e dominariam em seu proveito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E por isso temos de afirmar as realidades. Moçambique enquanto será

Moçambique enquanto for Portugal;...

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - ... e no dia em que assim não for, logo o território será retalhado por indefeso ante reivindicações de vizinhos que não encontrarão oposição de ninguém.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Angola apenas será Angola enquanto for Portugal; e no diu em que assim não for, a sua amputação é inevitável ao Sul e a Leste e a sua economia e progresso seriam pivralisados, salvo'nos sectores em que servissem terceiros, sem servir Angola.

O Sr. Nogueira Rodrigues: - Muito bem!

O Orador: - E não se diga que tudo isto poderá bem ser assim, mas que o cuso não importa aos interesses fundamentais da metrópole. Os que assim pensam, como o sabem? Que provas têm pana o afirmar? Que garantias nos podem ilnr? Desde os primeiros reis, sempre neste País se pensou o contrário; e não á plausível que o País esteja em eiró há centenas e centenas de anos; e como os tempos não suo novos, nem nada mudou neste particular, que motivos se podem apresentar pana tentar uma experiência nunda tentada? Estamos na verdnde em face do que chamarei a. experiência impossível: porque se se verificassem ser funestos os resultados, não seria viável voltar atrás. Pensemos, por isso, que as atitudes que definirmos na matéria afecteun-nos a todos, e sito definitivos, e sem regresso nem recuperação. E também ouvimos dizer, por vezes, que deixou de ser legítimo o combate, e isto equivale a dizer que deixou de ser legítima ti Noção Portuguesa tal como constituída secularmente. Isto significa, para aqueles que assim pensa, que deixaram de haver por legítimos os nossos interesses e os nossos princípios, aceitando os de terceiros, e esquecendo-se de que, para nós, os nossos interesses e os nossos princípios têm prioridade absoluta sobre os de todos os demais. E por isso não clfibe importar-nos com ws críticas, com as incompreensões, e com alguns artigos da imprensa internacional - como foi o caso recente de alguns periódicos franceses-, em que a deturpação dos factos tenho razões para (afirmar que se juntou n falsidade de declarações que não foram feitas.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!