O Orador: - Aliás, muitas vezes uma critica de terceiros, com interesses opostos aos nossos, é uma garantia de que estamos a praticar a nossa própria política: porque basta ver de que lado nos vêm os aplausos para sabermos que orientação realmente prosseguimos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Invoquei alguns problemas da muita amplitude, Sr. Presidente e Srs. Deputados, e cuja grandeza e complexidade são decerto reconhecidas por todos. Mas aqueles problemas traduzem por outro lado uma conjuntura actual que julgo extremamente favorável aos nossos interesses e aos nossos objectivos, aqui e em África. Por isso não é sem infinita mágoa e preocupação que escuto palavras de desânimo e que assisto a manifestação, na metrópole e nas províncias de África, daqueles indícios a que aludi há pouco. Podem alguns estar descontentes, ou querer formular críticas, ou desejar fazer sugestões. Mas nem por isso deveremos ser descrentes, nem duvidar do povo português, nem hesitar do nossos objectivos, nem vacilar na firmeza das nossas convicções. Por vezes, Sr. Presidente, tenho a sensação de que alguns de nós, sem olhar ao preço nem ao futuro, apenas se querem libertar de problemas, e evitar riscos, e que as certezas íntimas que deviam ser inabaláveis apenas contrapõem interrogações e dúvidas. Ora nós temos de assentar no que seja o facto nacional e este é a Nação constituída secularmente aquém e além-mar- e o facto nacional, se quisermos que se não destrua, tem de deixar de ser passível de discussão.

Já se sabe que se alega ser por alto civismo, e como contributo ao esclarecimento dos Portugueses, que tudo se pretende debater, mas o esclarecimento tem o sabor de uma doutrinação unilateral e sistemática. Já se sabe que não devemos ter medo dos palavras, mas esta afirmação apenas parece válida para os que exprimam ou permitam certas orientações, porque outros palavras causam um verdadeiro pavor nos mesmos que nos dizem para não sentirmos receios. Já se sabe que precisamos de ser actualizados, e nisso decerto estamos todos de acordo, mas há uma coincidência estranha entre a actualização que se nos propõe e aquilo que terceiros pretendem ou de que nos pretendem convencer.

Não podemos pôr em causa o País em cada vinte e quatro horas; e não podemos ter certezas que sejam abaladas porque nos deixamos impressionar com um pormenor, ou nos deixamos sugestionar por um facto acidental que parece contrariá-las, ou porque temos a impressão de que o Mundo vai noutro sentido. Temos o nosso caminho: sigamo-lo, aconteça o que acontecer e digam os outros o que disserem. Porque, senão vedado a um povo partir de ideias suicidas ou atribuir-se como missão nacional um objectivo que o diminua ou altere a sua fisionomia histórica, nem como hipótese de trabalho deveremos admitir alternativas para a vitória; e isso porque admitir sequer tal hipótese representa desde logo um enfraquecimento psicológico, um princípio de descrença, uma dispersão de energias, uma velocidade na admissão moral da mesma hipótese.

No contexto destes sentimentos e destas ideias, no contexto destes problemas cuja importância e dificuldade ninguém refutará, julgo que se devem ter por secundárias algumas preocupações que vejo frequentemente invocadas nesta casa e que, se lícitas noutros momentos, não se afigura que o sejam no quadro em que temos de rios mover. Decerto nós todos reivindicamos a liberdade e as liberdades, e exigimos o seu respeito. Mas se fizermos fé em algumas vozes dir-se-ia que por liberdade se entende

apenas a liberdade de expressão sem restrições, e que esta, para alguns, seria prioritária e condicionaria tudo na vida deste país, desde o seu progresso económico alta ao bem comum. Ora a verdade é que as liberdades, para poderem ser usufruídas, têm de ser condicionadas, e têm por outro lado que se adaptar à fisionomia de cada nação, e subordinar-se aos valores fundamentais, e ter em conta as necessidades do momento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso eu direi que talvez mais importantes do que a liberdade de expressão serão hoje o direito ao trabalho, o direito á saúde, o direito a educação, e acima de tudo o direito da sociedade á sua defesa interna e externa.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E todos estes problemas e todas estas sugestões são discutidas e apresentadas como se fossem fundamentais, como se constituíssem a própria essência da problemática nacional, como se a comunidade portuguesa estivesse preocupada e suspensa da solução que alguns preconizam. Mas a verdade é que tudo isso, riu discussão válida noutros momentos, tem de ser havido por secundário e marginal quando está em causa o que está em causa.

E o que está em causa, Sr. Presidente, é bem simples, mas é muito. Está em causa saber se temos uma firme vontade colectiva, ou se é superior a nossa a vontade dos adversários. Está em causa saber se nos deixamos impressionar e se tomamos como verdades e como expressão da ordem natural das coisas o que não passa de mito transitório. Recordemos as palavras de Norton de Matos: «Se alguém passar ao vosso lado e vos segredar palavras de desânimo, procurando convencer-vos de que n Só podemos manter tão grande império, expulsai-o do convívio da Nação.» Recordemos estas outras palavras de António Enes: «Pois que ainda somos portugueses, aproveitemos o único recurso que ainda resta a Portugal para continuar a ser Portugal.» E eu só acrescentarei: ainda somos e seremos portugueses; e esse recurso, se é único, é também de um poder sem igual. E por último direi que o que está verdadeiramente em causa é o problema de saber-se os portugueses de hoje, era particular os portugueses; mais novos, estão dispostos a assumir a responsabilidade de serem os primeiros, na história de Portugal, a destruir, a negar, a trair tudo quanto quiseram, fizeram e pensaram todas as gerações passadas - sem excepção.

Vozes: - Muito bem, muito bem!